quinta-feira, 10 de maio de 2018

Nº 24.095 - "Celso Amorim: Fim do acordo EUA-Irã faz mundo amanhecer mais perigoso"

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10/05/2018


Celso Amorim: Fim do acordo EUA-Irã faz mundo amanhecer mais perigoso


Do Nocaute - 10 de Maio de 20182



Por Celso Amorim

Resultado de imagem para celso amorimHoje o mundo amanheceu mais perigoso. Porque ontem o presidente dos Estados Unidos, a nação mais poderosa do mundo, anunciou a sua retirada do acordo, tem um nome complicado, programa de ação conjunta global etc, mas que na realidade era o acordo sobre o programa nuclear iraniano.

Era um acordo que envolvia, do lado das grandes potências, seis país. Cinco membros permanentes do Conselho de Segurança: Estados Unidos, Rússia, China, França, Inglaterra e mais a Alemanha de um lado, e o Irã de outro. E por esse acordo muitas sanções que vinham sendo impostas ao Irã antes foram suspensas, e por outro lado o Irã assumiu compromissos importantes em matéria de fiscalização do seu programa nuclear para garantir que ele não seja desviado para fins militares.

É interessante notar, do ponto de vista brasileiro, porque nós juntamente com a Turquia atuamos de uma maneira muito forte nesse campo e conseguimos na época um acordo que seguia, mais ou menos, as diretrizes que haviam sido propostas pelos EUA, mas na última hora os EUA mudaram de ideia e não aprovaram nosso acordo. Mas como dizia o György Lukács citando Hegel, “o erro é o momento da verdade”, então o nosso acordo que não foi aceito serviu de inspiração para que cinco anos depois houvesse esse acordo desse grupo de países conhecido como P5+1. É um acordo importante, porque é um acordo que ao mesmo tempo garante a possibilidade do Irã ter energia nuclear, inclusive enriquecimento para fins pacíficos, e por outro lado também dava garantia suficiente para o resto da comunidade internacional de que essa energia nuclear não iria ser usada para fins militares.

Por que o Trump denunciou isso? Eu acho que há dois ou três aspectos que devem ser ressaltados.

Primeiro: a pressão de Israel, o atual primeiro-ministro de Israel sempre foi contra o acordo e já produziu vários discursos com ilustrações sobre como o Irã está próximo de ter uma bomba e que isso é uma ameaça existencial para Israel, então sempre teve essa pressão; e como o presidente Trump age muito sobre pressão de grupos específicos, sem que tenha uma coerência numa visão de mundo, ao mesmo tempo em que ele começa a ter um diálogo de negociação com a Coréia do Norte, adota essa atitude com o Irã.

E aí entra a segunda razão: os EUA e sobretudo aquilo que eles chamam de governo oculto, que inclui a CIA, NSA, o Pentágono têm a necessidade de ter um inimigo. E até na medida em que a Coréia do Norte se torna um interlocutor menos imediatamente ameaçador, pelo menos essa é a aparência depois das conversas entre as Coréias, o inimigo eleito se torna o Irã. Já vinha tendo essa pressão por parte de Israel e que agora coloca o Oriente Médio em grande perigo. Aliás o ministro do Exterior francês disse que “o Oriente Médio merecia algo melhor”, porque de fato coloca em risco. E por que coloca em risco? Coloca em risco porque o Irã é um interlocutor indispensável. Não há a possibilidade de haver um acordo sobre a Síria, que já sofreu tanto, sem que o Irã participe. Isso não é uma questão de gostar ou não gostar, é um fato real. Se houver um acordo sem o Irã, ele irá agir contra. Um dos países que tem força para dizer pro governo sírio ou para certas forças na Síria como se comportar de determinada maneira é o Irã. Então esse é o segundo aspecto, da necessidade de ter um inimigo.


E o terceiro aspecto que tem de ser destacado, algo que surpreende para quem faz uma análise histórica dos EUA, é que isso tudo se encaixa numa atitude norte-americana que é nova, não necessariamente boa, que é a atitude de desconhecer as normas internacionais. Veja bem, grande parte dessas normas internacionais foram criadas pelos próprios EUA. Ele foi o líder dessas normas no final da segunda guerra mundial, a ONU, o GATE, que resultou na OMC. E ao mesmo tempo que ele está tomando uma atitude totalmente unilateral, belicosa em relação ao Irã, ele está também agindo unilateralmente na área comercial, questão que afeta muitos países inclusive o Brasil, mas principalmente a China. Uma verdadeira guerra comercial, criticada inclusive por jornais como Financial Times, pela Economist, analistas que não têm nenhuma razão para serem críticos aos EUA.

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