quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Contraponto 1077 - Ano Novo


31/12/2009
Ano Novo
Chico Buarque de Hollanda

O rei chegou
E já mandou tocar os sinos
Na cidade inteira
É pra cantar os hinos
Hastear bandeiras
E eu que sou menino
Muito obediente
Estava indiferente
Logo me comovo
Pra ficar contente
Porque é Ano Novo

Há muito tempo
Que essa minha gente
Vai vivendo a muque
É o mesmo batente
É o mesmo batuque
Já ficou descrente
É sempre o mesmo truque
E que já viu de pé
O mesmo velho ovo
Hoje fica contente
Porque é Ano Novo

A minha nega me pediu um vestido
Novo e colorido
Pra comemorar
Eu disse:
Finja que não está descalça
Dance alguma valsa
Quero ser seu par
E ao meu amigo que não vê mais graça
Todo ano que passa
Só lhe faz chorar
Eu disse:
Homem, tenha seu orgulho
Não faça barulho
O rei não vai gostar

E quem for cego veja de repente
Todo o azul da vida
Quem estiver doente
Saia na corrida
Quem tiver presente
Traga o mais vistoso
Quem tiver juízo
Fique bem ditoso
Quem tiver sorriso
Fique lá na frente
Pois vendo valente
E tão leal seu povo
O rei fica contente
Porque é Ano Novo
Porque é Ano Novo
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Contraponto 1076 - "Lei da Anistia: Tarso nega crise com Ministério da Defesa"

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31/12/2009

"Lei da Anistia: Tarso nega crise com Ministério da Defesa"

Vermelho - 30 de Dezembro de 2009 - 15h50

O ministro da Justiça, Tarso Genro, disse nesta quarta-feira (30) que não há nenhuma controvérsia insanável entre o Ministério da Defesa e a Secretaria Especial de Direitos Humanos em relação ao decreto que institui o Programa Nacional de Direitos Humanos, assinado pelo presidente Lula no último dia 21.
Matérias publicadas na imprensa afirmam que o decreto deixou os militares irritados e o ministro da Defesa, Nelson Jobim, chegou a apresentar uma carta de demissão a Lula por discordar de pontos do programa. (Jobim defende militares contra revisão da Lei de Anistia)

Tarso Genro também negou que Jobim e os comandantes militares tivessem pedido demissão. Não há nenhum pedido de demissão e nenhuma controvérsia insanável entre o Ministério da Defesa e a Secretaria Especial de Direitos Humanos. O presidente está tranquilo e vai resolver isso com sua capacidade de mediação depois de voltar de férias.

De acordo com o ministro, a situação não provocou qualquer anormalidade. Não tem nenhum tipo de alarme ou de preocupação. É um debate normal, que já vinha ocorrendo e que agora o presidente vai dar a palavra final, disse Tarso, após se reunir com Lula, no Palácio da Alvorada.

Agência Brasil
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Contraponto 1075 - "Jobim vazou a 'crise' para criá-la"

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31/12/2009
"Jobim vazou a 'crise' para criá-la"

Na foto, o Ministro Jobim, aquele que traiu seu presidente

Conversa Afiada - 31/dezembro/2009 10:28

Saiu na Folha (*), pág. A5, artigo de Janio de Feitas, “Por trás da coincidência”:

“Um episódio que seria do início da semana passada aparece, de repente, em vários jornais no mesmo dia (ontem), em versões não exatamente iguais, mas todas de igual gravidade: uma crise entre as Forças Armadas, por seus comandos e seu original ministro, e o presidente Lula.”

“O Ministro Nelson Jobim fica muito bem na lealdade aos comandantes e ao conjunto das Forças Armadas … Apesar de não ficar tão bem na lealdade ao Presidente da República …”

“Mas, o presidente não ficou e não está bem nesse caso. A rigor, mal, mesmo. No mínimo, porque, contestado e posto sob pressão para alguma forma de recuo – cada versão é, para ele, pior que a anterior.”

“ … há um propósito de agitação política, seguindo a mais inconveniente das receitas conhecidas: com a inclusão das Forças Armadas”.



O Conversa Afiada não pretende ler nas entrelinhas do que escreve o Janio , de resto um profissional que não se esconde “entre” ou nas linhas.

E que todos respeitam.

O Conversa Afiada sempre disse aqui que considera Nelson Jobim um traíra, um quinta-coluna.

Ele é tucano travestido de peemedebista.

Mais do que tucano, ele é serrista.

Zé Alagão e ele compartilharam o mesmo apartamento em Brasília, quando deputados.

