domingo, 30 de setembro de 2012

Contraponto 9359 - "Ibope: mensalão não afetou eleitor"


247 – Em entrevista ao jornalista Ilimar Franco, da coluna Panorama Político, do jornal O Globo, o presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, reduziu a pó a influência do julgamento da Ação Penal 470 no processo eleitoral de 2012. Leia:

Derrubando mitos
O presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, diz que as eleições deste ano estão derrubando vários mitos. O principal deles é sobre o peso do mensalão. “O eleitor não está nem aí para o mensalão. Ele quer eleger o melhor síndico para sua cidade”, sentencia. E acrescenta: “O Haddad, o Pelegrino e o Elmano, todos do PT, estão crescendo. O mensalão está ajudando?”

Pesquisa: o fim de um dogma

Os políticos costumam afirmar que as pesquisas induzem o voto do eleitor. Mas, para Montenegro, as eleições deste ano jogam por terra esse surrado axioma. Cita as eleições de Recife, onde há dois meses Humberto Costa (PT) liderava com 40%, seguido de Mendonça Filho (DEM) na casa dos 20%. Faltando sete dias para o pleito, o que há é uma completa reviravolta política. Geraldo Julio (PSB) tem 40%; Daniel Coelho (PSDB), 25%; Humberto, 15%; e Mendonça, 5%. O presidente do Ibope conclui: “Isso é uma prova inconteste de que pesquisa não induz o eleitor ao voto. Se ela tivesse essa influência toda, Humberto e Mendonça sairiam e chegariam na frente.”

Contraponto 9358 - "Lula, o golpe da direita e a classe média ideológica"


30/09/2012

Lula, o golpe da direita e a classe média ideológica


Por Davis Sena Filho — Blog Palavra Livre

“Não foi fácil (fazer um bom governo). Não foi fácil porque a elite política brasileira não brinca em serviço. Eles não gostam quando eu falo, mas, em 2005, eles tentaram dar um golpe no meu governo. Como tentaram dar e deram no João Goulart, como tentaram dar no Juscelino (Kubitschek) e como levaram o Getúlio Vargas à morte”. (Lula, ontem, em comício de apoio a Fernando Haddad)






     Lula sabe dos trabalhistas do passado e por isto derrotou a direita.

Luiz Inácio Lula da Silva sabe que a vitória do candidato do PT, Fernando Haddad, em São Paulo é primordial para quebrar a espinha dorsal tucana, e, consequentemente, pavimentar, com maior desenvoltura, a reeleição da presidenta Dilma Rousseff em 2014, bem como encerrar o domínio dos tucanos sobre a máquina pública paulistana, que a transformaram em um balcão de negócios para atender os “quatrocentões” de São Paulo e relegar a um segundo plano os interesses da sociedade. As máquinas estatais paulistana e paulista foram privatizadas e terceirizadas, afinal elas estão nas mãos dos políticos do PSDB, os neoliberais que venderam o Brasil.


Não quero dizer que Dilma Rousseff precisa necessariamente dos conservadores do estado de São Paulo e cidade de São Paulo para vencer as eleições em âmbito nacional, e, por conseguinte, ser reeleita. Estou, sim, a afirmar que se o PT vencer o pleito eleitoral na metrópole bandeirante, indubitavelmente vai ter acesso a uma conjuntura de forças políticas, inclusive algumas à direita do espectro ideológico, que vão viabilizar, de vez, o projeto trabalhista do PT, que tem, sobretudo, o objetivo de distribuir renda e riqueza para a população, bem como inserir o Brasil em um contexto de desenvolvimento que o coloque em uma posição de País civilizado, soberano e independente. Ponto.


É este o projeto nacional desde 1930 dos trabalhistas liderados por Getúlio Vargas, que não é, de forma alguma, compreendido, veiculado e repercutido pela imprensa burguesa de negócios privados e combatido a ferro e fogo, de forma mesquinha, violenta e ilegal, por parte da classe média, pelo grande empresariado urbano e rural, que tem o controle dos meios de produção, e, finalmente, por setores que controlam o poder do estado nacional, como o Judiciário, o Ministério Público e até mesmo as Forças Armadas, que estão quietas, mas, irremediavelmente, conservadoras.
Lula sabe disso e sempre soube. O político oriundo das classes populares que se fez estadista mesmo quando moderado (e ele o é; a direita sabe disso), a atender às demandas e os anseios das classes dominantes, que se resumem a ter o País somente para poucos, ou seja, para eles, sempre buscou o diálogo. Nunca o gênio da política, tão genial como o foi Getúlio Vargas, quis romper com o processo democrático e estabelecer um governo de força. O governo de Lula foi reformista, desenvolvimentista e não revolucionário.
As elites brasileiras herdeiras da escravidão não entenderam esse processo e se o compreenderam, por ideologia, ganância pelo poder e preconceito contra Lula e os trabalhadores, passaram a usar, de maneira perversa, sua máquina midiática para, primeiramente, conquistar as mentes e os corações da classe média ressentida e reacionária, e, a partir daí, boicotar o governo democrático de Lula, bem como tentar derrubá-lo do poder, como ocorreu em 2005. O "mensalão" é o exemplo mais emblemático de todo esse processo, pois usado como único trunfo de uma direita derrotada nas urnas e sem propostas para o povo e igualmente sem projeto de país para poder conquistar o poder.



DO QUÊ A DIREITA TEM MEDO? DO LULA, DA MASSA OU AMBOS?

DO QUÊ A DIREITA TEM MEDO? DO LULA, DA MASSA OU AMBOS?


O mandatário ao perceber que corria o risco de sofrer um golpe “branco”, resolveu ir às ruas, às praças, o que, de forma quase sumária, arrefeceu os ânimos ferozes e golpistas da direita partidária e midiática, que não teve outra saída a não ser recuar e, consequentemente, ser derrotada por Lula e o PT nas eleições presidenciais de 2006. Contudo, o campo da direita e que aposta na ilegalidade não desiste nunca do poder político e do controle do estado. A burguesia continuou com sua campanha insidiosa baseada na mentira e na manipulação das notícias, por intermédio dos golpistas do mundo acadêmico, empresarial e midiático.


Utilizaram-se, constantemente, de palavras injuriosas, caluniosas e difamatórias e as repercutiram, a ter como principal cliente e consumidora a classe média reacionária e de direita, portadora do poder ideológico, porque é essa classe, de índole conservadora que almeja eternamente ser rica e por causa disso dissemina os valores da burguesia, alicerçados nos sonhos de consumo, na diminuição do espaço público, e, principalmente, na separação das classes sociais, que se consideram superiores às classes populares, com o propósito de perpetuar o status quo.


