quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Contraponto 15.856 - "São Paulo vai entrar na '3a. cota' do Cantareira. São as últimas gotas, não há mais"

 .

21/01/2015 

 

São Paulo vai entrar na “3a. cota” do Cantareira. São as últimas gotas, não há mais

 

Tijolaço - 21 de janeiro de 2015 | 11:48 Autor: Fernando Brito 
 
COTA


Fernando Brito


Este blog, há um ano, foi o primeiro a tratar como dramática a situação da água em São Paulo e a dizer que deveriam ser adotadas medidas de prudência, em lugar da simples fé em que viriam chuvas abundantes.

Depois da eleição, vivi a ilusão de que ao cessar a blindagem política a Geraldo Alckmin, a imprensa paulista iria, finalmente, dar -sem trocadilho – profundidade á análise do que está acontecendo com o abastecimento da Grande São Paulo.

Infelizmente não deu e não diz também que, dependendo da chuva do final desta semana, na próxima a Sabesp entrará na terceira cota de volume morto, a lama da lama da lama.

Não porque  já tenha acabado a segunda cota, mas porque as condições de operação deixam o reservatório do Atibainha perto do limite autorizado da segunda cota, com apenas 65 centímetros acima da marca autorizada pela Agência Nacional de Águas.

Um número assustador, porque já é  a entrada no que poderia ser chamado de “beira do zero”, mesmo com bombeamento.

A terceira cota, na faixa de 60 milhões de litros, levará a curva de acumulação do reservatório ao ponto onde ela “despenca” para o nada, como o fundo de um funil.

O Jacareí já foi autorizado a chegar a este ponto onde a acumulação tende ao zero.

Os gráficos do post,confeccionados a partir de dados oficiais e marcando o já pouco que se tinha em 31 de janeiro passado como início,  mostram como é o restinho de água que se vai aproveitar.

Não adianta a “mágica” da Sabesp de dizer que restam “tantos por cento” do volume do Cantareira, um número que subitamente cresce com a incorporação da água de fundo.

O volume da estatística sobe, mas a água desce, implacavelmente.

Desde fevereiro, sem contar os demais reservatórios, São Paulo perdeu cerca de 450 milhões de litros de água em suas reservas – “vivas” (por gravidade) ou “mortas” (por bombeamento) – o mesmo que todo o volume do Lago Paranoá, a imensidão que contorna Brasília.

E continua perdendo.

Entre 31 de outubro e 30 de novembro de 2013, o Cantareira forneceu a São Paulo 50 milhões de litros de água, além da quantidade fornecida pela chuva, convertida em vazão dos rios que o formam, outros 52 milhões de litros. No total, 102 bilhões de litros.

No mesmo período de 2014, só forneceu 36 milhões de litros – 16 milhões das chuvas e 20 milhões das reservas.

Houve, portanto, uma redução de 64% no envio de água proveniente do Cantareira aos consumidores paulistanos.

Parte dele, é claro, foi compensada pela redução de consumo.

Outra, aliviada pelo sobreuso dos reservatórios do Alto Tietê e Guarapiranga.

Como a adição de outros sistemas ao abastecimento são mensuráveis, não haveria dificuldade alguma para que os jornais pudessem dar a dimensão do racionamento a que, na prática, estão submetido os paulistanos.

Quanto é o volume de água ofertado à população diante do que era antes das “restrições hídricas”, que é o nome pelo qual o governador paulista gosta de chamar a falta d’água.

São Paulo está condenada a ficar sem água, salvo por um milagre.

Se, no caso do sistema elétrico, uma sonhada melhora nas chuvas ainda permite esperar por  problemas menores, no caso do abastecimento de água de São Paulo, não é mais sonho, é devota oração.

A terceira cota do “volume morto” é o coma terminal de um sistema que entrou em colapso há quase um ano, que as chuvas (Deus nos ouça!) de verão podem prolongar, mas não vão reverter.

O “não vai faltar água” de Alckmin foi “comprado” pela imprensa paulista e vendido à população.
Por incapacidade, por cumplicidade, por mau-caratismo e tudo o mais que se tornou comum na mídia brasileira.


PS. Não pensem que isso é retórica. A Folha publica, agora à tarde, um gráfico ( veja abaixo) em que o volume de água do Cantareira “sobe” durante o ano de 2014, quando caiu continuamente. É resultado da idiotia de quem edita, que não consegue entender e muito menos transmitir a verdade aos seus leitores. Em lugar de tratar os “volumes mortos” como negativos, “soma” ao percentual anterior. E aí consegue o “milagre” que narrei:  a água diminui, mas o volume “aumenta”. É de ser reprovado na 5a. série. Triste para a minha profissão. Mentiroso para o leitor. 


.
.

Nenhum comentário :

Postar um comentário

Veja aqui o que não aparece no PIG - Partido da Imprensa Golpista