segunda-feira, 10 de junho de 2013

Contraponto 11.433 - "Frias usa enquete dirigida pelo fim do Bolsa Família"

247 – Relatório da Controladoria Geral da União apontou problemas na distribuição do programa bolsa família em todos os 58 municípios sorteados para checagem aleatória, com cerca de 5 mil casos de recebimento indevido. O programa atinge cerca de 13 milhões de famílias, mais de 50 milhões de pessoas, entre adultos e crianças. Apurou-se o recebimento irregular do benefício pago pelo governo federal a famílias carentes, com renda mensal per capita igual ou inferior a meio salário mínimo, pela mulher de um vereador em São Francisco de Assis, no Piauí, por pessoas mortas em 2011 ganhando até o final de 2012, em Xexéu, Pernambuco, e por mais de 1,2 mil pessoas com ganhos acima de um salário mínimo em Belfort Roxo, no Rio. Um quadro de fraudes traçado por um organismo de fiscalização que, em tese, servirá ao governo como uma mapa para as apurações, correções e punições necessárias. A complexa arquitetura da distribuição do Bolsa Família envolve todas as esferas do poder público, da União passando aos Estados e municípios.

Da constatação de problemas até usar um subterfúgio para defender o fim do maior programa social do mundo, entretanto, vai uma distância quilométrica. Ao alcance de um clique, o portal Uol, da família Frias, está procurando um atalho para esse percurso. Foi aberta ao lado do texto com as mazelas encontradas pela CGU uma janela para uma enquete de enfoque bastante dirigido.

 Entre as três alternativas disponíveis ao internauta, o Uol só permite um raciocínio do tipo erradicar de uma vez ou manter como está o Bolsa Família. Não existe a alternativa de se apoiar, a partir do relatório oficial, um saneamento do programa que desperta orgulho e segurança no governo e cobiça e críticas na oposição. A terceira chance para participar da enquete dos Frias é a de o leitor informar que não tem condições de fazer seu próprio julgamento a respeito.

Emoldurada pelas informações de desvios no Bolsa Família, sem nenhuma história ou personagem que esteja recebendo corretamente os benefícios – a imensa maioria dos beneficiários, a julgar pelo corte estatístico proporcionado pela fiscalização aleatória da CGU --, a enquete não poderia mesmo trazer resultados diferentes de um massacre sobre o programa. Às 20h07, o placar de respostas para a pergunta O Programa Bolsa Família Deveria Acabar? era de 77,11% para a primeira opção de click: "Sim, o Bolsa Família é um programa assistencialista que não promove o desenvolvimento". No segundo botão, 20,94% – "Não, o Bolsa Família é um programa de inclusão social que beneficia as classes menos favorecidas". E 1,95% para o que o Uol deve julgar como nenhuma das alternativas: "Não sei, não tenho opinião formada sobre o assunto".

Três semanas atrás, estudo oficial mostrou a diminuição de 20% na mortalidade infantil no País, numa trajetória decrescente de cinco anos, em razão direta da melhor nutrição proporcionada às famílias carentes pelos recursos repassados pelo Bolsa Família. Naquele momento, associada à informação visual real de milhares de crianças salvas da desnutrição e da morte pelo programa, uma enquete sobre o apoio ao Bolsa Família teria iguais chances de obter uma grande maioria de respostas afirmativas. Não ocorreu àquela altura ao Uol da família Frias abordar os internautas. 

Num cenário ruim, ao contrário, imediatamente o quiz político foi ao ar. Os números de agora só podem ser vistos como resultado de uma manobra editorial grosseira para sustentar uma posição político-familiar contrária ao Bolsa Família. Defendendo abertamente o fim do programa que desagrada sua direção, o Uol teria sido mais honesto do que na passagem de um verniz de ratificação tão gasto como uma enquete dirigida.
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