A classe média tanto quanto à classe rica são irmãs siamesas somente ideologicamente, porque no mundo real os ricos a deixa na porta e a impede de entrar na sua festa, aí, sim, verdadeiramente VIP. Como afirmei no início deste artigo, Lula sabe disso. Muita gente sabe desse procedimento, bem como a história, livre das paixões, vai, sem sombra de dúvida, apontar, definir e esclarecer o que foi o governo democrático e desenvolvimentista de Lula, como está a fazer com Getúlio Vargas e João Goulart.


Restaram para a oligarquia brasileira, nos últimos dez anos, o golpe e a máquina midiática de propósitos separatistas, cujos donos são os barões do apartheid. As classes dominantes não se preocupam com o desenvolvimento de seus povos e países. Como esse segmento social não tem sentimento de brasilidade e de nação se torna irremediavelmente alienígena. Por ter essa característica, age com naturalidade contra o Brasil e sempre a favor de seus interesses de classe. Lula sempre soube disso. É isso aí.

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Contraponto 9357 - "SIP: Para conhecer melhor quem são"

 

30/09/2012


SIP: Para conhecer melhor quem são 

 

Do DoLaDoDeLá - 30/9/2012 

A sugestão do vídeo partiu de um internauta que preferiu o anonimato, mas que ainda assim presta um enorme papel à sociedade ao informar à Dilma e a todos nós quem são eles e quais os interesses que representam. Ela até pode ir ao encontro, mas é bom que saiba com quem está lidando, afinal, não é aceitável da presidente da República, sempre tão bem assessorada, desconhecer seus interlocutores.



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Contraponto 9356 - Da Carta Maior



30/09/2012

Editorial 
Carta Maior 

LULA: É HORA DE BUSCAR O VOTO DE CASA EM CASA

 
"(Serra) foi para o governo do estado, ficou três anos; se mandou para  tentar ser presidente. Levou uma chulada. (agora) ele deve estar desesperado; não tem mais idade; não tem... para ser presidente. Não  chega lá...Quer voltar agora para São Paulo como se São Paulo fosse um cabide de emprego. Ora, meu . Deus do céu, pede aposentadoria; a aposentadoria que é melhor. Requer uma pensão, qualquer coisa, mas não a prefeitura; (nesta última semana) peçam votos para Haddad de casa em casa, de igreja em igreja, de loja em loja; (ele vai governar para os pobres) Todo mundo precisa de prefeito. Agora, rico não precisa de prefeito nem de presidente, nem do governador. Quem precisa é o povo mais humilde, mais pobre; (cuidado com o golpismo) " a elite política brasileira não brinca em serviço. Eles não gostam de ouvir quando eu falo; ficam nervosos. Mas o fato é que em 2005, tentaram dar o golpe no meu governo. Tentaram, como tentaram,  e deram, no João Goulart; como tentaram, no Juscelino; e levaram o Getúlio (Vargas) à morte..." (Lula em comícios com Haddad e Marta, na zona leste, em São Paulo, neste sábado).

 

(Carta Maior; Domingo/30/09/2012)

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Contraponto 9355 - Mensalão - subjetivismo e erros históricos

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.30/09/2012


Mensalão - subjetivismo e erros históricos

Coluna Cidadania - Jornal O Povo - 30/09/2012

Valdemar Menezes

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SUBJETIVISMO

A polarização também está presente no STF, fracionando-o em duas concepções jurídicas: uma mais garantista, que dá ênfase aos direitos e garantias constitucionais, no processo penal; e a corrente que os relativiza, flexionando exigências como a presunção de inocência, a prova dos autos, o ato de ofício para configurar a corrupção ativa de funcionário público, o direito ao duplo grau de jurisdição (direito de recorrer a uma segunda instância) e outras “inovações” que abrem as comportas – segundo alguns especialistas - para a discricionariedade (subjetivismo) do julgador e que são consideradas perigosas para o futuro do Estado democrático de Direito e que se explicitam através do conceito jurídico de “domínio do fato”. Neste, a falta de provas para identificar mandante de quadrilha é substituída pelo subjetivismo do julgador, entrando-se no reino das ilações.
  

ERROS HISTÓRICOS

 Para quem considera heresia afirmar que o STF pode errar, certas correntes jurídicas e cientistas políticos têm advertido que a Corte Suprema não é imune a condicionamento do meio cultural e social e da correlação real de poder. Lembram que o Judiciário brasileiro já incidiu em erros gravíssimos por conta disso:  

a) negação de habeas-corpus a Olga Benário Prestes, que estava grávida, e quando sua entrega aos nazistas poderia significar uma sentença de morte (como de fato ocorreu); 

b) a validação da manobra para cassar o registro do Partido Comunista do Brasil, em 1947, e dos mandatos de seus 17 parlamentares, atirando-os à clandestinidade, em atendimento às pressões de Washington e de latifundiários contrários à reforma agrária;  

c) apoio ao golpe de Estado de 1964 (o presidente do STF foi a posse de Ranieri Mazzilli (presidente da Câmara dos Deputados) em substituição a João Goulart, quando este ainda se encontrava em território nacional; 

d) convalidação de atos jurídicos incompatíveis com o Estado Democrático de Direito, curvando-se à ditadura.

 CARTA ABERTA

Uma Carta Aberta ao Povo Brasileiro, assinada por mais de duas centenas de intelectuais, inclusive Oscar Niemeyer e Luis Bresser Pereira, advertindo sobre distorções no julgamento do mensalão, foi publicada esta semana. Aqui, a íntegra: “Desde o dia 02 de agosto o Supremo Tribunal Federal julga a ação penal 470, também conhecida como processo do mensalão. Parte da cobertura na mídia e até mesmo reações públicas que atribuem aos ministros o papel de heróis nos causam preocupação. Somos contra a transformação do julgamento em espetáculo, sob o risco de se exigir – e alcançar - condenações por uma falsa e forçada exemplaridade. Repudiamos o linchamento público e defendemos a presunção da inocência. A defesa da legalidade é primordial. Nós, abaixo assinados, confiamos que os Senhores Ministros, membros do Supremo Tribunal Federal, saberão conduzir esse julgamento até o fim sob o crivo do contraditório e à luz suprema da Constituição”.

 RAIZ DO “MENSALÃO”

O escândalo do “mensalão” - como analisam cientistas políticos, constitucionalistas e outros – não é específico de uma única força política (vide os “mensalões” do PSDB e do DEM, já identificados, além da compra de votos para a reeleição de FHC e inúmeras outras iniciativas semelhantes, como a utilização corriqueira do caixa 2 nas eleições). É preciso entender que a raiz de tudo está no modelo presidencialista de coalizão. É preciso mudá-lo.


Valdemar Menezes opiniao@opovo.com.br

Contraponto 9354 - "STF só julgará José Dirceu após a eleição "

 
30/09/2012
 STF só julgará Ze Dirceu após a eleição

Jornal do Brasil  - 29/09/2012

Marcelo Auler


Quem imaginava ver o ex-ministro José Dirceu ser julgado pelos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) antes das eleições do dia 7, na expectativa de interferir ainda mais no desempenho dos candidatos petistas no pleito municipal, pode ficar frustrado.

