segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Contraponto 18.473 - "Aécio joga Temer e Cunha ao mar? Ou foi o impeachment que naufragou?"

 

21/12/2015

 

Aécio joga Temer e Cunha ao mar? Ou foi o impeachment que naufragou?

 

sinatra

A entrevista de Aécio Neves na Folha, hoje, apesar de recheada de insinceridades – o único momento totalmente veraz é aquele em que o tucano diz que Eduardo Cunha tornou-se “uma pedra no caminho” do impeachment, como a imundície do autor emporcalha a obra ante o público – traz muitos elementos a considerar.

O primeiro deles a frase que se tornou título: “Para Aécio, Temer foi parceiro da gestão que fez o Brasil voltar 20 anos”.

Foi dita fora do corpo principal da resposta e como antessala do que disse antes e diria a seguir: que sua aposta é numa vacância dupla de poder, que possibilite novas eleições e, claro, a ele a oportunidade de ser o “eleito”.

Separei, e grifo, o que deixa isso claro em sua entrevista:

O sr. fala do impeachment, mas ressalta a possibilidade de cassação no TSE. Essa instabilidade não é sacrificante?
Sacrificante é não se cumprir a lei. Esse é o pior dos desfechos. O julgamento do Supremo que estabeleceu o rito do impeachment jogou por terra o discurso do golpismo. Não há golpismo com a participação do STF. E as coisas correrão paralelamente. Por isso a preocupação do vice-presidente Michel Temer em tentar descolar sua prestação de contas eleitoral da presidente, o que, ao meu ver, não tem sentido.

A decisão do STF foi vista como uma vitória do governo…
Vitória de Pirro. O essencial não mudou e a presidente continua incapaz de inspirar a confiança mínima que seria necessária para que a roda da economia voltasse a girar e a sangria dos empregos fosse estancada. Além disso, o efeito colateral pode não ser agradável, com as atenções se voltando para o TSE.

O sr. será candidato ao Planalto numa eleição tampão?
O PSDB terá candidato quando as eleições ocorrerem. O que não falta são nomes. O partido vai saber definir na hora certa. É obvio que tanto eu, como o governador [de São Paulo] Geraldo Alckmin, o senador José Serra e outros governadores temos que estar prontos para isso.

Alguns tucanos defendem que, se houver impeachment, o PSDB deve integrar a gestão Temer. O sr. concorda?
Apoiamos o impeachment porque estamos convencidos de que a presidente cometeu crimes que o justificam, mas, acontecendo o afastamento e assumindo o vice, passa a ser dele a responsabilidade de propor um novo projeto. A posição da maioria do partido e a minha é de que não devemos nem sequer pensar em cargos. Não nos negaremos a ajudar o Brasil naquilo que for essencial, mas será muito mais confortável fazermos isso por meio de uma agenda, sem pensar em participar de um governo que não sabemos de que forma se colocará.

Como assim?
O método será o que vigorou na última década, do qual o PMDB foi parceiro? Da distribuição de nacos do poder sem qualquer critério? Não falo de um passado remoto, falo de meses atrás. Com a participação do PMDB, a máquina pública vem sendo degradada, ocupada, assaltada por membros de várias forças partidárias. O PSDB não pode perder a referência que tem hoje e não colocará a sua determinação de construir um novo modelo de país para ocupar cargos. Isso não significa que vamos virar as costas para um eventual governo do vice.

Qual a impressão pessoal que tem de Temer?
O presidente Michel é um homem de bem, cordato, afeito ao entendimento. Mas, até aqui, ele foi um instrumento desse governo que acabou com o Brasil. Ele foi um parceiro permanente e ativo da gestão que fez o Brasil retroceder 20 anos.

Julga que ele terá condições de governar o país?
Se for para manter esse ‘modus operandi’ no qual o PMDB se especializou ao lado do PT nesses últimos anos, terá muitas dificuldades. Tenho respeito pessoal pelo presidente Michel, mas ele terá que demonstrar um rompimento claro com tudo isso para ter o nosso apoio. E tenho uma convicção pessoal: só enxergo o Brasil resgatando sua credibilidade e esperança no momento em que um novo governo for eleito. E, obviamente, essa legitimidade do voto faltará ao presidente Michel.

O que teria dado em Aécio para “jogar ao mar” o homem que, no caso de impeachment, assumiria a presidência e traria o PSDB de volta ao Governo?
Há várias linhas nas quais se pode especular:
  • Aécio, por alguma razão, digamos, desconhecida, aposta na dupla Gilmar Mendes-Dias Tóffoli na ação do TSE que tenta cassar o mandato presidencial e que leve, de cambulhada, Michel Temer, abrindo espaço para novas eleições presidenciais.  E, claro, nelas seria, imagina ele, o candidato natural e inevitável, goela abaixo de Geraldo Alckmin, que ficaria manietado pelo prazo – a eleição teria de ocorrer 90 dias após a vacância dos cargos – de desincompatibilização do cargo de governador, que é de seis meses;
  • Um tanto quanto menos megalômana seria a possibilidade de estar enviando um recado a Temer, advertindo-o que é com ele – ou também com ele – que se devem dar os entendimentos da conspiração e cessarem as promessas feitas a José Serra e Geraldo Alckmin de repartição do botim presidencial;
  • Pode ainda estar contida no depósito de ideias miúdas e ambições que é o cérebro aeciano a ideia de que se inviabilizou o impeachment, porque este – um rito muito mais rápido que poderia ter uma trampa de anulação das eleições (onde, além do TSE, também o STF teria de decidir) – daria ao país um novo quadro de poder que dificilmente as cortes desfariam com uma sentença de cassação dupla. Neste caso, Aécio teria uma “vitória interna” pelo fracasso de seus adversários tucanos na temerária conspiração a que se entregam com o vice.
Possivelmente, as três razões estão presentes nas ideias de Aécio. Ele está convencido de que sua força repousa na possibilidade de o pensamento de direita continuar atuando como matilha, com um discurso udenista que repita, em melhores condições, o quadro eleitoral passado no futuro, inviabilizando qualquer possibilidade menos sanguinária de oposição, como o fez com a “murchação” de Marina Silva na reta final das eleições.

No ano do centenário de nascimento de Frank Sinatra, quem diria, estamos vendo uma obsessiva tradução na política do “Let me Try Again”, mas sem que fossem compreendidos os versos ” agora tudo que faço é apenas existir/E pensar sobre a chance que perdi”…

De todas as formas, a leitura das entrelinhas do que diz Aécio revela a perda de força da possibilidade de impeachment, até porque este, muito menos, se faria sem Eduardo Cunha e seus votos.

Aécio coloca suas fichas no TSE, ficou evidente. E, alternativamente, em seguir sendo o chefe da matilha tucana, legitimado por um “direito de preferência” em ser o candidato em 2018.
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