Não se divide a cozinha e o banheiro com um inimigo …

Jobim considera Serra o maior Ministro da Saúde da História do Brasil (deve ser por causa das ambulâncias superfaturadas).

Nelson Jobim já jogou o Presidente Lula no Golpe de Estado da Direita, quando produziu uma babá eletrônica para derrubar o ínclito delegado Paulo Lacerda da ABIN.

E, ao tomar posse no cargo de Ministro da Defesa, tratou o antecessor, o notável brasileiro Waldyr Pires, com deselegância que não se aplica ao ritual republicano.

Quando o presidente Lula convidou Jobim para ministro, no dia seguinte a notícia saiu numa coluna do Otavinho na Folha (*), chamada “Painel”, que dispensa tratamento especial a Zé Alagão.

Jobim contou a Serra que contou à coluna do Otavinho.

Jobim trabalha com informação.

Agora, Jobim manipula o PiG (**) de novo e joga, de novo, o presidente Lula numa fria, ao ameaçar com a demissão, se for criada a “Comissão da Verdade”.

Clique aqui para ler “Se Lula fosse Mandela mandava Jobim embora”.

Portanto, Janio de Freitas ajuda o Conversa Afiada a formular suas hipóteses.

Jobim vazou a “crise” para criá-la.

Para jogar o Presidente numa fria.

E fazer o jogo do PiG (**), ou seja, do Golpe.

E o PiG (**) põe, ainda hoje, lenha na fogueira, para perseguir seu objetivo permanente: derrubar o Presidente Lula.

E essa seria uma “crise” de bom tamanho: bater nas portas dos quartéis e convocar os militares para o Golpe.

O mesmo PiG (**) que coonestou a intervenção militar no Brasil em 64 – clique aqui para ler sobre o papel do Lincoln Gordon, Lyndon Johnson e da CIA na queda do presidente João Goulart” – e o golpe em Honduras, agora, se prepara para dar um Golpe militar, sob as vistas do Gilmar Dantas (***), em pleno recesso.

Seria um cenário perfeito: o golpe militar ratificado pelo Supremo Presidente do Supremo, com o Congresso em recesso !

Perfeito !

No recesso, como se sabe, Gilmar Dantas (***) é capaz de coisas incríveis – clique aqui para ver o que ele fez com um suspeito de praticar atos de pedofilia e valer-se do cargo de prefeito para realizá-los
E o que liga Jobim a Gilmar Dantas ?

Fernando Henrique Cardoso.

O Farol de Alexandria, que iluminou a Antiguidade e foi destruído num terremoto, e indicou os dois para o Supremo.

Jobim convoca os militares, os militares dão o Golpe, e Ele, o Supremo Presidente do Supremo assina embaixo.

Viva o Brasil !

Depois de ser o “Homem do Ano” para o El País, o Monde
e uma das personalidades que marcaram a década segundo o Financial Times, falta um único encontro do Presidente Lula com a História do Brasil: revogar a Lei da Anistia e botar os torturadores na cadeia.

Paulo Henrique Amorim

Clique aqui para ler a entrevista com os procuradores Favero e Weichert.

Clique aqui para ler o artigo da procuradora Janice Ascari sobre o que aconteceu na Justiça brasileira, enquanto Gilmar Dantas (***) presidia o Supremo.

Clique aqui para ler sobre o “Cerco de Daniel Dantas a De Sanctis, na tentativa de escolher o juiz que vai julgá-lo”.

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quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Contraponto 1074 - "Jobim o 'muy amigo' de Lula


30/12/3009
Jobim, o “muy amigo” de Lula

Tijolaço - quarta-feira, 30 dezembro, 2009 às 11:50

Para você entender melhor as motivações do Ministro Nélson Jobim, transcrevo o insuspeito Estadão:

Em alguns setores do governo federal já é dada como mais que provável a saída de Nelson Jobim (PMDB) do cargo de titular do Ministério da Defesa. O motivo seria a forte amizade dele com o governador paulista e virtual candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra. O que se comenta é que essa proximidade o deixaria pouco à vontade no governo quando a campanha eleitoral entrasse na esperada fase de fogo cerrado.

Serra e Jobim são amigos desde a segunda metade da década de 80, quando foram eleitos para a Câmara e acabaram dividindo um apartamento funcional em Brasília. Até hoje, quando visitam São Paulo, o ministro da Defesa e sua mulher costumam reunir-se com o casal Serra.

Precisa dizer mais para ver que Jobim está “interessadíssimo” em fortalecer Lula?

