sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Contraponto 814 - "Diatribe estudantil do Globo"


27/11/2009

"Diatribe estudantil do Globo"

Óleo do Diabo - Miguel do Rosário 25/11/2009

As críticas políticas do Globo às vezes parecem saídas da boca de um estudante radical. Um radicalzinho de direita, mas igualmente utópico, exagerado e maniqueísta quanto qualquer trostkista de 17 anos. Pra começar, tudo é esquerdismo. Claro, da ótica de um seguidor fanático das facções ideológicas mais reacionárias dos EUA, tudo é esquerdismo. Receber o Ahmadinejad, presidente do Irã, é fruto de "um esquerdismo infantil que tenta afirmar a independência diante dos EUA".


(Clique para ampliar).

É impressionante como eles pintam a bajulação mais vil dos EUA com a tinta bege do cinismo antiesquerda. Sempre contra o Brasil, sempre a favor dos Estados Unidos. O pior é que essa submissão, hoje sabemos muito bem, é politicamente inútil e economicamente negativa. O Brasil já não ganha nada, se é que ganhou algum dia, alinhando-se aos segmentos mais conservadores da potência do norte.

Na verdade, a coisa é ainda mais absurda. Porque há hoje uma clivagem na Casa Branca. De um lado, uma esquerda, ligada à Obama, a certo número de democratas e a vastos setores da opinião pública americana, com ênfase na intelectualidade acadêmica; de outro, Hillary Clinton, a direita, e a mídia americana, com ênfase na Fox e nos lobbies industriais ligados à guerra.

Mas a Casa Branca é ocupada por Obama, que vive um momento de recuo, de queda de popularidade, de crise política enfim. O Globo, que já teve editorialistas que apoiaram Obama (seguindo a onda moderninha), agora se alinha, decididamente, às alas mais conservadoras da política norte-americana.

O Globo fala em "adular" Ahmadinejad. Que adular! Desde quando receber um presidente, numa visita inclusive que foi pedida pelo próprio Ahmadinejad, é adular? Nada tem sentido. A semântica de tudo é distorcida. O Globo diz o seguinte:

"Não ajudará as ambições do Planalto, em termos de promoção da boa imagem de Lula no exterior, adular um Ahmadinejad mantido no poder por um golpe militar da Guarda Revolucionária - depois de uma eleição fraudada -, tudo em nome de um esquerdismo infantil que tenta afirmar a independência diante dos EUA - o "império".


É inacreditável. Em todo o período, não há uma frase verdadeira. Vamos:

1) Ajudará sim. O Brasil é respeitado justamente por sua política externa altiva e independente. Se fosse seguir os conselhos do Globo, Lula não teria conquistado o prestígio que tem. O Globo só pensa em adular os EUA, mas não entende que, ao fazê-lo, não agrada nem aos EUA, porque ninguém respeita quem não se respeita. Lula fez muito bem em receber Ahmadinejad e conversar com ele e ajudar a distender as relações internacionais entre o Irã e alguns países ocidentais. Ademais, o mundo não é só EUA, Inglaterra, França e Alemanha. Existem mais de 200 países no mundo, e todos olham com orgulho para o Brasil quando Lula exerce uma política externa independente. O Globo representa um ponto-de-vista simplesmente burro. O comércio exterior do Brasil com o mundo em desenvolvimento, hoje, é muito maior do que com o mundo desenvolvido. A "imagem no exterior" de Lula, portanto, deve ser avaliada por esse prisma também. Com que fundamentos o Globo afirma que a visita de Ahmadinejad não contribuirá para a "boa imagem de Lula no exterior"? Não acertou uma vez sequer no passado recente e quer dar uma agora de especialista na imagem exterior de Lula?

2) É mentira também que Ahmadinejad "foi mantido no poder por um golpe militar". Ele foi eleito duas vezes pelo sufrágio universal. Doideira do Globo. Golpe militar aconteceu no Brasil, em 1964, apoiado entusiasticamente pelo Globo. Golpe militar aconteceu na Venezuela, em 2002, apoiado pelo Globo. Golpe militar acaba de ocorrer em Honduras, igualmente apoiado pelo Globo.

3) A eleição não foi fraudada. Houve suspeita de fraude lançada pela oposição. Venhamos e convenhamos. Se quem perde eleição tivesse o poder final de decretar se houve fraude ou não, não haveria mais eleições no mundo. O Irã é um país soberano, com instituições republicanas capazes de julgar ou não se houve fraude. Eles decidiram que não houve fraude. Houve erros, problemas, talvez até mesmo tentativas de fraude, mas, segundo eles, nada que alterasse o resultado das urnas e justificasse o gasto de outros centenas de milhões de dólares na realização de outro pleito. É preciso respeitar a soberania do Irã.