Pelo andar da carruagem, com os longos votos e os bate-bocas dos ministros relator, Joaquim Barbosa, e revisor, Ricardo Lewandowski, dificilmente na próxima semana o plenário do STF apreciará o papel do ex-ministro da Casa Civil na Ação Penal 470.

Na segunda-feira, quatro ministros ainda estarão votando sobre os políticos do núcleo PP-PL-PTB-PMDB que receberam dinheiro do Valerioduto. Com isto, apenas na quarta-feira o relator, Joaquim Barbosa, começará a ler seu voto sobre o chamado núcleo do PT que inclui Paulo Rocha, Professor Luizinho, João Magno, a secretária Anita Leocádia, e o ex-ministro Anderson Adauto.
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Contraponto 9353 - "O efeito das armas sujas"

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30/09/2012

O efeito das armas sujas

 

Isso você não vai ver na televisão, porque as agências de notícia internacionais, que abastecem o Brasil simplestmente não trarão esta notícia até você.

Falluja: Uma Geração Perdida? (2011)
from Malandro on Vimeo.

1. Tudo começou na Bósnia, em 1991;

2. Mas foram nos bombardeios a Falluja, no Iraque, em 2004, o verdadeiro laboratório;
3. EUA usam lixo atômico clandestinamente em seu armamento;
4. Oficialmente, o Pentágono diz que usa "metais pesados";
5. As armas termobáricas (hellfires) colabam os pulmões e queimam os corpos de dentro para fora;
6. E o fósforo branco - proibido - causa danos aos bebês;
7. Hoje, em Falluja, nascem de 2 a 3 crianças todos os dias vítimas da radioatividade;
8. A grande maioria delas vive apenas algumas horas;
9. O documentário acima traz este relato sóbrio e triste.
10. Não deixe de assistir, porque informação é poder de decidir!

p.s. Créditos mais uma vez para o
DocVerdade. Legendas de Malandro. 
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sábado, 29 de setembro de 2012

Contraponto 9352 - "Um espectro ronda o jornalismo: Chatô"


Por Fernando Morais


As agressões e infâmias dirigidas por alguns jornais, revistas, blogs e telejornais ao ex-presidente Lula e ao ex-ministro José Dirceu me fazem lembrar um episódio ocorrido em Belo Horizonte em meados do século passado.

            Todas as sextas-feiras o grande cronista Rubem Braga assinava uma coluna no jornal “Estado de Minas”, o principal órgão dos Diários Associados em Minas Gerais. Irreverente e anticlerical, certa vez Braga escreveu uma crônica considerada desrespeitosa à figura de Nossa Senhora de Lourdes, padroeira de Belo Horizonte. Herege, em si, aos olhos da conservadora sociedade mineira o artigo adquiriu tons ainda mais explosivos pela casualidade de ter sido publicado numa Sexta-Feira da Paixão.

            Indignado, o arcebispo metropolitano Dom Antonio dos Santos Cabral redigiu uma dura homilia recomendando aos mineiros que deixassem de assinar, comprar e sobretudo de ler o “Estado de Minas”. Dois dias depois o documento foi lido na missa de domingo de todas as quinhentas e tantas paróquias de Minas Gerais.

            O míssil disparado pelo religioso jogou no chão a vendagem daquele que era, até então, o mais prestigioso jornal do Estado. E logo repercutiu no Rio de Janeiro. Mais precisamente na mesa do pequenino paraibano Assis Chateaubriand, dono dos Diários Associados, um império com rádios e jornais espalhados por todos os cantos do Brasil.
  
              Telefonou para Geraldo Teixeira da Costa, diretor do “Estado de Minas”, com uma ordem expressa, repleta de exclamações:

            - Seu Gegê! Quero uma reportagem de página inteira contando que quando jovem Dom Cabral estuprou a própria irmã! O senhor tem uma semana para publicar isso!

            Tamanha barbaridade não passaria pela cabeça de quem quer que conhecesse o austero Dom Cabral, cujas virtudes haviam levado o Papa Pio XI a agraciá-lo com o título de Conde. Mas ordens eram ordens.

            Os dias se passavam e a reportagem não aparecia no jornal. Duas semanas depois do ultimato, um Chateaubriand possuído pelo demônio ligou de novo para Belo Horizonte:

            - Seu Gegê! Seu Gegê! O senhor esqueceu quem é que manda nesta merda de jornal? O senhor esqueceu quem é que paga seu salario, seu Gegê? Cadê a reportagem sobre o estupro incestuoso cometido por Dom Cabral?

Do outro lado da linha, um pálido e tremebundo Gegê gaguejou:

- Doutor Assis, temos um problema. Descobrimos que Dom Cabral é filho único, não tem e nunca teve irmãs...

Sapateando sobre o tapete, Chateaubriand parecia tomado por um surto nervoso:
- TEMOS um problema? Seu Gegê, nós não temos problema algum! Isso é um problema de Dom Cabral! Publique a reportagem! Cabe A ELE provar que não tem irmãs, entendeu, seu Gegê? Vou repetir, seu Gegê: cabe A ELE provar que não tem irmãs!!

Passadas oito décadas, suspeito que Chatô exumou-se do Cemitério do Araçá e, de peixeira na cinta, encarnou nos blogueiros limpos e nos editores dos principais jornais e revistas brasileiros.  

Como no caso de Dom Cabral, cabe a Lula provar que não marchou com a família e com Deus, em 1964, quando tinha 18 anos, pedindo aos militares que derrubassem o governo do presidente João Goulart. Cabe a Dirceu provar que não foi o chefe do chamado mensalão.

Fernando Morais é jornalista e escritor. É autor, entre outros livros, de “Chatô, o rei do Brasil”, biografia de Assis Chateaubriand.

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Contraponto 9351 - "Errático, Aécio agora cobre Lula de elogios"

247 - Com o senador Aécio Neves é assim: nunca se sabe exatamente se ele está falando o que pensa ou apenas repetindo os velhos cacoetes da política mineira de agradar ao interlocutor mais próximo com frases sob medida. Dias atrás, em palanque, no Recife, o ex-governador de Minas viu por bem vestir o figurino de anti-PT e deitou falação contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem chamou de "chefe de facção" - leia aqui reportagem de 247 a respeito. Neste sábado, porém, como quem dá passos erráticos, ele procurou suavizar suas próprias palavras e, nesse gesto, acabou por tecer altos elogios ao mesmo Lula que havia criticado.

"Falei que ele opta por ser chefe de uma facção política. Não estou me referindo a nada além disso", afirmou Aécio, negando que havia feito referência ao comando, por Lula, de uma facção criminosa. "O ex-presidente da República é ex-presidente de todos os brasileiros. É absolutamente legítimo que peça votos para seus candidatos. Mas no momento em que ele vem para o palanque atacar pessoalmente o adversário, como exclusivista do sentimento de solidariedade com os mais pobres, não me parece a postura mais adequada a um ex-presidente da República", acrescentou o senador. 