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PITACO DO ContrapontoPIG

- Já notaram que quando se fala em inviolabilidade das urnas eletrônicas o Jobim dá um pulo "deste tamanho" ?

- E no episódio do falso grampo da conversa do Gilmar Dantas com Demóstenes Torres, por que Jobim se meteu?


- Jobim e Hélio Costa formam a dupla dos "muy amigos" de Lula.

Já é mesmo hora de caírem fora...
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Contraponto 1073 - Brasil, firme, sem ser subalterno ou arrogante

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30/12/2009
Santayana: Brasil, firme, sem ser subalterno ou arrogante

Viomundo - Publicado em 30 de dezembro de 2009 às 12:46
Atualizado em 30 de dezembro de 2009 às 12:54

Igualdade entre nações

por Mauro Santayana, JBOnline

O orgulho nacional é sentimento que se funda na consciência da igualdade entre os seres humanos. Quando partimos da ideia de que não somos superiores, assiste-nos a certeza de que tampouco somos inferiores. As vicissitudes históricas, assim como as limitações da natureza, podem fazer-nos conjunturalmente mais pobres ou mais ricos, mas não nos convertem em melhores ou piores.

A imprensa do mundo se tem dedicado aos êxitos conjunturais do Brasil com elogios que nos alegram. O presidente Lula é visto como a Personalidade do Ano pelo conceituado Le Monde, e outras publicações. Chefes de Estado a ele se referem com admiração, não só pelos resultados de sua política interna como também por sua capacidade de convencimento na diplomacia direta que vem exercendo, nestes meses de desafios internacionais.

Esse reconhecimento externo tem tido leituras divergentes em nosso país. Para muitos adversários do governo, trata-se de engodo. A oposição quer mostrar o presidente da República como um parvo, que se deixa dominar pela lisonja. É uma leitura, essa, sim, de néscios. O governo brasileiro tem, nestes anos e meses, afirmado, sem jactâncias, seu direito soberano de opinar nas questões internacionais que lhe dizem respeito, como as do aquecimento global, da paz no Oriente Médio, do comércio internacional e do equilíbrio geopolítico na América Latina. Quanto ao problema da preservação ecológica, nenhum outro país do mundo tem a autoridade de que dispomos para dizer o que pensamos. A História nos fez possuidores da maior biodiversidade tropical do planeta, que soubemos preservar com diplomacia, mas também com imensos sacrifícios humanos, e a cuja soberania não podemos renunciar.

Queremos parceiros no comércio internacional, com vantagens e concessões em rigorosa reciprocidade. Quanto à América Latina, não podemos aceitar a subgerência imperial que alguns nos pretendem impor. Não somos o “cachorro grande” do quarteirão, como certos ex-diplomatas se referem à posição econômica, geográfica e política do Brasil. Somos vizinho privilegiado, com fronteiras pacíficas com quase todos os países da América do Sul e não temos problemas com o resto do Hemisfério.

O embaixador Rubens Barbosa, que, ao se afastar compulsoriamente do Itamaraty, se dedica hoje a assessorar a Fiesp, assinou artigo sobre a Argentina em que trata do declínio do grande vizinho do Sul. Há, em seu texto – ainda que dissimulado em linguagem diplomática – referência à superioridade brasileira, o que não é bom para nós. Temos que entender as circunstâncias da Argentina que, a partir da queda de Hipólito Irigoyen, em 1930, vem passando por dificuldades institucionais, em situação pendular entre o peronismo e seus adversários, agravada com a tragédia dos governos militares, estimulados pelos norte-americanos.

Tanto como o nosso, o povo argentino tem direito à autoestima. Seu sistema educacional, reconhecidamente superior, sua cultura, seu desenvolvimento técnico e científico, são motivos de justo orgulho. Suas dificuldades são políticas, e serão resolvidas com a mobilização da cidadania. Rubens Barbosa diz que a Argentina pode escolher entre ser – diante do Brasil – o Canadá ou o México. É melhor que ela continue sendo a Argentina do Pacto ABC, a Argentina do Mercosul, a Argentina das mães da Praça de Maio, de Borges e Bioy Casares, de Cortazar e Carlos Gardel; a Argentina de San Martin, de Urquiza e de Mitre. E de Evita. O México é outra referência infeliz do embaixador. Seu povo é uma vítima histórica, de Cortez ao presidente Polk, e de Polk a Bush, com o Nafta. Sua tragédia é estar, como dizia Cárdenas, “tan lejos de Dios y tan cerca de Estados Unidos”.