4) Quem tem esquerdismo infantil? A política externa de Lula é respeitada por todos os países do mundo, inclusive por mandatários de direita, como Nicolas Sarkozy, da França, e Angela Markel, da Alemanha, para não falar das boas relações que Lula manteve com George Bush, o anti-esquerdista por excelência. Onde está o esquerdismo infantil? O último problema de Lula e de sua diplomacia é esquerdismo infantil. O Brasil tem uma política externa inteligente e merece ser aplaudida e está sendo aplaudida no mundo inteiro, ponto final. Lula, sorry periferia, é o cara. Em vez de atrapalharem, sentem-se e aprendam. Quem sabe não conseguirão fazer melhor no futuro, se ficarem quietos e observarem como se faz?

5) Ahmadinejad foi visitar Bolívia e Venezuela. O Globo é tão burro que finge não entender as relações econômicas entre países produtores de petróleo e gás.

6) Por fim, uma crítica que está me dando nos nervos é essa obrigação agora do Brasil cobrar direitos humanos do Irã. Que moral o Brasil tem para fazer isso? O Brasil que mata dezenas de milhares de jovens por ano, em execuções frias realizadas por policiais corruptos? Que moral tem o Brasil? O Brasil é um dos países com as maiores taxas de criminalidade no mundo, e agora quer ensinar o Irã, uma civilização de milhares de anos, a resolver os seus problemas com segurança pública? O Irã trata mal os seus prisioneiros? Ãã. Macaco olha seu rabo. Brasil, olhe para suas próprias prisões. Olhe para seus orfanatos. Que eu saiba, no Irã não existem milhares de crianças abandonadas nas ruas, cheirando crack, como temos no Rio, São Paulo, Recife e em todas as grandes cidades. Que eu saiba, em Teerã, não temos milhares de pessoas catando lixo para comer e dormindo bêbadas pelas ruas, como vemos nas metrópoles brasileiras. Olha teu rabo, macaco!

7) Esse histeria anti-iraniana não nos permite enxergar algumas coisas. O Irã é um dos países em desenvolvimento com maior índice de jovens estudando em universidades. Os choques políticos de hoje, inclusive, são o resultado dialético dessa situação. O contato com uma realidade maior, mais complexa, faz os jovens aspirarem por mais liberdade, o que é natural, e aí entram em choque com as autoridades. Essa é a dinâmica dos conflitos no Irã. É uma dinâmica que, hora ou outra, terá que ser superada, mas outros problemas irão surgir, naturalmente. Nenhum país está livre de conflitos.

8) Sobre a questão dos judeus, a situação é mais ridícula. A imagem que se está passando para a opinião pública é que foram os iranianos os responsáveis pelo holocausto. Admito que é irritante ouvir o Ahmadinejad falar sobre o holocausto, mas, tirante as traduções mau feitas, não podemos esquecer que quem matou os judeus foram europeus de olhos azuis, cabelos louros, residentes num país chamado Alemanha. Então, senhores judeus, não confundam as coisas. Ahmadinejad pode falar besteira, e a comunidade internacional deve mesmo interpelá-lo, como fez Lula, para que se retifique e esclareça as suas posições. Mas quem matou os judeus foram os alemães, e não os iranianos. Está combinado?

9) Ninguém contou a história recente do Irã, e essa omissão impede os brasileiros de formarem uma opinião política um pouco mais embasada. Por exemplo, os jornais não lembraram que o Irã viveu uma das guerras mais cruéis da história recente. Saddam Hussein, para quem não se lembra, era amiguinho dos EUA e da Inglaterra, e atacou o Irã. A guerra Irã X Iraque resultou na morte de mais de um milhão de iranianos. E todos sabiam que Saddam recebia dinheiro, armas e relatórios de inteligência dos EUA. Creio que esse fato não tenha ajudado os iranianos a ficarem mais tolerantes, pluralistas, pacifistas, ambientalistas e fãs do rock 'n roll.