Sem se dar por satisfeito pelos primeiros elogios, o senador que tenta ser o candidato do PSDB à Presidência da República foi além e, na prática, instalou Lula num pedestal de ótimas referências. "Lula tem no mundo um prestígio extraordinário", afirmou o mineiro, dizendo-se "amigo" do ex-presidente. "Ele estará de forma ainda mais profunda no sentimento dos brasileiros se souber separar um pouco a disputa política das questões pessoais". "Quando ele vem fazer ataques pessoais, acho que não está à altura do que ele é, da história dele, que é uma história belíssima, tanto pessoal quanto política. Gostaria de vê-lo no papel de ex-presidente da República, rodando o mundo, representando o Brasil. Não há uma figura importante do mundo político que eu encontre que não pergunte pelo presidente Lula", declarou o ex-governador, referindo-se às críticas de Lula aos políticos tucanos.

Segundo o senador, o PT considera que ser derrotado em uma eleição é "um crime de lesa pátria" e o partido opta por ataques na iminência de uma derrota. "Certamente, a marca do PT é o que estamos vendo. Quando estão perdendo, a posição do PT é sempre de muita virulência, de muito ataque pessoal, como se derrotar o PT fosse um crime de lesa pátria", declarou.
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Contraponto 9350 - "O 'azarão' Russomanno vai despencar? "

 

29/09/2012

O “azarão” Russomanno vai despencar? 

Do Blog do Miro - 29/09/2012

http://ajusticeiradeesquerda.blogspot.com.br
Por Altamiro Borges

Os analistas políticos queimam os neurônios para descobrir os motivos da liderança de Celso Russomanno na disputa pela prefeitura de São Paulo. Ele sempre foi apontado como um “azarão” nesta eleição. Seu partido, o PRB, tem pouca capilaridade; seu tempo na rádio e televisão é pequeno; ele não conta com o apoio de máquinas públicas. Mesmo assim, Russomanno surge em todas as pesquisas com mais de 30% das intenções de voto e parece já ter garantido a sua vaga no segundo turno. O que explica este “fenômeno eleitoral”?

Teses para todos os gostos

Há teses para todos os gostos. A que foi explorada no início da campanha é que ele seria um ser midiático, apresentador da TV Record num programa popularesco de defesa do consumidor. Com o fim das suas aparições na telinha, em função da legislação eleitoral, muitos analistas apostaram na sua acelerada queda. Mas esta tese não se confirmou. Russomanno continuou crescendo nas pesquisas. Na sequência, surgiu a hipótese de que sua força decorria do apoio da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd), que é dona da TV Record.

Estabeleceu-se, então, uma verdadeira guerra santa – que de santa não tem nada. A Igreja Católica, rival dos evangélicos, divulgou em suas centenas de paróquias em São Paulo um duro sermão contra o candidato da Iurd. A mídia demotucana, numa atitude que beira o preconceito religioso, amplificou o manifesto da Cúria Metropolitana. Apesar do ataque “religioso”, Russomanno manteve a liderança nas pesquisas. O que explica, então, este fenômeno eleitoral? Não há respostas conclusivas, mas apenas hipóteses mais consistentes.

Eleitorado conservador

A primeira é que o candidato do “nanico” PRB é expressão do conservadorismo de São Paulo. Das sete eleições realizadas na maior cidade do país após o fim da ditadura militar, a direita fisiológica venceu em quatro – com Jânio Quadros, Paulo Maluf, Celso Pita e Gilberto Kassab. O PT elegeu duas prefeitas, Luiza Erundina e Marta Suplicy, em momentos políticos excepcionais. E o PSDB, expressão da direita “moderna”, ganhou apenas uma vez, com José Serra. Ou seja: o eleitorado conservador é muito influente na capital paulista.

Esta hipótese foi reforçada pela última pesquisa do Datafolha. Ela testou os “valores” dos paulistanos e indicou que o conservadorismo é forte na capital paulista. A sondagem, que apontou Russomanno com 35% das intenções de voto, indicou que junto aos eleitores que se identificam com as ideias conversadoras – sobre religião, sexo, violência e outras – a sua vantagem passa dos 41%. Os homens (61), os mais velhos (média de 49 anos) e as pessoas com ensino fundamental (42%) comporiam a parcela do eleitorado ultraconservador.

Vácuo político 

A segunda hipótese é que Celso Russomanno ocupou o vácuo na disputa entre o tucano José Serra e o petista Fernando Haddad. Ambos contam com apoios de máquinas públicas, têm mais tempo no horário eleitoral de rádio e tevê e possuem estruturas partidárias mais sólidas. Desde o início da campanha, tudo levava a crer que se estabeleceria uma polarização entre PSDB e PT – o que, de fato, não faz parte da tradição das eleições na capital. Serra e Haddad passaram a se digladiar, deixando o espaço aberto para Russomanno.

Maria Cristina Fernandes, editora de política do jornal Valor, há muito alertou para esta possibilidade. “Ao lançar um desconhecido do eleitor e sem o aval de Marta, o PT deixou o flanco aberto para o candidato do PRB ocupar... No flanco tucano, foram a desaprovação de Gilberto Kassab e a rejeição de Serra que abriram espaço para o candidato do PRB entrar no condomínio de classe média baixa que um dia foi de Maluf e onde PSDB e PSD passaram a se revezar”. Para ela, Russomanno cresceu neste vácuo político.

Nova fase da campanha

Com o seu discurso vazio em defesa do consumidor e sem sofrer ataques dos adversários, o “azarão” do PRB se consolidou como alternativa viável. Agora, porém, as coisas começam a mudar. Na última semana, Celso Russomanno foi alvo de duros ataques, principalmente do tucano. Os rivais alertam que ele não tem consistência, é um candidato “laranja” e com uma trajetória sinistra. A última pesquisa Datafolha já apontou queda de 5% nas suas intenções de voto – o primeiro baque desde o início da campanha. 

Será que Russomanno vai conseguir sustentar a sua folgada vantagem. A conferir!
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Contraponto 9349 - "Aécio surtou. Crise de abstinência?"

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29/09/2012

Aécio surtou. Crise de abstinência?


 
 

Por Altamiro Borges


Aécio Neves, o cambaleante presidenciável tucano, perdeu de vez a compostura. Ele abandonou o figurino do “mineiro conciliador” e agora só xinga e rosna. Hoje, em Salvador, ele atacou o petista Fernando Haddad, candidato a prefeito de São Paulo. “Eu não acho que ele seja um idiota, como às vezes parece ser”. Ontem, em Maceió, ele acusou o ex-presidente Lula de ser “chefe de facção”. A histeria talvez revele o desespero do senador mineiro, que assiste a queda dos candidatos demotucanos nas eleições municipais deste ano.