O ministro Nelson Jobim prevê represálias contra o Brasil pelos países preteridos na compra de caças para a FAB. Temos o direito soberano de comprar o que nos interessa e onde nos interessa. Sua excelência, no entanto, disse que “corremos o risco de país grande”. Se ele nos adverte que devemos nos preparar contra isso, é porque tem razão. Mas convém observar que nossa grandeza está dentro das fronteiras nacionais e no convívio amistoso com os outros povos. É esse convívio, sereno, sem ser subalterno, firme, sem ser arrogante, que está sendo reconhecido no mundo inteiro. Dessa postura, que o Itamaraty expressa, não nos devemos afastar.
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Contraponto 1072 - "2009: a direita em desespero"

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30/12/2009
"2009: a direita em desespero"

Correio da Cidadania - 27-Dez-2009

Escrito por Wladimir Pomar*

Não há nada de estranho acontecendo na América Latina e no Brasil. Apenas ocorreu que, depois de anos de desorganização econômica e domínio das políticas neoliberais, as forças populares, em aliança ou não com setores da pequena burguesia e da burguesia, chegaram ao governo em diferentes países da região, desde o início do século XXI.

A rigor, não houve qualquer revolução social. É evidente que se podem considerar as vitórias eleitorais do metalúrgico Lula e do indígena Evo como revoluções culturais. Dentro das regras de perpetuação no poder das antigas classes dominantes, elas colocaram no governo personalidades oriundas de classes sociais cuja ascensão política era impensável, não só para os dominadores de sempre, mas também para muitos que se proclamavam, e ainda se proclamam, revolucionários.

Em nenhum caso houve a conquista do poder de Estado, nem a bancarrota do antigo sistema de dominação econômica e social. Em todos os países em que as forças populares chegaram ao governo, não ocorreram mudanças nos demais poderes do Estado ou, quando se deram, foram tópicas. E o capitalismo permaneceu sendo o modo de produção dominante, mesmo na Venezuela, cujo governo pretende avançar na construção socialista.

Nas condições em que ocorreram as vitórias eleitorais das forças populares, dificilmente poderia ser diferente. As massas populares deram a seus representantes o mandato de consertar, dentro das regras pseudo-democráticas existentes, as mazelas mais evidentes de seus países, a exemplo da miséria, fome, falta de forças produtivas industriais desenvolvidas, criminalização dos movimentos populares, extrema concentração da riqueza e ausência de soberania nacional.

As massas populares ainda não estão convencidas de que é necessário destruir o antigo sistema estatal e construir um novo, em que os direitos de participação democrática (não apenas eleitoral) possam ser exercidos pela maioria da população. Esta realidade, em que as massas populares conseguiram eleger partidos populares para o governo central, é um problema prático e teórico novo na realidade latino-americana. Como novo é o fato de que esses governos populares terão que desenvolver as forças produtivas com o concurso e também com os problemas e o caos do mercado e da economia capitalista.

Este tem sido o horror dos setores da esquerda que não abandonaram o voluntarismo e acreditam que podem solucionar as questões sem levar em conta a realidade concreta. Não concordam que os governos democráticos e populares, do Brasil e de outros países da América Latina, tenham se tornado, ou estejam se tornando, bons administradores do capitalismo, num contexto histórico muito peculiar. E mal percebem que uma das principais características desse ano que está findando consiste no crescente desespero da direita burguesa contra essa situação ambígua.

As tentativas de desestabilização dos governos de esquerda, através de todos os meios imagináveis (e também inimagináveis), foram a tônica da ação da direita política desses países durante 2009, em Honduras culminando com um golpe de Estado. Para essa direita não importa que o sistema capitalista esteja sendo bem administrado e obtendo lucros.

Ela não aceita que governos dirigidos pela esquerda se diferenciem dos governos das antigas classes dominantes. Abomina como populistas as políticas e medidas de redistribuição menos desigual da renda e de tratamento dos movimentos sociais como movimentos legítimos, sem criminalizá-los. Também não aceita que a antiga subserviência ao Império esteja sendo substituída por políticas externas soberanas. Nem que o Estado, partilhado por estranhos, interfira de forma crescente em seus negócios, inclusive construindo novas empresas estatais.

Ela parece haver se convencido, ao contrário de alguns setores da própria esquerda, de que as políticas acima, combinadas com o apoio à economia familiar e a movimentos produtivos solidários, gerenciados pelos próprios trabalhadores, possam resultar, mais cedo ou mais tarde, no crescimento da mobilização popular e em mudanças indesejáveis para as classes dominantes que, perdurando por mais tempo, podem estimular tendências e consciência socialistas.

