segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Contraponto 10.410 - "Vitória de Renan, uma derrota da mídia?"

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04/02/2013

 

Vitória de Renan, uma derrota da mídia?

 

Do Cafezinho - 01/02/2013

Antonio Cruz/ABr – O senador Pedro Taques, ao lado de Aécio Neves, após vitória de Renan Calheiros (PMDB-AL), que volta à presidência do Senado


 Miguel do Rosário

Tentando me ensinar a não brincar de afogamento, minha mãe me contou a história do menino que vivia fazendo isso e quando realmente estava se afogando ninguém mais acreditou. A eleição de Renan à presidência do Senado, em meio a um ataque generalizado da grande mídia, me fez lembrar essa história.

Tanto denuncismo vazio, tanta manipulação de escândalos, verdadeiros ou falsos, tantas mentiras em seguida desmentidas, cansaram a opinião pública. Aí quando vemos um escândalo porventura legítimo, como talvez seja o das notas frias de Renan Calheiros, ninguém mais dá bola.

A mesma coisa vale para a denúncia de Gurgel. Sua atuação, sobretudo nos últimos meses, tem sido tão partidarizada, tão cheia de ódio político, que os próprios senadores passaram a desconfiar, com toda razão, de sua decisão de desengavetar uma denúncia contra Renan às véspera de sua eleição; mais ainda, de vazar seu conteúdo no mesmo dia em que se dá o pleito. É chato concordar com Fernando Collor, mas o senhor Gurgel perdeu autoridade moral para atacar o senado, porque não se identifica nele mais a necessária imparcialidade.
Para o governo, a eleição de Renan Calheiros vem a calhar, por várias razões que já explicitei antes e que repito aqui:
  1.  Ao atacá-lo, a mídia deixa de atacar o governo;
  2. Renan tenderá a não acatar pedidos de CPI, em virtude de seu próprio telhado de vidro;
  3. É um dos senadores mais leais ao governo, desde Lula, apesar de andar um pouco irritadiço nos últimos tempos.
Falta falar um pouco sobre o interesse nacional. Fala-se apenas em escândalos, obnubilando-se qualquer debate político sobre as propostas de Renan.

Fazendo uma analogia com o “entulho autoritário” contra o qual tantos políticos lutaram, o senador prometeu combater o “entulho burocrático”, que entrava o crescimento brasileiro. Se conseguir aprovar reformas e leis que permitam ao país crescer mais, Renan Calheiros e seus bois fantasmas terão dado uma ótima contribuição ao desenvolvimento. Depois disso, pode voltar à planície, ou à prisão, conforme o desejo e a competência de juízes, procuradores e advogados de defesa.

O fato do PSDB ter mudado de ideia na última hora, tutelado como sempre pela mídia, do qual se tornou apenas uma correia de transmissão, e retirado o apoio à Renan, acabou aproximando ainda mais PT e PMDB.  O mesmo raciocínio vale para o PSB – ao abandonar Renan, meio que abriu mão, de vez, da vaga de vice nas eleições de 2014.

Vale algumas observações sobre Eduardo Campos, presidente do PSB. As forças de oposição estão apostando todas as fichas no governador de Pernambuco, tentando com isso dividir a base aliada e evitar, desde já, que o PT ganhe no primeiro turno. Campos não deve ser bobo e entende esse movimento. O PSB está tentando se oferecer a setores poderosos da opinião pública como uma esquerda mais “civilizada” que o PT.  Uma esquerda mais domesticada, que não enfrenta a mídia, até porque tem características bem diferentes do PT. O PSB não tem a militância massiva do PT e, portanto, depende mais dos meios de comunicação para divulgar suas ideias.

E a mídia está comprando o jogo, apostando em Campos, conforme se pode constatar pela capa da Época (que pertence à Globo), com uma reportagem que é uma despudorada louvaminha do governador.

Entretanto, Campos terá que tomar muito cuidado ao conduzir esse jogo, porque se ele topar uma aliança com os adversários do PT, será empurrado à direita do espectro político e pode matar o futuro de seu partido.