Na capital baiana, onde foi apoiar o demo ACM Neto, que despenca nas pesquisas e já perdeu a liderança para Nelson Pelegrino (PT), Aécio Neves reagiu a uma crítica de Fernando Haddad, que propôs que o tucano lesse mais livros para elaborar seu programa para 2014. “Eu queria agradecer ao candidato Haddad por ter lançado a minha candidatura à Presidência da República... Como eu não acho que ele é um idiota, como parece ser às vezes, certamente ele quis dar uma estocada no Lula”, atacou o preconceituoso.

Já na capital alagoana, o presidenciável do PSDB – que não goza da alta popularidade de Dilma e Lula – deu uma de otário. “O que nós estamos percebendo é que o lulismo da forma que existia, quase messiânico, que apontava o dedo e tudo seguia na mesma direção, não existe mais”. A inveja é realmente uma m... Ele também desferiu ataques rasteiros ao ex-presidente, chamando-o de “líder da facção” dos “mensaleiros”. Sobre o mensalão tucano em Minas Gerais, o senador novamente preferiu se fingir de morto!

Pelo jeito, Aécio Neves surtou de vez. Isto talvez explique algumas cenas constrangedoras em bares cariocas – já que em Minas Gerais ele fica pouco. A melhor resposta ao destempero do cambaleante presidenciável tucano foi dada, no twitter, pelo ator e candidato a vereador em São Paulo, Paulo Cesar Pereio. “Aécio xingou Lula e agora ataca Haddad. O que é isso, porra?! Crise de abstinência?". 
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Contraponto 9348 - " Dalmo Dallari critica vazamento de votos e diz que mídia cobre STF 'como se fosse um comício' "


29/09/2012


Dalmo Dallari critica vazamento de votos e diz que mídia cobre STF 'como se fosse um comício'

Do Viomundo - publicado em 28 de setembro de 2012 às 22:25  

 




Dalmo Dallari: “Eu não sei se devido à pressão muito forte da imprensa ou por qualquer outro fator, o fato é que o próprio STF tem cometido equívocos, agido de maneira inadequada de forma a comprometer a sua própria autoridade”. Foto: Enemat

por Conceição Lemes


Nessa quinta-feira 27, aconteceu a 29ª audiência da Ação Penal 470, o chamado mensalão. A cada semana de julgamento – foi-se a nona –, aumentam os questionamentos sobre os aspectos jurídicos, éticos e midiáticos do processo (leia AQUI e AQUI).


“Eu não sei se devido à pressão muito forte da imprensa ou por qualquer outro fator, o fato é que o próprio Supremo Tribunal Federal (STF)  tem cometido equívocos, agido de maneira inadequada de forma a comprometer a sua própria autoridade”, alerta o jurista Dalmo de Abreu Dallari. “Muitas vezes ministros antecipam a veículos o que vão dizer no plenário.”

“Na semana passada, o jornal o Estado de S. Paulo noticiou com todas as letras o que Joaquim Barbosa iria dizer no seu voto naquele dia 
(leia AQUI e AQUI). E o ministro disse exatamente aquilo que o jornal havia antecipado. Isso foi um erro grave do ministro”, afirma Dallari. “O ministro não deve – jamais! — entregar o seu voto a alguém, seja  quem for, antes da sessão do tribunal, quando vai enunciá-lo em público.  É absolutamente inadmissível comunicar o voto antes, compromete a boa imagem do Judiciário, a imagem de independência e imparcialidade.”

“Muitas vezes a imprensa, querendo o sensacionalismo e se antecipar aos outros órgãos de comunicação, busca penetrar na intimidade do juiz”, observa Dallari. “Isso é contrário ao interesse público. Não tem nada a ver com a liberdade de imprensa. Isso eu chamaria de libertinagem de imprensa.”

Dalmo de Abreu Dallari é um dos mais renomados e respeitados juristas brasileiros. Professor emérito da Faculdade de Direito da USP, ele está perplexo com o comportamento da mídia assim como dos juízes do STF no julgamento da Ação Penal 470.

Viomundo – Em
artigo no Observatório da Imprensa que nós reproduzimos, o senhor aborda impropriedades cometidas pela mídia na cobertura de assuntos jurídicos. Também diz:  no chamado mensalão, “a imprensa que, vem exigindo a condenação, não o julgamento imparcial e bem fundamentado do processo, aplaudiu a extensão inconstitucional das competências do Supremo Tribunal e fez referências muito agressivas ao ministro Lewandowski – que, na realidade, era, no caso, o verdadeiro guardião da Constituição”. Isso é culpa só da imprensa?

 Dalmo Dallari
— Nos últimos anos, se passou a dar muita publicidade ao Judiciário. A sua cobertura, porém, está sendo feita sem o preparo mínimo, como se fosse um comício.
Acontece que o Judiciário, além de aspectos técnicos muito peculiares, tem posição constitucional e responsabilidade diferenciadas. Em última instância, decide sobre direitos fundamentais da pessoa humana. Então, é necessário tomar muito cuidado no tratamento das suas atividades. Exige de quem vai produzir a matéria um preparo técnico mínimo. Exige também o cuidado de não transformar em teatro aquilo que é decisão sobre direitos fundamentais da pessoa humana.

Eu acho que, no caso do chamado mensalão, está se dando tratamento absolutamente inadequado. Eu não sei se devido à pressão muito forte da imprensa ou por qualquer outro fator, o fato é que o próprio Supremo Tribunal tem cometido equívocos, agido de maneira inadequada de forma a comprometer a sua própria autoridade.

Viomundo – Mas o próprio Supremo está se deixando pautar pela mídia, concorda?

Dalmo Dallari – Sem dúvida alguma. Eu entendo que de parte a parte está havendo erro. Os dois [STF e mídia] deveriam tomar consciência de suas responsabilidades, da natureza dos atos que estão sendo noticiados, comentados, para que não se dê este ar de teatro que estamos assistindo.

Às vezes uma divergência entre ministro parece clássico de futebol, um Fla-Flu, um Palmeiras-Corinthians. Entretanto, quem acompanha a área jurídica, sabe que é normal divergência entre os julgadores.

É por isso que a própria Constituição brasileira – e não só brasileira, isso é universal –,  as constituições preveem tribunais coletivos, porque se pressupõe que é preciso um encontro de opiniões para que, com equilíbrio, independência, colocando os interesses da Justiça acima de tudo, se chegue a uma conclusão majoritária.

Nem é necessário que as conclusões sejam todas unânimes. Existe, sim, a previsão da conclusão majoritária, o que implica o reconhecimento de que haverá divergências.

Viomundo – A mídia às vezes antecipa como o ministro vai votar no dia seguinte. O que representa isso para um processo?

