quarta-feira, 26 de junho de 2013

Contraponto 11.548 - "Alipio Freire: Fortalecer a presidenta Dilma e aprofundar a democracia"


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26/06/2013


Alipio Freire: Fortalecer a presidenta Dilma e aprofundar a democracia

 

publicado em 26 de junho de 2013 às 17:03


Propõe Alipio Freire contra a tentativa de direita e ultradireita de desestabilizar governo. Foto: Marcelo Camargo/ABr

por Alipio Freire, no Brasil de Fato
 
Há uma nítida tentativa da direita e ultradireita brasileiras de desestabilizar o governo da presidenta Dilma Rousseff, coro coadjuvado e alimentado pela grande mídia internacional (especialmente dos EUA e Inglaterra) com o slogan “CHANGE BRAZIL” (Muda Brasil); animado por estrelas da envergadura de Lady Gaga e outras peruas e chesters da mesma granja; e com a adesão de figuras do naipe de Mark Zuckerberg – o homem do “fez-se-buque”.

Felizmente a resistência contra a ditadura do pós-64 foi cantada por Carlinhos Lyra, Vinicius de Moraes, Chico Buarque, Gonzaguinha, João Bosco, Aldir Blanc, Fausto Nilo, Belchior, Fagner, Milton Nascimento, Capinam, Tom Zé, Torquato, Gil, Caetano – e interpretadas por, além dos próprios autores, ninguém menos que Nara Leão, Elis Regina, Odete Lara, Beth Carvalho, Zezé Mota, Elba Ramalho, MPB-4, Quarteto em Cy, Gal, Bethânia e tantas outras figuras, igualmente protagonistas daquela saga.

E não se trata de brincadeira ou retórica: os movimentos podem sempre ser medidos pela qualidade das representações que produzem. O golpe e a ditadura de 1964, por exemplo, tiveram – como epígono da arte (representação/comunicação) e da estética que produziram – Don e Ravel…

Mas vamos aos fatos.

Há mais de década, o Movimento Passe Livre (MPL), tem se manifestado regularmente em várias cidades do Brasil, quando do aumento das passagens dos transportes. Neste ano, em São Paulo, o movimento voltou às ruas e, antes de qualquer tentativa de diálogo ou negociação por parte das autoridades locais (governador e prefeito), que viajaram para Paris, despejou-se violenta repressão contra os manifestantes, protagonizada pela Polícia Militar paulista, imediatamente apoiada e aplaudida desde a França pelos senhores Geraldo Alckmin (PSDB) e Fernando Haddad (PT) – para não falarmos da grande mídia comercial de Pindorama, useira e vezeira em glorificar todas as medidas e violências contra a classe trabalhadora e o povo. Coroando o desastre, o ministro da Justiça – senhor José Eduardo Cardozo (PT), disponibilizou “forças nacionais” para reforçar a razia iniciada pela PM.

Sinal verde para uma repressão sem limites

Com relação ao governador Alckmin, nenhuma novidade: é este o tratamento cotidiano que a sua PM dispensa impunemente aos habitantes dos bairros populares de São Paulo. O ministro Cardozo e o prefeito Haddad, porém, deram um passo a mais com relação à postura que têm assumido: passaram do estágio do habitual e eloquente silêncio pusilânime, para um apoio explícito e desavergonhado à ação da PM.

Assim, o sinal verde estava dado pelas principais autoridades responsáveis pela contenção (e mesmo punição) dos agentes do Estado que violam os direitos constitucionais de liberdade de opinião e manifestação pacífica dos cidadãos deste País.

Autorizada e estimulada a reprimir com violência os protestos, a PM prepara com requintes nova performance: na manifestação (sempre pacífica) do MPL, dias depois, na avenida Paulista, em formação de parede, a polícia parte para cima dos manifestantes. A formação em parede – diferentemente da formação em cunha, que visa à dispersão – é utilizada para o confronto. E foi em parede que marcharam para o confronto contra os cidadãos que se manifestavam.

Ou seja, o objetivo claro era o de terra arrasada. Mais ainda: ao mesmo tempo em que avançavam, os policiais quebravam e incendiavam suas viaturas e outros próprios públicos e particulares, secundados por personagens à paisana, “skinheads” e outras formações da direita e dos fascistas – integralistas ou não. Preparavam assim, certamente orquestrados, o álibi para o terror que semeavam na avenida. Algo como o argumento de “reação armada” que costumam sempre alegar para suas vítimas nas periferias, mortas com um tiro na nuca.

O milagre da multiplicação de manifestantes

E foi desse modo que prosseguiam os confrontos, até que um dia, em menos de 12 horas – “de repente, não mais que de repente” –, como se numa Epifania, como se resultado de uma Revelação, a grande mídia comercial uníssona, passa a defender os manifestantes e atacar seus agressores. Também o governador Alckmin muda de posição frente à ação policial, e o prefeito Fernando Haddad silencia. Ao mesmo tempo – e é aqui que entram a Gaga e suas gaguetes – a mídia dos EUA lança seu lema “MUDA BRASIL”, o que transborda para outros países.

Mas, “muda” para onde?

A grande mídia comercial não apenas apoia os manifestantes. Oferece seus préstimos, em termos de pautar suas reivindicações. Sempre na vanguarda da canalhice, a revista Veja (edição de 19 de junho) estampa na capa: “A REVOLTA DOS JOVENS – Depois do preço das passagens, a vez da corrupção e da criminalidade?”