10) O resto do editorial contém outras mentiras. É demais para mim. Num editorial de duas laudas, o Globo consegue fazer umas duzentas manipulações, forçando-me a um trabalho dez vezes maior que o editorialista que o escreveu. Porque eu devo contextualizar cada fato diacronica e sincronicamente, ou seja, fazendo a contextualização histórica e a contextualização geopolítica. Tudo bem, prefiro muito mais o meu esforço do que o golpismo tacanho e fácil do editorialista do Globo, que não tem nome, não tem ética, não tem patriotismo. Patriotismo? Isso é um terrível palavrão nas redações do Globo. Tornou-se cafona, bizarro, excêntrico, esquerdista... Enquanto os cineastas americanos, de Quarantino a Clint Eastwood, prosseguem enfiando a bandeira americana em todas as cenas, nossos intelectuais midiáticos parecem achar que apenas o amor por seu time de futebol é permitido. Por isso, para o Globo, é tão absurdo, ou esquerdismo, o Brasil "tentar afirmar a sua independência diante dos EUA".

11) Daí entrevistam diplomatas da era fernandista, e todos se alinham caninamente às opiniões midiáticas, o que apenas serviu para mostrar o quão incompetente eles são, e o quão subserviente e medíocre era a política externa de FHC. Mesmo diante do sucesso político, diplomático, comercial, e inclusive na mídia estrangeira, da política externa do governo Lula, eles não dão o braço a torcer e continuam achando que o certo era ver nossos diplomatas tirando o sapato em aeroportos, pedindo dinheiro ao FMI e silenciando-se obsequiosamente nos grandes debates mundiais.

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Reitero que não tenho nenhuma simpatia especial pelo Irã. Sempre ouvi histórias escabrosas de lá, de suas prisões, do uso de tortura, de punições medievais. Mas sei que são práticas muito antigas. Eu sou um ocidental do tipo ultraliberal, desbocado, libertário. Acredito no Estado do bem estar social, e acredito na liberdade e na democracia. E acho que o Estado deva ser laico, radicalmente laico e mesmo ateu. Essas diatribes contra o Irã, contudo, são infantis e irresponsáveis, e servem a interesses específicos da indústria bélica norte-americana, que estão chantageando Obama e, sobretudo, não tem nada a ver com a gente. Nos EUA, os lobbies armamentistas ainda anunciam em jornais e bancam campanhas políticas. E aqui? O que esses babacas ganham com essa bajulação descarada de segmentos que, inclusive, nem tem mais tanto apoio junto à Casa Branca?

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Azenha matou a charada. José Serra é, seguramente, o candidato de Washington. Sua gestão com certeza será muito benéfica, para eles, e desastrosa, para nós. Já que os conservadores de lá não podem destituir Obama, eles vão tentar, ao menos, impor alguém amigo no país mais poderoso ao sul do Rio Grande...

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E olha que nem comentei a tentativa do Globo de criar uma crise política e diplomática entre Brasil e EUA... Cansei disso por hoje.

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27/11/2009
Tinha que ser ela, a Veja.

Blog de um sem mídia - quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Caetano atacou a desonestidade da Veja; O Globo fez que não ouviu
O Globo escondeu de seus leitores a melhor parte da entrevista que Caetano Veloso concedeu ao jornalista e blogueiro Jorge Bastos Moreno. O depoimento omitido na edição desta quinta-feira (26) do jornal — mas apresentado em áudio na Rádio do Moreno — é uma enfurecida denúncia de Caetano contra a revista Veja.

Por André Cintra
“É preciso que se saiba que é abominável, que há muita desonestidade ali”, desabafa o cantor e compositor baiano, em tom enérgico. “A classe média instruída brasileira não lê direito a Veja, não acredita tanto. Mas a medianamente instruída se pauta muito por uma possível honestidade jornalística daquele veículo. Esse gente precisa ser avisada de que não há, nem de longe, sombra de honestidade naquilo.” (Grifo, em verde, do ContrapontoPIG)

Classificando os articulistas da Veja como “desonestos”, Caetano citou um caso exemplar da desmoralização pela qual passa a principal revista da Editora Abril, da família Civita. O episódio ocorreu em setembro de 1995, quando Veja publicou uma ma matéria desaforada contra o DJ norte-americano Moby. “Ele diz tanta besteira que até parece o brasileiro José Miguel Wisnik — aquele sujeito que acredita que o termo ‘Big Bang’ é uma apropriação anglo-saxã da origem do universo”, escreveu Sérgio Martins na revista.

Wisnik, no entanto, jamais teceu qualquer comentário do gênero sobre a expressão “Big Bang”. A tal “apropriação” a que Veja se refere foi feita, na realidade, por Caetano, que escreveu para a revista e corrigiu as informações. Além de a carta nunca ter sido publicada, Veja voltou a atribuir a “apropriação” a Wisnik mais duas vezes. “Nunca mudaram, são desonestos. Eu não falo com eles. Outras coisas houve antes, mas essa é inacreditavelmente canalha”, resume Caetano, na entrevista.

