quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Contraponto 1071 - "Um 'país' chamado América do Sul"

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30/12/2009
"Um 'país' chamado América do Sul"

Vermelho - 29 de Dezembro de 2009 - 0h09

Eron Bezerra *

O ano de 2009 se encerra daqui há 3 dias. Faz-se necessário fazer o balanço das questões estratégicas que ficaram pendentes na esfera pessoal, partidária e de caráter nacional. Ao mesmo tempo precisamos mirar 2010 como o espaço temporal no qual nós procuraremos superar esses desafios, dentre os quais o de construir um “país” chamado América do Sul.
Não se trata de delírio e muito menos de concepção expansionista. Apenas uma constatação óbvia: a imperiosa necessidade da consolidação do MERCOSUL enquanto bloco comercial e geopolítico, construído sob uma unidade tal que possa agir como se fosse, de fato, um único grande “país” chamado América do Sul.

A bem da verdade não há nada de novo nessa pretensão “sulista”.

Os “irmãos” do Norte já criaram o NAFTA (Estados Unidos, Canadá e México) e se articulam em diferentes espaços econômicos sob sua absoluta hegemonia. E quase nos impuseram a ALCA, o que na prática representaria a anexação econômica de todo o continente americano.

Os europeus superaram séculos de guerras e rivalidades para se juntar no Mercado Comum Europeu. Agem como um estado. Tem moeda comum, legislação apropriada, parlamento específico e comando rotativo. Também são economias bastante assimétricas, o que talvez se constitua no principal desafio da consolidação de um bloco geopolítico e não apenas de um amontoado de países sob a hegemonia de um dos membros, como invariavelmente ocorre nos blocos liderados pelos EUA.

O objetivo é mercado, recursos naturais, força geopolítica e, desejável, busca de identidades culturais dilaceradas com o tempo.

A consolidação do MERCOSUL segue essa lógica. E como fica evidente estamos bem mais atrasados do que os europeus, apesar de suas divergências seculares. Não podemos atrasar mais, sob pena de assistirmos as decisões globais passarem ao largo de nossos interesses.
É preciso força política e econômica para ser ouvido, especialmente quando se sabe que a economia do mundo hoje está concentrada no “clube dos trilhionários”, não mais do que 13 países cujo PIB individual ultrapassa a cifra de 1 trilhão de dólares. Esse seleto clube é composto por EUA, China, Japão, Alemanha, França, Reino Unido, Itália, Brasil, Canadá, Índia, Espanha, Rússia e Austrália, onde está concentrado 3,7 bilhões de pessoas e nada menos do que algo como 45 trilhões de dólares de PIB.

Os 13 potenciais países membros representam um mercado de 400 milhões de pessoas, um PIB da ordem de 3 trilhões de dólares, abundância de recursos naturais estratégicos (água, petróleo, gás, nióbio, floresta, etc.) e grande capacidade na produção de alimentos. Seria a 3ª e 5ª, respectivamente, maiores população e economia do planeta. Um dos maiores do mundo, sob qualquer aspecto.

E se o MERCOSUL fizer parceria com outros países emergentes, como China, Índia e Rússia, transformaria esse bloco num contingente de mais de 3 bilhões de habitantes e numa economia superior aos 11,5 trilhões de dólares. Seria, portanto, a 1ª população e a 2ª maior economia do planeta. Nada desprezível.

Se a importância e a necessidade dessa união parecem tão evidentes, resta o questionamento do por que até hoje tal pretensão não se efetivou plenamente.

As respostas são múltiplas.

Começa, sem dúvidas, com o antagonismo expressamente manifestado pelos Estados Unidos, a quem não interessa qualquer articulação política ou econômica que fora de seu controle.
Como a direita sempre foi servil e cordata com os pleitos do imperialismo americano, era previsível que enquanto gente como FHC estivesse no comando de seus países, o MERCOSUL enfrentaria dificuldades para se consolidar.

O sabotamento, porém, não cessa com a derrota da direita na maioria dos países sul-americanos. Eles ainda ocupam posições políticas e econômicas relevantes e destas posições sabotam como podem qualquer pretensão integracionista que não seja do agrado de seus amos norte-americanos.

O caso mais evidente dessa conduta foi a campanha ostensiva contra a entrada da Venezuela no MERCOSUL comandada pelos senadores do PSDB e PFL no Senado da República do Brasil.

O difícil é imaginar como a direita sabotou o tempo todo a consolidação desse bloco e cria dificuldades até mesmo para o ingresso da Venezuela que é a 2ª economia da America do Sul, atrás apenas do Brasil.


* Engenheiro Agrônomo, Professor da UFAM, Deputado Estadual Licenciado, Secretário de Agricultura do Estado do Amazonas, Membro do CC do PCdoB.
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