terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Contraponto 15.845 - "Ataques de Paris escancaram a hipocrisia da indignação do Ocidente"

 .
20/01/2015 
  "Ataques de Paris escancaram a hipocrisia da indignação do Ocidente"
Facebook 20/01/2015

Quando interessa ao Ocidente e ao seu gelatinoso conceito de "liberdade", uma sede de televisão pode ser atacada como alvo militar...

Em seu mais recente artigo, Noam Chomsky mais uma vez utiliza uma arma poderosíssima contra as falácias do discurso hegemônico do imperialismo ocidental: a MEMÓRIA. E demonstra o funcionamento do esquecimento intencional e da denegação como estratégias dessa guerra de narrativas que é travada entre NÓS e ELES...

A propósito dos eventos de 7 de janeiro em Paris e da bandeira "I am Charlie", que se hasteou depois, Chomsky faz grandes provocações (com tradução macarrônica minha):

Ataques de Paris escancaram a hipocrisia da indignação do Ocidente

Por Noam Chomsky

Quando interessa ao Ocidente e ao seu gelatinoso conceito de "liberdade", uma sede de televisão pode ser atacada como alvo militar...

Em seu mais recente artigo, Noam Chomsky mais uma vez utiliza uma arma poderosíssima contra as falácias do discurso hegemônico do imperialismo ocidental: a MEMÓRIA. E demonstra o funcionamento do esquecimento intencional e da denegação como estratégias dessa guerra de narrativas que é travada entre NÓS e ELES...

A propósito dos eventos de 7 de janeiro em Paris e da bandeira "I am Charlie", que se hasteou depois, Chomsky faz grandes provocações (com tradução macarrônica minha):

Ataques de Paris escancaram a hipocrisia da indignação do Ocidente

Por Noam Chomsky

Após o ataque terrorista contra o Charlie Hebdo, que matou 12 pessoas, incluindo o editor e quatro outros cartunistas, e pelo assassinato de quatro judeus em um supermercado pouco depois, o primeiro-ministro francês Manuel Valls declarou "uma guerra contra o terrorismo, contra o jihadismo, contra o islã, contra tudo o que visa quebrar a fraternidade, a liberdade, a solidariedade".

Milhões de pessoas se manifestaram na condenação das atrocidades, amplificado por um coro de horror sob a bandeira "Eu sou Charlie". A cena em Paris foi vividamente descrita no New York Times por  Steven Erlanger, veterano correspondente do jornal na Europa.

"Tudo caiu. Era fumaça por toda parte. Foi terrível. As pessoas estavam gritando. Foi como um pesadelo. Foi uma enorme explosão, e tudo ficou completamente escuro. Vidros quebrados, paredes quebradas, vigas retorcidas, pintura queimada e devastação emocional..."

Estas citações, no entanto, não são sobre janeiro de 2015. Elas fazem parte de um relato de Erlanger, sobre 24 de abril de 1999, que recebeu muito menos atenção. Erlanger estava cobrindo o "ataque de mísseis na sede da televisão estatal sérvia", que foi abatida pela OTAN, deixando 16 jornalistas mortos.

A OTAN e as autoridades americanas defenderam o ataque. Não houve manifestações ou gritos de indignação, não houve gritos de "Nós somos RTV", não houve investigações sobre as raízes do ataque na cultura e história cristãs. Pelo contrário, o ataque à imprensa foi elogiado.

A comparação entre esses casos nos ajuda a entender a condenação 
que o New York Times fez dos ataques à redação do Charlie Hebdo. O advogado de direitos civis Floyd Abrams, famoso por sua vigorosa defesa da liberdade de expressão, se referiu aos atentados de 7 de janeiro como "o assalto mais ameaçador sobre o jornalismo na memória viva".

Abrams está certo ao descrever o ataque Charlie Hebdo como "o assalto mais ameaçador sobre o jornalismo na memória viva". A razão tem a ver com o conceito de "memória viva", uma categoria cuidadosamente construída para incluir os crimes DELES contra NÓS, e excluir escrupulosamente NOSSOS crimes contra ELES - estes últimos não são crimes, mas "defesa dos mais altos valores"...

Existem muitos outros exemplos da interessante categoria "memória viva". Um é oferecido pelo ataque contra Fallujah, em novembro de 2004, um dos piores crimes da invasão do Iraque pelos Estados Unidos e Reino Unido. A invasão começou com a ocupação do Hospital Geral de Fallujah, um grande crime de guerra independentemente de como tenha acontecido. Obviamente, isso não é agressão à liberdade de expressão, e não se qualifica para a entrada na "memória viva".