O cantor também faz um alerta sobre “toda essa crítica à esquerda, ao governo Lula, tudo aquilo que você vê na Veja”. Segundo Caetano, “a classe média instruída brasileira não lê direito a Veja, não acredita tanto. Mas a medianamente instruída se pauta muito por uma possível honestidade jornalística daquele veículo. Esse gente precisa ser avisada de que não há, nem de longe, sombra de honestidade naquilo”.

Confira abaixo o trecho omitido da entrevista de Caetano.

Jorge Bastos Moreno – Você tem muita inimizade dentro da música?
Caetano Veloso – Não tenho. Mesmo o Geraldo Vandré — que foi a única briga que eu tive propriamente dessa maneira, naquela altura... Quando eu estava já exilado em Londres, ele foi me visitar. Choramos juntos, estava nevando, conversamos um bocado. Depois que ele voltou pro Brasil, já estive com ele algumas vezes. Mas já faz algum tempo que ele se afastou.

JBM – O Fagner, você não dá muita atenção às criticas dele?
CV – O Fagner, eu reagi numa outra (ocasião)... Mas de vez em quando eu encontro ele. Toda vez que eu encontro com ele, a gente conversa, ri, brinca. Mas curiosamente ele é sempre convidado por órgãos da imprensa... Quando eles querem brigar comigo, chamam o Fagner, entendeu?

A Veja, uma vez, botou o Fagner nas “Páginas Amarelas”. Porque a Veja tinha sido violentamente desonesta comigo e com o José Miguel Wisnik, fez coisa assim, de uma calhordice explícita, entendeu?

JBM – Qual era o episódio mesmo?
CV – O episódio é tremendo, é comprido de contar. É muita coisa ruim, insistentemente, cinicamente, acintosamente desonesta e ruim, feita abertamente. É o seguinte... Um dia, eu abri a Veja, estava escrito assim: Moby (sabe aquele músico eletrônico americano?) é quase tão chato quanto Wisnik. Mas eu pensei: o que será que tem Moby a ver com Wisnik?

Aí, no texto, assinado por Sérgio Martins — um daqueles idiotas que escrevem na Veja —, dizia assim: “Moby sai pelo mundo pedindo desculpas porque, como americano, ele tem como presidente George W. Bush”. O Moby fazia isso no show dele. Aliás, eu acho que fez muito bem em fazer. Se eu fosse americano, eu faria a mesma coisa, porque Bush era horrível mesmo. Então ele (Moby) era americano, tinha direito de fazer.

Então o sujeito diz assim: “Ele disse isso inclusive na Venezuela”. O Hugo Chávez ainda não havia tomado nenhuma decisão muito nitidamente antidemocrática — como de uma certa forma foi tomando, pouco a pouco, ou tenta tomar. De todo modo, era um presidente eleito, tinha passado por um plebiscito, em que ele tinha ganho. Enfim, não dava para dizer que o Moby não podia dizer que era contra Bush na Venezuela porque Hugo Chávez era pior.

Mas, por mim, problema do direitismo grosseiro da Veja, que o articulista de música popular quer agradar. É da linha editorial, mas o cara tem que agradar os superiores. Era isso, uma coisa assim. Mas tudo bem. Por mim, eu não tenho nada com isso. Não sou nem de esquerda para ter raiva disso, só por isso. Acho errado, mas tudo bem. Pobre, malfeito, desonesto, mas problema deles.

Mas fiquei me perguntando: o que que o Zé Miguel Wisnik tem a ver com isso? Aí eles seguiam o negócio e diziam assim: “Pior do que isso só o José Miguel Wisnik, que disse que o “Big Bang” era uma expressão da língua inglesa — e que, por isso, mostra a dominação da língua inglesa, não sei o quê...”.

Bom, esse pensamento sobre o “Big Bang” era meu, assinado, entende? Está no encarte do disco A Foreign Sound — você pode ir lá na loja e ler. Eu escrevi em inglês, aliás — depois eu mesmo traduzi para o português. Mas o texto original foi feito em inglês e nasceu do seguinte: eu li uma declaração do cientista (Fred Hoyle), em inglês, que criou o termo “Big Bang” para a teoria.