Dalmo Dallari — Isso é muito sério. Leva à conclusão de que houve uma interferência na formação da opinião do ministro. Ele não agiu com absoluta independência, com a discrição, a reserva que se pressupõe de um ministro de um tribunal superior.

Na semana passada, o jornal O Estado de S. Paulo  noticiou com todas as letras o que o ministro Joaquim Barbosa iria dizer no seu voto naquele dia  (leia AQUI e AQUI).

Como é que esse jornalista sabia antes o que o ministro iria dizer? Esse jornalista participou da elaboração do voto, da intimidade do ministro, quem sabe até inferiu nele?  Será que sugeriu use esta palavra e não aquela? Ou, pior, sugeriu algum encaminhamento?
Como o ministro Joaquim Barbosa disse exatamente o que o jornal havia antecipado
(leia AQUI e AQUI),ficou comprovado que ele permitiu a presença do jornalista no momento em que ele estava elaborando o seu voto.

Isso é absolutamente inadmissível, compromete a boa imagem do Judiciário, a imagem de independência e imparcialidade. Portanto, houve, sim, um erro do órgão de imprensa, mas houve, sem dúvida, um erro grave do ministro que se submeteu a esse tipo de participação.

Viomundo – O ministro Joaquim Barbosa pode apenas ter entregue ou comentado  o seu voto ao jornalista antes…

Dalmo Dallari – Mas foi antes da sessão. Isso está errado! O ministro vai enunciar o seu voto em público numa sessão do tribunal.  Ele não deve – jamais! — entregar o seu voto a alguém, seja  quem for, antes da sessão. Até porque durante a sessão ele vai ouvir colegas, vão surgir situações novas, pode ser que ele aperfeiçoe o seu voto, introduza alguma coisa. Efetivamente, o voto só deve ser enunciado na hora do julgamento. Por isso, reitero: foi um erro grave do ministro Joaquim Barbosa.

Viomundo — Professor, que outros equívocos nesse julgamento comprometem o processo?

Dalmo Dallari Pessoas que não têm “foro privilegiado” – a maioria, diga-se de passagem — estão sendo julgadas originariamente pelo Supremo Tribunal. Esse é um erro fundamental e mais do que óbvio. É uma afronta à Constituição, pois essas pessoas não têm “foro privilegiado” e devem ser julgadas inicialmente por juízes de instâncias inferiores.  A Constituição estabelece expressamente quais são os ocupantes de cargos que serão julgados originariamente pelo Supremo Tribunal. (Os rifos em verde negritado são do ContrapontoPIG)

 
Viomundo – Em que casos o acusado deve julgado originariamente pelo Supremo Tribunal Federal e não por alguma instância inferior?

Dalmo Dallari – Estão nomeados no artigo 102 da Constituição. No inciso I, dispõe-se, na letra “b”, que o Supremo Tribunal tem competência para processar e julgar, originariamente, nas infrações penais comuns, “o Presidente da República, o Vice-Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros [do STF] e o Procurador Geral da República”. Em seguida, na letra “c”, foi estabelecida a competência originária para processar e julgar “nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, os membros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas da União e os chefes de missão diplomática de caráter permanente”.

Portanto, o Supremo está julgando originariamente pessoas que não se enquadram nessas hipóteses. Isso é grave, porque essas pessoas não têm aquilo que se chama “foro privilegiado”.  A expressão “privilegiado” é discutível, porque, na verdade, é um privilégio que tem restrições.

A decisão nos casos de “foro privilegiado” começa e termina no Supremo Tribunal. Ao passo que os empresários, o pessoal do Banco Rural, o próprio Marcos Valério, que são pessoas que não ocupavam função pública, deveriam, em primeiro lugar, ser processados e julgados pelo juiz de primeira instância. Se condenados, teriam  direito a recurso a um tribunal regional. E, se condenados ainda, teriam recurso a um Tribunal Superior.  O Supremo, no entanto, acatou a denúncia e está julgando essas pessoas que não terão direito de recurso.

Viomundo – O que representa essa decisão do STF de julgar todos os acusados?

Dalmo Dallari
O direito de ampla defesa delas foi prejudicado. Isso vai contra a Constituição brasileira, que afirma que elas têm esse direito. Vai também contra compromissos  internacionais que o Brasil assumiu de garantir esse amplo direito de defesa.

Depois de terminado o julgamento, isso vai abrir a possibilidade de uma nova etapa. É fácil prever. Os advogados dos condenados sem “foro privilegiado” têm dois caminhos a seguir. Um, será uma denúncia a uma Corte internacional, no caso a Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA). O outro: eles poderão entrar também com uma ação declaratória perante o próprio Supremo Tribunal para que declare nulas as decisões, porque os réus não tinham “foro privilegiado”. E, aí, vai criar uma situação extremamente difícil para o Supremo Tribunal, que terá de julgar os seus próprios atos.

Viomundo – Na fase inicial do julgamento, o ministro Lewandowski levantou a questão do “foro privilegiado”…

Dalmo Dallari
De fato, essa questão foi suscitada, com muita precisão e de forma absolutamente correta, pelo ministro Ricardo Lewandowski. Ele fez uma advertência que tinha pleno cabimento do ponto de vista jurídico.

Entretanto, por motivos que não ficaram claros, a maioria dos ministros foi favorável à continuação do julgamento de todos os acusados pelo Supremo Tribunal. E prevaleceu a posição do ministro-relator Joaquim Barbosa que dizia que o tribunal deveria fazer o julgamento de todos sem levar em conta que muitos não têm “foro privilegiado”. O ministro Marco Aurélio Mello foi o único que acompanhou o voto do revisor.

Viomundo – No seu entender, o que levou o Supremo a agir assim?

 Dalmo Dallari — Eu acho que, em grande parte, a pressão da dita opinião pública feita através da imprensa. Eu acho que isso pesou muito. E, a par disso, pode ter havido também um peso das próprias convicções políticas dos ministros, porque eles claramente estão julgando contra o Direito. Eles não estão julgando juridicamente, mas politicamente.
Eu me lembro que, no começo, antes mesmo do julgamento, alguns órgãos da imprensa já diziam seria o “julgamento do século”.  Não havia nenhum motivo para dizerem isso.  Os julgamentos de casos de corrupção já ocorreram muitas e muitas vezes e não mudaram o comportamento da sociedade brasileira nem criaram jurisprudência nova.

O julgamento do chamado mensalão também não vai criar jurisprudência nova. Não há nenhum caso novo que houvesse uma divergência jurisprudencial e que somente agora vai ser unificado.  Não existe essa hipótese. Então, é um julgamento como outros que já ocorreram, com a diferença que há muitos réus e vários deles ocuparam posições políticas importantes. Mas, do ponto de vista jurídico, nada justifica  dizer que é um julgamento excepcional, menos ainda o julgamento do século.

Viomundo – O senhor apontaria algum outro equívoco?

