terça-feira, 18 de março de 2014

Contraponto 13.551 - "LEITURAS DE ‘VEJA’ - Novo surto de vale-tudo

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18/03/2014 

 

LEITURAS DE ‘VEJA’

 Novo surto de vale-tudo

Observatório da Imprensa - 18/03/2014 na edição 790

Por Alberto Dines

Na tarde de 12 de abril de 2011, em aula da primeira edição do Curso de Pós-Graduação em Jornalismo, da ESPM-SP, Eurípedes Alcântara, diretor de Redação da Veja, na condição de professor-convidado, declarou, para espanto dos 35 alunos presentes: “Tratamos o governo Lula como um governo de exceção”. Na capa da última edição do semanário (nº 2365, de 19/3/2014), o jornalista ofereceu trepidante exemplo da sua doutrina.

Para comprovar a ilegalidade das regalias que gozaria o ex-ministro José Dirceu no Complexo da Papuda, Veja cometeu ilegalidade ainda maior.

Detentos não podem ser fotografados ou constrangidos, o ato configura abuso de poder, invasão da privacidade e, principalmente, um torpe atentado ao pudor e à ética jornalística. Um bom advogado poderia até incriminar os responsáveis por formação de quadrilha ao confirmar-se que o autor da peça (o editor Rodrigo Rangel) não entrou na penitenciária e que alguém pagou uma boa grana aos funcionários pelas fotos e as, digamos, “informações”.

“Exclusivo – José Dirceu, a Vida na Cadeia” não é reportagem, é pura cascata: altas doses de rancor combinadas a igual quantidade de velhacaria em oito páginas artificialmente esticadas e marombadas. As duas únicas fotos de Dirceu (na capa e na abertura), feitas certamente com microcâmera, não comprovam regalia alguma.

Ao contrário: magro, rosto vincado, fortes olheiras, cabelo aparado, de branco como exige o regulamento carcerário, não parece um privilegiado. Se as picanhas, peixadas e hambúrgueres do McDonald’s supostamente servidos ao detento foram reais, Dirceu estaria reluzente, redondo, corado.
Um preso em regime semiaberto pode frequentar a biblioteca do presídio, não há crime algum.

Agentes provocadores

A grande imprensa desta vez não deu cobertura ao semanário como era habitual. Constrangido, o Estado de S.Paulo foi na direção contrária e já no domingo (16/3) relatava, com chamada na primeira página, as providências das autoridades brasilienses para descobrir os cúmplices do vazamento (ver “Dirceu teria mais regalias na cadeia; DF nega“). Na segunda-feira, na Folha de S.Paulo, Ricardo Melo lavou a alma dos jornalistas que repudiam este jornalismo marrom-escuro (ver “O linchamento de José Dirceu”).

O objetivo da cascata não era linchar Dirceu, o que se pretendia era acirrar os ânimos, insuflar indignações contra uma suposta impunidade, alimentar a agenda dos black-blocks (ou green-blocks?).

Os agitadores e agentes provocadores estão excitadíssimos às vésperas dos 50 anos do golpe militar.

O violento quebra-quebra na sexta-feira (14/3), na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) – o maior do gênero na América Latina – não foi provocado pelos caminhoneiros que passariam a pagar pelo estacionamento. Foi obra de profissionais do ramo da agitação política com a inestimável ajuda da PM, que demorou três horas para chegar ao campo de batalha.

As convocações para atos e passeatas destinadas a homenagear o golpe de 1964 não falam na derrubada de Jango, falam em derrotar o PT. Convém lembrar que a rede Ceagesp é, desde 1997, federalizada, ligada ao Ministério da Agricultura.

Num governo de exceção vale tudo. Também no jornalismo de exceção.

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Depois de três edições e três turmas de valentes profissionais, o Curso de Pós-Graduação em Jornalismo com Ênfase em Direção Editorial, parceria da Editora Abril com a ESPM, foi suspenso.

 Na véspera do primeiro aniversário da morte de Roberto Civita, está desativada uma de suas mais lindas façanhas no campo da formação profissional. Não merecia.
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