Há outras questões. Alguém poderia naturalmente perguntar como França defende a liberdade de expressão e os princípios sagrados da "fraternidade, liberdade, solidariedade." Seria, por exemplo, por meio da Lei Gayssot, que efetivamente garante ao Estado o direito de determinar a verdade histórica e punir desvios de seus editoriais? Ou seria pela expulsão dos descendentes miseráveis de sobreviventes do Holocausto (Roma) à perseguição implacável na Europa Oriental? Seria pelo tratamento deplorável de imigrantes do norte da África nas banlieues de Paris, onde os autores do atentado ao Charlie Hebdo se tornaram jihadistas? Ou terá sido quando o jornal Charlie Hebdo corajosamente expulsou o cartunista Siné em razão de um comentário dele que foi considerado de conotação anti-semita? Muitas outras perguntas vão ocorrendo rapidamente...

Esses poucos exemplos ilustram um princípio muito geral: quanto mais nós podemos culpar os inimigos por determinados crimes, maior a nossa indignação; mas quanto maior a nossa responsabilidade por certos crimes, a tendência é o oblívio ou até mesmo a negação.

Após o ataque terrorista contra o Charlie Hebdo, que matou 12 pessoas, incluindo o editor e quatro outros cartunistas, e pelo assassinato de quatro judeus em um supermercado pouco depois, o primeiro-ministro francês Manuel Valls declarou "uma guerra contra o terrorismo, contra o jihadismo, contra o islã, contra tudo o que visa quebrar a fraternidade, a liberdade, a solidariedade".

Milhões de pessoas se manifestaram na condenação das atrocidades, amplificado por um coro de horror sob a bandeira "Eu sou Charlie". A cena em Paris foi vividamente descrita no New York Times por Steven Erlanger, veterano correspondente do jornal na Europa.

"Tudo caiu. Era fumaça por toda parte. Foi terrível. As pessoas estavam gritando. Foi como um pesadelo. Foi uma enorme explosão, e tudo ficou completamente escuro. Vidros quebrados, paredes quebradas, vigas retorcidas, pintura queimada e devastação emocional..."

Estas citações, no entanto, não são sobre janeiro de 2015. Elas fazem parte de um relato de Erlanger, sobre 24 de abril de 1999, que recebeu muito menos atenção. Erlanger estava cobrindo o "ataque de mísseis na sede da televisão estatal sérvia", que foi abatida pela OTAN, deixando 16 jornalistas mortos.

A OTAN e as autoridades americanas defenderam o ataque. Não houve manifestações ou gritos de indignação, não houve gritos de "Nós somos RTV", não houve investigações sobre as raízes do ataque na cultura e história cristãs. Pelo contrário, o ataque à imprensa foi elogiado.

A comparação entre esses casos nos ajuda a entender a condenação que o New York Times fez dos ataques à redação do Charlie Hebdo. O advogado de direitos civis Floyd Abrams, famoso por sua vigorosa defesa da liberdade de expressão, se referiu aos atentados de 7 de janeiro como "o assalto mais ameaçador sobre o jornalismo na memória viva".

Abrams está certo ao descrever o ataque Charlie Hebdo como "o assalto mais ameaçador sobre o jornalismo na memória viva". A razão tem a ver com o conceito de "memória viva", uma categoria cuidadosamente construída para incluir os crimes DELES contra NÓS, e excluir escrupulosamente NOSSOS crimes contra ELES - estes últimos não são crimes, mas "defesa dos mais altos valores"...

Existem muitos outros exemplos da interessante categoria "memória viva". Um é oferecido pelo ataque contra Fallujah, em novembro de 2004, um dos piores crimes da invasão do Iraque pelos Estados Unidos e Reino Unido. A invasão começou com a ocupação do Hospital Geral de Fallujah, um grande crime de guerra independentemente de como tenha acontecido. Obviamente, isso não é agressão à liberdade de expressão, e não se qualifica para a entrada na "memória viva".

Há outras questões. Alguém poderia naturalmente perguntar como França defende a liberdade de expressão e os princípios sagrados da "fraternidade, liberdade, solidariedade." Seria, por exemplo, por meio da Lei Gayssot, que efetivamente garante ao Estado o direito de determinar a verdade histórica e punir desvios de seus editoriais? Ou seria pela expulsão dos descendentes miseráveis de sobreviventes do Holocausto (Roma) à perseguição implacável na Europa Oriental? Seria pelo tratamento deplorável de imigrantes do norte da África nas banlieues de Paris, onde os autores do atentado ao Charlie Hebdo se tornaram jihadistas? Ou terá sido quando o jornal Charlie Hebdo corajosamente expulsou o cartunista Siné em razão de um comentário dele que foi considerado de conotação anti-semita? Muitas outras perguntas vão ocorrendo rapidamente...

Esses poucos exemplos ilustram um princípio muito geral: quanto mais nós podemos culpar os inimigos por determinados crimes, maior a nossa indignação; mas quanto maior a nossa responsabilidade por certos crimes, a tendência é o oblívio ou até mesmo a negação.
.

Nenhum comentário :

Postar um comentário

Veja aqui o que não aparece no PIG - Partido da Imprensa Golpista