Dalmo Dallari – Acho que os básicos são estes. Primeiramente, o STF assumir uma competência que a Constituição não lhe dá. Depois, essa excessiva proximidade dos ministros com a imprensa, antecipando decisões que serão tomadas numa sessão posterior. Acho que é um comportamento muito ao contrário do que se espera, se pode e se deve exigir da mais alta Corte do país. Isso também está errado do ponto de vista jurídico.

Viomundo – O ministro Lewandowski tem sido até insultado pela grande mídia por causa do julgamento do mensalão. O que acha disso?

Dalmo Dallari – A mesma imprensa que faz referências agressivas ao ministro Lewandowski é a que vem exigindo a condenação e não um julgamento imparcial e bem fundamentado de todos os casos. É a mesma imprensa que aplaudiu o STF, quando ele, no início do julgamento do chamado mensalão, passou por cima das nossas leis, extrapolando a sua competência. Nesse caso, o ministro Lewandowski tem sido o verdadeiro guardião da Constituição brasileira.

Viomundo – Em 2002, o senhor publicou um texto dizendo que a indicação de Gilmar Mendes para o STF representava a degradação do Judiciário. Em 2010, quando ministro defendeu a necessidade de dois documentos para o cidadão votar, o senhor, em entrevista, ao Viomundo, disse que a “Decisão de Gilmar Mendes prova que ele não tinha condições de ser ministro do STF.” Considerando que sobre o ministro Gilmar Mendes pesam várias acusações, não seria um contrassenso ele julgar a Ação Penal 470?


Dalmo Dallari – Claro que é uma contradição. Ele não tem condições morais para fazer esse julgamento.

Gilmar Mendes foi acusado de corrupção quando era Advogado Geral da União. Ele é dono de um cursinho em Brasília e, com dinheiro público, matriculou os seus auxiliares da Advocacia Geral da União no seu próprio cursinho. Ele estava nos dois lados do balcão: contratante e contratado.

A par disso, na questão indígena e em várias outras, ele revelou sempre uma parcialidade mais do que óbvia. Ele não é um ministro imparcial, equilibrado, que se orienta pela Justiça e pelo Direito. Ele é um homem arbitrário, que não tem respeito pelo Direito nem pela Constituição. Nem pela ética.

Viomundo – Teria mais algum alerta a fazer?

Dalmo Dallari — Eu gostaria que a própria imprensa advertisse os juízes dos tribunais quanto ao risco do excesso de exposição. Muitas vezes a imprensa, querendo o sensacionalismo e se antecipar aos outros órgãos de comunicação, busca penetrar na intimidade do juiz. Isso é contrário ao interesse público. Não tem nada a ver com a liberdade de imprensa. Isso eu chamaria de libertinagem de imprensa.

Leia também:



Rubens Casara: “Risco da tentação populista é produzir decisões casuísticas”
Gurgel pede arquivamento de denúncia contra deputado que recebeu de Cachoeira
Luiz Flávio Gomes: “Um mesmo ministro do Supremo investigar e julgar é do tempo da Inquisição”

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Contraponto 9347 - Charges on line do Bessinha


29/09/2012

Charges do Bessinha (759 a 761)

 



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sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Contraponto 9346 - "Demos já preparam o enterro "


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28/09/2012

Demos já preparam o enterro 

 


Do Blog do Miro - 28/09/2012
 

Por Altamiro Borges


Saiu hoje na coluna de Ilimar Franco, no sítio do jornal O Globo:

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O naufrágio do DEM

As conversas sobre a fusão do DEM ao PMDB serão retomadas. O DEM vai sair do pleito bastante enfraquecido. Sua direção já vinha sendo pressionada por deputados estaduais e federais, que precisam de bases fortes para enfrentar a reeleição. Seu presidente, o senador José Agripino (RN), interditou o debate no início do ano. Naquela época, o partido sonhava vencer em quatro capitais.

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No início da campanha eleitoral deste ano, os demos até que ficaram animadinhos com algumas pesquisas e, principalmente, com o incentivo da mídia “privada”. Teve gente que garantiu que o DEM sairia ressuscitado do pleito municipal. Alguns “calunistas” já davam como certa a vitória de ACM Neto, em Salvador, e de Moroni Torgan, em Fortaleza. Mas a vida é dura e o eleitorado não é bobo. As sondagens na reta final da campanha serviram como ducha de água fria nas aspirações dos oligarcas conservadores do DEM.

Diante do possível desastre, os demos voltam a debater a extinção da legenda. Logo após as eleições de 2010, com a derrota de vários coronéis da sigla (como Marco Maciel, Heráclito Fortes, César Maia, entre outros), o DEM entrou em crise. De mais de 100 deputados eleitos no reinado de FHC, a sigla despencou para 45 deputados. Para piorar, em meados do ano passado, alguns demos resolveram abandonar o barco a deriva e fundar o PSD, sob o comando do prefeito da capital paulista, Gilberto Kassab.

Mas como desgraça pouca é bobagem, no início deste ano pintou o escândalo de corrupção envolvendo um dos principais chefões do partido, Demóstenes Torres, o “mosqueteiro da ética” da Veja. O senador, já lançado pela sigla como presidenciável para 2014, foi cassado por suas ligações com a máfia de Carlinhos Cachoeira. O discurso da ética, utilizado por uma legenda mais suja do que pau de galinheiro, caiu em total descrédito. A última chance de sobrevida era a eleição municipal. Mas, pelo jeito, também não deu certo.
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Contraponto 9345 - "As aves de rapina aplaudem a Espanha moribunda


28/09/2012 

As aves de rapina aplaudem a Espanha moribunda

 



Do Carta Capital - 28/09/2012

Lá fora, nas ruas e nas praças, todos parecem saber o que não sabe Mariano Rajoy, não sabe seu governo, não sabem os defensores dessa política suicida aplicada a ferro e fogo com o pseudônimo de austeridade e o aplauso dos matadores do futuro: que quanto mais de aplica essa receita, mais se mata o enfermo. Que enquanto se salvam bancos e especuladores, num ciclo tão vicioso como obsceno, enterram-se gerações. O artigo é de Eric Nepomuceno.

Eric Nepomuceno

 

Na tarde da sexta-feira 28 de setembro o Banco da Espanha – o Banco Central dos espanhóis – apresentou o relatório de uma auditoria feita por uma empresa norte-americana sobre a situação bancária do país. O relatório indica o volume de dinheiro necessário para salvar os bancos espanhóis: 53 bilhões e 745 milhões de euros.

A auditoria foi encomendada pela União Européia, pelo Banco Central Europeu e pelo FMI, que são os que ditam a política econômica do país. Alguns bancos terão de receber dinheiro urgentemente para não virar purê, outros não escaparão de ser diretamente liquidados.