Jornais, rádios, TVs, Datenas e outros passam a convocar e/ou estimular os cidadãos a participarem das manifestações. O jornal O Estado de S. Paulo insta todos a cederem seus wi-fi a serviço da causa. Centenas de milhares lotam as ruas e avenidas de São Paulo. Mas as organizações populares e/ou de esquerda perdem o rumo e o controle dos protestos que reúne caoticamente todas as insatisfações difusas da cidade, com palavras de ordem plantadas pela grande mídia, entre as quais, a questão da corrupção começa a se destacar. Não faltou sequer a invocação da nossa Vestal de Ébano: “Corruptos fora. Joaquim Barbosa agora”. Até faixas pedindo a volta da ditadura estiveram presentes.

Nesse interim, o prefeito FH reúne o Conselho da Cidade. Vários conselheiros (e pelo menos uma das conselheiras) educadamente tentam convencê-lo a revogar o aumento. Mas o prefeito FH permanece irredutível. Não negocia. Somente passados alguns dias depois de uma reunião com a presidenta Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (seu Criador), o prefeito aceita voltar atrás com relação ao aumento. A essa altura, porém, o MPL e as forças populares e de esquerda já haviam perdido a batalha do controle das ruas de São Paulo.

A lamentável performance do prefeito FH

O prefeito FH decide então anunciar a queda dos 20 centavos, lado a lado com o governador Geraldo Alckmin. O governador fala primeiro, e anuncia que decidiu revogar o aumento das passagens dos trens e metrô. O prefeito FH fala em seguida, anuncia que também os ônibus voltarão à tarifa anterior, mas se recusa a utilizar qualquer expressão que possa significar “revogar”, “recuar” ou “voltar atrás”.

A cena torna-se patética: uma arrogância descabida, uma empáfia grotesca que desconhece que sua candidatura é filha de uma decisão apenas da cúpula partidária, sem qualquer discussão nas (já esfrangalhadas) instâncias ou mecanismos democráticos do seu partido, e que grande parte da sua votação se deve ao prestígio do seu Criador e outra (talvez até maior), aos eleitores que, conscientes, escolhem o candidato “menos pior” ou, no caso da última eleição paulistana, eleitores que não votaram nele, mas contra o senhor José Serra.

A postura do prefeito paulistano, estimulando inicialmente a repressão e adiando o quanto pode sua decisão de atender aos reclamos do MPL – esquecendo (se é que conhece) o projeto Tarifa Zero, brilhantemente elaborado pelo secretário de Transportes Lúcio Gregori (gestão da prefeita Luiza Erundina), gerou o tempo necessário à organização da direita, sua intervenção orquestrada junto às manifestações populares, fazendo com que estas inchassem, criando sérios problemas para a presidenta Dilma e a falsa conclusão junto a setores da esquerda e dos movimentos populares, de um “ascenso do movimento de massas”, que os pode levar a desastrosas estratégias e táticas.

O que percebemos é um ascenso da direita e da ultradireita fascista, e é indispensável que nos preparemos desde já para reverter esse perigoso quadro que poderá sempre extrapolar os limites da disputa eleitoral do próximo ano, e até implicar rupturas institucionais “legais”, do tipo que vimos acontecer em Honduras e, ainda mais recentemente, no Paraguai.

O silêncio oficial dos partidos políticos chega a ser constrangedor – especialmente o do PT, e a omissão dos poderes da República nas três esferas (exceto o Executivo Federal representado pela presidenta Dilma) tangencia o criminoso.

O desconserto das quatro estações

Em plena véspera do Inverno no Hemisfério Sul, sentimos no ar o perfume da Primavera Árabe, aparentemente induzido por nomes tipo Kassab, Alckmin e Haddad. Mas – se nos detivermos um pouco, rapidamente perceberemos que não parte daí o odor que paira no ar. Até o começo da queda dos governos árabes, os EUA haviam semeado (e toda a mídia capitalista internacional amplificou) que, depois da “Queda do Muro”, a única ditadura que sobrara no Ocidente era Cuba. 

E de repente, “como por encanto”, descobriram quase uma dezena de déspotas nos países árabes.

Impressionante como esses dissimulados ditadores conseguiram passar despercebidos dos serviços de inteligência dos EUA e das civilizadas potências europeias. Sim, personagens sinistras, figuras realmente perigosas! A sorte da humanidade é que o princípio do direito dos povos à sua autodeterminação, conforme esteve inscrito pelo menos inicialmente na Carta da ONU, parece ter sido banido ou caído em desuso, e a Casa Branca, vigilante, tem tomado sempre as medidas necessárias à garantia da democracia em todo o mundo.

Parece-nos que, exceto a democrática Arábia Saudita, ali nada sobrava. Foram então tomadas as providências primaveris. Certamente, por mera coincidência, os tais ditadores primaverizados assentavam-se sobre milhões de barris de petróleo e/ou passagens de gasodutos e oleodutos.

Com os sucessivos acontecimentos envolvendo a Venezuela, o Paraguai, a Argentina e agora este “Change Brazil”, a esperança é que não venhamos a ter um novo Frio Inverno no Cone Sul.

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