As vitórias da esquerda no Equador, Paraguai, Uruguai e Bolívia estão açulando o desespero da direita brasileira e latino-americana. O ataque da Folha de São Paulo, de cunho fascista, na tentativa de desqualificar Lula como principal cabo eleitoral de Dilma Roussef, é apenas a parte visível do iceberg do reacionarismo da direita em relação a seu governo. Aliás, o mesmo reacionarismo que tentou desmembrar a Bolívia, vive inventando motivos para derrubar Chávez, militariza a Colômbia, busca emparedar Lugo e colocou Zelaya na geladeira.

Essa direita brasileira e latino-americana está sendo estimulada pelos fundamentalistas do Partido Republicano dos Estados Unidos, que consideram qualquer mudança à direita, no tabuleiro centro e sul-americano, uma ajuda à sua agressividade contra o governo Obama. Sonham com a reconquista direitista dos governos latino-americanos, para pressionar o governo Obama a ser menos frouxo com os impérios do mal.

Em tais condições, não será surpresa se 2009 for tido como preâmbulo de uma forte contra-ofensiva contra governos que uma parte da esquerda classifica de direitistas ou centristas.

*Wladimir Pomar é escritor e analista político.
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Contraponto 1071 - "Um 'país' chamado América do Sul"

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30/12/2009
"Um 'país' chamado América do Sul"

Vermelho - 29 de Dezembro de 2009 - 0h09

Eron Bezerra *

O ano de 2009 se encerra daqui há 3 dias. Faz-se necessário fazer o balanço das questões estratégicas que ficaram pendentes na esfera pessoal, partidária e de caráter nacional. Ao mesmo tempo precisamos mirar 2010 como o espaço temporal no qual nós procuraremos superar esses desafios, dentre os quais o de construir um “país” chamado América do Sul.
Não se trata de delírio e muito menos de concepção expansionista. Apenas uma constatação óbvia: a imperiosa necessidade da consolidação do MERCOSUL enquanto bloco comercial e geopolítico, construído sob uma unidade tal que possa agir como se fosse, de fato, um único grande “país” chamado América do Sul.

A bem da verdade não há nada de novo nessa pretensão “sulista”.

Os “irmãos” do Norte já criaram o NAFTA (Estados Unidos, Canadá e México) e se articulam em diferentes espaços econômicos sob sua absoluta hegemonia. E quase nos impuseram a ALCA, o que na prática representaria a anexação econômica de todo o continente americano.

Os europeus superaram séculos de guerras e rivalidades para se juntar no Mercado Comum Europeu. Agem como um estado. Tem moeda comum, legislação apropriada, parlamento específico e comando rotativo. Também são economias bastante assimétricas, o que talvez se constitua no principal desafio da consolidação de um bloco geopolítico e não apenas de um amontoado de países sob a hegemonia de um dos membros, como invariavelmente ocorre nos blocos liderados pelos EUA.

O objetivo é mercado, recursos naturais, força geopolítica e, desejável, busca de identidades culturais dilaceradas com o tempo.

A consolidação do MERCOSUL segue essa lógica. E como fica evidente estamos bem mais atrasados do que os europeus, apesar de suas divergências seculares. Não podemos atrasar mais, sob pena de assistirmos as decisões globais passarem ao largo de nossos interesses.
É preciso força política e econômica para ser ouvido, especialmente quando se sabe que a economia do mundo hoje está concentrada no “clube dos trilhionários”, não mais do que 13 países cujo PIB individual ultrapassa a cifra de 1 trilhão de dólares. Esse seleto clube é composto por EUA, China, Japão, Alemanha, França, Reino Unido, Itália, Brasil, Canadá, Índia, Espanha, Rússia e Austrália, onde está concentrado 3,7 bilhões de pessoas e nada menos do que algo como 45 trilhões de dólares de PIB.

Os 13 potenciais países membros representam um mercado de 400 milhões de pessoas, um PIB da ordem de 3 trilhões de dólares, abundância de recursos naturais estratégicos (água, petróleo, gás, nióbio, floresta, etc.) e grande capacidade na produção de alimentos. Seria a 3ª e 5ª, respectivamente, maiores população e economia do planeta. Um dos maiores do mundo, sob qualquer aspecto.

E se o MERCOSUL fizer parceria com outros países emergentes, como China, Índia e Rússia, transformaria esse bloco num contingente de mais de 3 bilhões de habitantes e numa economia superior aos 11,5 trilhões de dólares. Seria, portanto, a 1ª população e a 2ª maior economia do planeta. Nada desprezível.