Um dia antes – a quinta-feira, 27 de setembro – o governo de Mariano Rajoy havia divulgado sua proposta de orçamento enviada ao Congresso. Aumento de impostos, novos cortes, mais medidas restritivas. Os cortes chegam à casa dos 38 bilhões de euros, que serão destinados a pagar os juros escorchantes cobrados pelos compradores de títulos públicos espanhóis. Quanto às outras medidas, algumas foram tão restritivas que altos funcionários da Comissão Europeia se disseram surpresos, já que são mais ferozes do que as impostas pelo organismo ao governo espanhol.

As duas notícias – novos cortes drásticos no orçamento e mais bilhões para salvar bancos quebrados – receberam aplausos entusiasmados da Comissão Europeia, do Eurogrupo, do Banco Central Europeu, do FMI. Todos disseram, em uníssono, que são passos importantes para conter o déficit do governo e sobretudo para o reforço, a viabilidade e a confiança no setor bancário do país. O presidente do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker, chegou a expressar sua satisfação ao constatar que as necessidades da banca espanhola são inferiores aos 60 bilhões de euros. É que o Eurogrupo havia previsto 100 bilhões, e a urgência ficou bem abaixo desse valor. Há, diz ele, uma cômoda margem de segurança.

Houve ainda cumprimentos entusiasmados do Banco Central Europeu e do Fundo Monetário Internacional, o FMI, que disse que as necessidades da banca espanhola serão atendidas para que seja construído um sistema financeiro mais sólido, que irá ajudar a reativar o crédito e apoiar o crescimento.

Não encontrei menção alguma a outros dados que essas notícias irão provocar. Por exemplo: o desemprego, que ronda a casa dos 25% e é o maior da Europa, poderá chegar facilmente a 27% da mão de obra no ano que vem. A retração do PIB, que segundo o governo deverá ser de 0,5%, seguramente será o triplo. As exigências da Comissão Europeia continuarão pressionando por novas medidas, a começar pela flexibilização das leis trabalhistas, que contribuam para afundar ainda mais o país no pantanal em que já se encontra. As manifestações populares deixarão, cada vez mais, de serem de protesto, para serem de ira.

É assombrosa a inépcia do governo espanhol, é assombrosa a frieza com que os que realmente mandam nos rumos do país tratam números e dinheiros como se tudo se resumisse numa contabilidade estrita cujo único objetivo é salvar os bancos.

Será que ninguém vê o que acontece nas ruas do país? Nas casas do país? Nas famílias do país? Será que ninguém vê o que acontece com quem tem menos de 30 anos e padece um desemprego que chega a 50% da população dessa faixa etária?

É impossível que não vejam. É impossível semelhante estupidez diante de uma realidade cristalina, de um quadro tão nítido.

O que era um furacão monetário de ventos ruins se transformou numa crise econômica que se transformou numa crise social que se transformou numa crise política que se transformou numa crise institucional – nessa velocidade, sem vírgula alguma de respiro. Agora, a Catalunha, região mais rica do país, com um PIB superior ao de Portugal, resolve se dar ares de grandeza e torna a falar, desta vez em voz alta, em declarar sua autodeterminação, que é uma maneira sutil de dizer independência.

Que país é capaz de enfrentar, de uma vez só, tantas crises desse tamanho? O sistema bancário está em crise, a fuga de capitais anda na casa de bilhões de euros, as contas públicas estão em estado crítico, o governo é governado do exterior e desprezado pela população. O estado de bem-estar social é, cada vez mais, de profundo mal-estar. Pouca gente se considera representada pelos políticos, há uma atmosfera espessa, pesada, carregada de fúria. Essa atmosfera rescende a cravo de defunto, a vela de velório ao lado do leito onde um país moribundo agoniza. E lá fora, nas praças e nas ruas, o que se vê é uma imensa multidão de olhos atônitos por não compreender como é que o país se empantanou tanto, de olhos irados por não compreender como é que deixaram a Espanha se transformar no que se transformou.

Lá fora, nas ruas e nas praças, todos parecem saber o que não sabe Rajoy, não sabe seu governo, não sabem os defensores dessa política suicida aplicada a ferro e fogo com o pseudônimo de austeridade e o aplauso dos matadores do futuro: que quanto mais de aplica essa receita, mais se mata o enfermo. Que enquanto se salvam bancos e especuladores, num ciclo tão vicioso como obsceno, enterram-se gerações.


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Contraponto 9344 - "Julgamento ou espetáculo no STF? "


28/09/2012

Julgamento ou espetáculo no STF? 

 

 

Por Rodrigo Vianna, no blog Escrevinhador:


Depois do fracasso do golpe contra Chavez, em 2002, a tática dos conservadores mudou. Em Honduras, o golpe teve aparência de legalidade. No Paraguai, o caminho foi o mesmo. E no Brasil? Não chega a ser golpe o que vemos no Supremo Tribunal Federal. Mas é um ensaio. Ministros do STF emparedados pela mídia. Magistrados que invertem a lógica e afrontam a Constituição, exigindo que réus comprovem sua inocência. Entramos na era da “presunção da culpa”. E, pra completar, um julgamento marcado – e fatiado – para coincidir com as eleições. Coincidências?


Não se trata de negar os atos ilícitos praticados por gente do PT e “partidos aliados”. Erraram, que sejam punidos. Mas e o Mensalão tucano, muito anterior: por que não foi a julgamento até hoje? E o escândalo do Cachoeira: por que o Procurador Geral sentou em cima da investigação que atingia líder e governador da oposição, além de jornalistas da revista mais suja do Brasil?

O País precisa ficar atento. Os golpes do século XXI não são mais liderados por generais. Mas tramados em redações e TVs, com apoio de políticos de oposição. Se o golpe do delegado não deu certo em 2006, e o golpe da bolinha de papel fracassou em 2010, avança-se para uma técnica mais sutil.


Diante desse ensaio de “golpe institucional”, a sociedade reage. Confira abaixo oa Carta ao povo brasileiro, que pede o óbvio: o STF precisa agir como Poder Judiciário, e não como um órgão a serviço da oposição midiática.


Para assinar a carta, envie um e-mail para
cartaabertaadesoes@gmail.com

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CARTA ABERTA AO POVO BRASILEIRO

Desde o dia 02 de agosto o Supremo Tribunal Federal julga a ação penal 470, também conhecida como processo do mensalão. Parte da cobertura na mídia e até mesmo reações públicas que atribuem aos ministros o papel de heróis nos causam preocupação.

Somos contra a transformação do julgamento em espetáculo, sob o risco de se exigir – e alcançar – condenações por uma falsa e forçada exemplaridade. Repudiamos o linchamento público e defendemos a presunção da inocência.

A defesa da legalidade é primordial. Nós, abaixo assinados, confiamos que os Senhores Ministros, membros do Supremo Tribunal Federal, saberão conduzir esse julgamento até o fim sob o crivo do contraditório e à luz suprema da Constituição.