Outros cientistas tinham bolado vários nomes técnicos, complicados, e ele falou: “Não, tem que se chamar ‘Big Bang’, porque vai tomar conta da mente de todo mundo. É uma expressão bem inglesa, curta, sintética, vai se popularizar”. E ele se orgulhava disso — eu li a entrevista dele, entendeu?

Aos 80 anos, esse cientista inglês, já não concordava com a teoria do “Big Bang”. Ele morreu contra, dizendo que a teoria estava errada. Cientificamente, ele não aprovava mais a teoria do “Big Bang” — mas se orgulhava, dizia ele, de ter cunhado o termo que fez tanto sucesso.

Então eu, comentando isso — porque eu fiz um disco com canções inglesas —, disse assim: “A língua inglesa está em toda parte. Não apenas nos filmes de ficção científica. Nas galáxias mais distantes, os seres mais esquisitos falam inglês, como até o nascimento do universo ficou ligado a uma expressão de língua inglesa, da qual o cientista se orgulha tanto”. Na verdade, ele não resistiu, porque “Big Bang” é muito parecido com “big mac”. É tão cultura pop americana que pegou — e ele se orgulha. Isso é para a gente ver a onipresença da língua inglesa, entendeu?

Bom, eu e o Zé Miguel fomos convidados pelo grupo Corpo para fazer a música. E fizemos um negócio chamado Onqotô — que é “onde que eu estou?”, em “mineirês”, e que era como se fosse uma pergunta a respeito de nossa situação diante do universo. Toda a temática do negócio era esse. Então ele e ele, dando entrevista, mencionamos essa coisa que eu já tinha escrito a respeito do “Big Bang”, entendeu?

Aí o cara da Veja botou como se fosse uma ideia do Zé Miguel “ridícula” e “pior do que o Moby ter dito que o Bush era uma vergonha”. Eu achei uma coisa um pouco forçada. De onde saiu isso? Aí perguntei ao Zé Miguel: “Por que isso?”. E o Zé Miguel: “Não sei, porque outro dia já saiu um negócio na Veja...”.

Aí foram me mostrar um negócio contra o Zé Miguel, contra o livro do Zé Miguel, um livro que o Zé Miguel tinha escrito. Um livro, aliás, muito bom, que tinha um negócio sobre Machado de Assis que era lindo e que eles esculhambaram na Veja — principalmente aqueles “intelectuais” que escrevem na Veja. Jerônimo Teixeira, não sei, odeia Zé Miguel — acha que tem que combater qualquer pessoal da USP ligado à esquerda. Eu não sei que porcaria é.

Aí eu peguei, como eu vi tudo isso, e escrevi uma carta pequena para a Veja, dizendo: “O texto sobre o ‘Big Bang’ é meu, está na contracapa do disco. O Hugo Chávez não é um ditador, o Zé Miguel...”. Uma coisa curta assim, mas bem...

JBM – Bem incisiva?
CV – Bem incisiva. E mandei. A Veja não publicou a minha carta.

JBM – Que coisa...
CV – Não publicou a minha cara... E eles repetiram, porque eles botaram naquele “Veja essa” (seção de frases da Veja), botaram a frase e botaram embaixo “José Miguel Wisnik, a frase mais ridícula desde a explosão do Big Bang”, um negócio assim.

JBM – Que coisa...
CV – Eles repetiram isso três vezes, mesmo eu mandando a carta. Eu botei no Blog do Noblat — eu mandei a carta que eu tinha escrito e um comentário contando tudo isso e dizendo como era absurdo. Eles mantiveram, repetiram três vezes. Quando foi o número anual do Ano-Novo, aquele número dourado, aquele negócio cafona que eles fazem, aí repetiram outra vez — “José Miguel Wisnik...”.

Nunca mudaram, são desonestos. Eu não falo com eles. Outras coisas houve antes, mas essa é inacreditavelmente canalha. Eu faço questão... Aí eu fico exaltado, entendeu? Num caso desse, eu fico exaltado.

JBM – Claro, com toda razão.
CV – E tenho desejo de ficar exaltado, porque é abominável, entendeu? É preciso que se saiba que é abominável, que há muita desonestidade ali. Por exemplo: toda essa crítica à esquerda, ao governo Lula, tudo aquilo que você vê na Veja, para mim desmorona.

A classe média instruída brasileira não lê direito a Veja, não acredita tanto. Mas a medianamente instruída se pauta muito por uma possível honestidade jornalística daquele veículo. Esse gente precisa ser avisada de que não há, nem de longe, sombra de honestidade naquilo. Porque eu sei! Eu vivi isso que eu estou contando e sei o grau de desonestidade que passa por ali e que domina ali.

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