Se a importância e a necessidade dessa união parecem tão evidentes, resta o questionamento do por que até hoje tal pretensão não se efetivou plenamente.

As respostas são múltiplas.

Começa, sem dúvidas, com o antagonismo expressamente manifestado pelos Estados Unidos, a quem não interessa qualquer articulação política ou econômica que fora de seu controle.
Como a direita sempre foi servil e cordata com os pleitos do imperialismo americano, era previsível que enquanto gente como FHC estivesse no comando de seus países, o MERCOSUL enfrentaria dificuldades para se consolidar.

O sabotamento, porém, não cessa com a derrota da direita na maioria dos países sul-americanos. Eles ainda ocupam posições políticas e econômicas relevantes e destas posições sabotam como podem qualquer pretensão integracionista que não seja do agrado de seus amos norte-americanos.

O caso mais evidente dessa conduta foi a campanha ostensiva contra a entrada da Venezuela no MERCOSUL comandada pelos senadores do PSDB e PFL no Senado da República do Brasil.

O difícil é imaginar como a direita sabotou o tempo todo a consolidação desse bloco e cria dificuldades até mesmo para o ingresso da Venezuela que é a 2ª economia da America do Sul, atrás apenas do Brasil.


* Engenheiro Agrônomo, Professor da UFAM, Deputado Estadual Licenciado, Secretário de Agricultura do Estado do Amazonas, Membro do CC do PCdoB.
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Contraponto 1070 - "Os sapatos do William Bonner"

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30/12/2009
"Os sapatos de William Bonner"

Vermelho - 30 de Dezembro de 2009 - 0h08

William "Ruimner"

Sidnei Liberal *

William Bonner, do Jornal Nacional, costuma dizer que todas as noites sua equipe tenta colocar um elefante dentro de uma caixa de sapatos. Sempre conseguem. Trata-se da configuração do jornal de maior audiência na TV brasileira. Significa que grande quantidade das notícias produzidas é jogada na lata do lixo e outras tantas somente são divulgadas após lapidar edição que envolve a escolha de enquadramentos, incidências e aparas.
Por ficarem de fora, não serão discutidas pelo público: o “lixo”, outros enquadramentos, outras incidências, outras maneiras de ver e de apresentar os temas.

É o que se denomina agendamento (agenda setting), teoria bastante conhecida em todo o mundo por qualquer estudante de comunicação, desde os anos 70, que revela como os meios de comunicação determinam a pauta (agenda) para a opinião pública. Ou seja, resolvem o que e de que forma – de que ângulo, de que ponto de vista, sob que aspecto ou profundidade – nós, indefesos leitores/ouvintes, devemos discutir a história de cada dia. Pois, para muitos, o que não deu no Jornal Nacional, a caixa de sapatos de Bonner, não aconteceu.

Tem-se no agendamento o instrumento de impor ao leitor/ouvinte uma carga de opiniões político-ideológicas ou culturais que interessam às instâncias de poder vinculadas aos donos do veículo de comunicação. Dito de outra forma, a linha ideológica nasce de modo “espontâneo”, das necessidades dos profissionais da comunicação de manter uma relação de boa convivência e conforto em seus postos de trabalho. Ou seja, a linha ideológica da notícia nasce não só do perfil intelectual e cultural do jornalista, de suas relações e afinidades ou do seu compromisso social, mas também e sobretudo do tipo de (in)dependência profissional com seu veículo empregador.

De qualquer forma, para a unanimidade dos estudiosos não há isenção na produção de qualquer matéria jornalística, mesmo a que não é rotulada como opinativa. E assim, o ouvinte/leitor recebe o “benefício” do agenda setting para não precisar pensar. Já na década de 20, dizia o Estadão: “Um verdadeiro jornal constitui para o público uma verdadeira bênção. Dispensa-o de formar opiniões e formular ideias. Dá-lhes já feitas e polidas, todos os dias, sem disfarces e sem enfeites, lisas, claras e puras” (Editorial do O Estado de São Paulo, de 14/01/1928).

Pode-se inferir então que um mergulho no “lixo” e nas aparas, e um exame por ângulos e critérios ideológicos diversos no noticiário jornalístico, certamente produziriam caixas de sapatos diferentes da de Bonner. Um mergulho e um exame que serão facultados a qualquer ouvinte/leitor quando o veículo de comunicação lhe oferecer os diversos ângulos e a totalidade dos fatos, para que exerça criticamente sua análise e sua escolha. Será, enfim, a oportunidade de poder formar sua opinião, sua versão dos fatos.