Voltando à Renan, o senador fez questão de frisar, em seu discurso ainda como candidato, que um dos eixos essenciais de sua atuação será a defesa da liberdade de expressão, combatendo projetos que, sob qualquer pretexto, a ameacem. Alguns amigos interpretaram sua fala como uma maneira sutil de tranquilizar os grandes grupos de mídia de que será contra uma nova regulamentação do setor. Também me pareceu. Até porque o PMDB tem uma posição bastante clara sobre o tema: é contra. Os parlamentares de seu partido possuem concessões de rádio e tv e não lhes interessa qualquer mudança no status quo. Eles apanham da Globo, mas em seus estados controlam a mídia local, que lhes fornece votos.

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De qualquer forma, há que se comemorar o fato de que a mídia deixou de ser um ente invisível e foi empurrada, à fórceps, para o centro do palco político. Editorais, como o de hoje no Estadão, além da coluna de Dora Kramer, são o recibo deste processo. De fato, é saudável ou mesmo fundamental que tenhamos meios de comunicação independentes do governo, críticos, com direito e liberdade de adotarem discursos de oposição. Mas, da mesma forma, é preciso haver uma crítica dessa mídia. É preciso combater a cartelização da mídia, adotando medidas que ampliem a pluralidade de ideias. E é preciso combater a calúnia, o denuncismo, e a irresponsabilidade jornalísticas, os quais, num ambiente onde a mídia é extremamente concentrada, geram desequilíbrios políticos nocivos à democracia. É preciso, sobretudo, lutar para que a cultura e a subjetividade dos brasileiros não seja escrava de meia dúzia de empresas que se consolidaram à sombra da ditadura.

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Agora vamos falar do emprego.
Apesar do débil crescimento econômico em 2012, o ano que passou nos oferece duas grandes notícias no campo social: o desemprego atingiu o que seguramente é o menor índice da nossa história, e a renda média do trabalhador brasileiro experimentou o maior aumento anual em dez anos. Dezembro fechou com desemprego de 4,6% s e a renda média ficou em R$ 1.793,96, aumento de 4,1% sobre o ano anterior, já descontada a inflação.
A notícia ganhou destaque apenas na Folha. Globo e Estadão optaram por publicá-la discretamente na primeira página.



O Globo ao menos deu a matéria com destaque no caderno de economia, e publicou alguns belos infográficos.
(Infográficos do Globo, edição 01/02/2013)

Pena que os bons números do emprego não se refletiram no desempenho da indústria. Embora seja um alívio que a produção industrial física não tenha caído em dezembro (ficou estável), o ano de 2012 foi, de forma geral, negativo para o setor. Apesar da recuperação registrada nos últimos meses.
Eu preparei uma tabela com todos os subsetores da indústria brasileira.  O único dado realmente positivo é o aumento de 6,7% no refino de petróleo e álcool.
Entretanto, não custa ter esperança de que o fato da indústria ter parado de cair em dezembro pode ser prenúncio de que voltará a crescer este ano, em que, espera-se, a economia brasileira estará mais aquecida.
Os números da Confederação Nacional da Indústria para dezembro também são negativos:
Mesmo assim, os empresários, segundo a mesma pesquisa da CNI, estão otimistas em relação ao primeiro semestre de 2013:
PERSPECTIVAS FUTURAS – Apesar da retração da atividade, os industriais estão otimistas com o futuro. Em janeiro, o indicador de expectativa dos empresários com a demanda para os próximos seis meses ficou em 58,4 pontos, acima do registrado em janeiro de 2011 e de 2012. O indicador de expectativas com a quantidade exportada alcançou 51,8 pontos. Além disso, os empresários pretendem aumentar as contratações e as compras de matérias-primas. O índice de expectativa do número de empregados subiu para 52,3 pontos e o de compras aumentou para 55,8 pontos. Os indicadores de expectativa variam de zero a cem. Valores acima de 50 indicam expectativas positivas.
Enfim, como dizia um budista: agora é esperar pra ver.
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