Para que isso aconteça, a sociedade precisa se dar conta de que existe um direito que a Constituição lhe garante: o Direito à Informação. Informação em sua integralidade, que permita acesso a uma leitura crítica, personalizada, liberta das amarras opinativas unidirecionais viciadas. Democraticamente aberta a múltiplas interpretações e juízos. Múltiplas caixas de sapatos...

Um novo olhar

Uma amostragem do que “não aconteceu” (o lixo e as aparas do Bonner) pode ser vista no noticiário dos últimos dias:

Na última quinta-feira (24/12), o prestigiado jornal francês Le Monde escolheu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva como "o homem do ano de 2009. Por seu sucesso à frente de um país tão complexo como o Brasil, por sua preocupação com o desenvolvimento econômico, com a luta contra as desigualdades e com a defesa do meio-ambiente”.

Poucos dias antes, Lula foi escolhido pelo jornal espanhol El País a primeira das cem personalidades mais importantes do mundo ibero-americano em 2009. Com direto a foto de capa inteira e perfil assinado pelo próprio primeiro-ministro da Espanha, José Luis Zapatero. "Homem que assombra o mundo", "completo e tenaz", “por quem sinto uma profunda admiração", escreveu o premiê espanhol.

Neste dia 29 de dezembro, o jornal britânico Financial Times escolheu o presidente brasileiro como uma das 50 personalidades que moldaram a última década, porque “é o líder mais popular da história do Brasil”. “Charme e habilidade política... baixa inflação... programas eficientes de transferência de rendas...", diz o jornal.
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Há nestas notícias da imprensa internacional o reflexo de um novo dia, de um novo tempo de novos sonhos. Um novo olhar do mundo sobre o Brasil. No entanto, para o leitor/ouvinte dos nossos jornalões, simplesmente nada disso aconteceu.

* Médico, membro da Direção do PCdoB – DF

(Os grifos em verde negritado são do ContrpontoPIG)
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Contraponto 1069 - "O pósanticontra muitoantespelocontrário-Lula"

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30/12/2009
"O pósanticontra muitoantespelocontrário-Lula"

Carta Maior
- 29/12/2009

Uma das chaves da propaganda anti-Dilma é a de que o cavaleiro conservador que entrar na liça não será um “anti-Lula”, mas sim um “pós-Lula”. Olhando-se para esse comportamento da nossa direita na frente externa, vê-se logo que isso é um fraseado sem pé nem cabeça.

Flávio Aguiar*

Para a direita brasileira o fim de ano não podia ser pior, apesar de Serra se manter na frente, nas pesquisas para o Planalto. Só deu presidente Lula: prêmio Houphouët-Boigny da Unesco, título de doutor honoris causa na Universidade de Hamburgo (depois da de Lyon), personalidade do ano para o jornal El País, elogiadíssimo pelo premiê Zapatero, sucesso em Copenhague (apesar do fracasso da conferência) e para culminar, personalidade do ano para o jornal Le Monde. De quebra, o chanceler Celso Amorim foi elogiadíassimo como profissional da área por seu colega espanhol, que também não regateou apalusos à política externa brasileira.

E por onde o nome de Lula ou o próprio passa, não faltam aplausos: assim foi perante a platéia de empresários em Hamburgo, em Portugal, na Grã-Bretanha, e em jornais conservadores (e sérios, do ponto de vista jornalístico), como The Economist, Financial Times, Frankfurter Allgemeine, ou progressistas, como o Süddeutschezeitung, ou até mesmo a revista Der Spiegel, conhecida por não dar moleza a políticos, seja de que lado forem. Para Lula, só elogios. Agora, neste final de fim de ano, o Financial Times nomeou Lula como uma das 50 personalidades que “moldaram a última década”. Segundo o FT, Lula é o político mais popular da história do Brasil, e seu governo implementou “programas de transferência de renda baratos, mas eficientes”. E nem falamos da Ópera Olímpica do Rio de Janeiro. Se Lula acabar ganhando algum Nobel da Paz, a nossa direita vai roer as unhas até os cotovelos. Mas certamente não dará o braço a torcer: vai continuar ressentida contra esse presidente que não só “não fala português direito”, como não fala “sequer uma única língua estrangeira”. Que vergonha! (para a nossa direita, é claro, por se prender a essas mesquinharias de segunda mão, já que lhe falta assunto).

Mas houve mais: perplexa, a direita brasileira viu evaporar-se seu plano de impedir a entrada da Venezuela no Mercosul; assistiu de cadeirinha à consagração de Evo Morales nas urnas de seu país, a de José Pepe Mujica, ex-tupamaro, no Uruguai. Ainda teve de encarar o fato de que a Bolívia está entre os países da América do Sul que mais crescem economicamente, o sucesso de suas políticas sociais, as do Equador, do Paraguai e as do próprio Brasil.

Restaram-lhe alguns prêmios de consolação, mas tão complicados quando reveladores do seu próprio caráter, por osmose ou metonímia (perdoem-me os palavrões; poderia dizer por contaminação ou proximidade). Um foi a enredada tibieza da política externa do governo Obama em relação à América Latina, que serviu de moeda de negociação com os republicanos em troca da liberação de nomeações diplomáticas para a região. Outro, pior ainda, foi o golpe de estado em Honduras e a leniência, para não dizer conivência ou cumplicidade, que ela apregoou em relação a ele. Outro ainda, ao apagar das luzes de 2009, foi a vitória de Piñera, o herdeiro do pinochetismo, no primeiro turno das eleições chilenas, que, ela espera, terá continuidade no segundo turno. Quer dizer: de aberto, tudo o que a nossa direita teve a exibir são compromissos com o passado de subserviência global e de práticas ditatoriais no nosso continente.

Para essa visão comprometida com o que nosso continente sempre teve de mais reacionário e oligárquico, durante o governo Lula a nossa política externa rompeu com a tradição de “pragmatismo” e enveredou por uma perigosa “politização”, embalada por compromissos ideológicos ou por “sonhos megalomaníacos”, como o de conquistar a qualquer preço uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU (esquecendo que essa é uma reivindicação brasileira desde a fundação desse organismo internacional). Para o pensamento da nossa direita, “pragmatismo” é reconhecer o golpe em Honduras, mas não as eleições (que sempre houve) na Venezuela, na Bolívia, no Paraguai, no Uruguai e por aí afora.

Ainda para essa visão: ao acolher Zelaya e ao posicionar-se frontalmente contra o golpe em Tegucigalpa, o Brasil ficou “isolado” na cena internacional. Quer dizer, para esse pensamento, o fato de a maioria esmagadora dos países da América Latina e do Caribe não terem reconhecido o golpe nada conta: só conta o fato de que o Brasil teve uma rusga (e não muito séria) com a claudicante política de Clinton/Obama para a região.

Essas questões ajudam a elucidar um aspecto do confronto eleitoral que se prepara em 2010. Uma das chaves da propaganda (já) anti-Dilma é a de que o cavaleiro conservador que entrar na liça não será um “anti-Lula”, mas sim um “pós-Lula”. Olhando-se para esse comportamento da nossa direita na frente externa e suas expectativas, vê-se logo que isso é um fraseado sem pé nem cabeça. Trata-se sim de virar a mesa no sentido anti-horário, quer dizer, anti-Lula, provocando uma regressão histórica de grande monta, assim como a assertiva de FHC de que seu governo poria fim “à era Vargas” não apontava para o futuro, como queria o ex-presidente, mas para o passado, restaurando cacoetes e o viés anti-social da República Velha ou dos Coronéis.

O mundo imaginário e sentimental em que grande parte da nossa direita vive é anacrônico, pautado por um liberalismo brasileiro à antiga, aquele liberalismo que não se liberou jamais de proteger sua condição de casta superior; que sempre preferiu entregar os dedos, as mãos inteiras, os pés e todo o corpo da nação a perder o privilégio dos seus anéis. E que vive embalada por um sonho da carochinha onde prima uma confusão dos Estados Unidos com Disneyworld e da Europa com o mundo de Sissi (que me perdoe a Romy Schneider, uma grande atriz). E por um pesadelo, para eles, chamado Brasil, povoado agora por um povão que vem se revelando difícil de manter nos antigos apriscos excludentes e currais eleitorais.

Uma última observação, quase um desvio de assunto, mas ainda assim seria “a digressão pertinente”. No elogio de Lula nas páginas do Le Monde (24/12/2009, 11h32), o jornalista Eric Fottorino, escreveu: “Desde sua criação, Le Monde, marcado pelo espírito de análise de seu fundados, Hubert Beuve-Méry, quer ser um jornal de (re)construção, também de esperança; ele veicula, à sua maneira, uma parte do positivismo de Auguste Comte, tomando como causa sua os homens de boa vontade e suas proposições”.

Quer dizer, quase 153 anos depois de sua morte (1798 – 1857), Isidore-Auguste-Marie-François-Xavier Comte, um dos avós paternos da nossa bandeira republicana, continua a ditar parte do baralho da nossa canastra política. Que a nossa direita anseia em (re)transformar no pôquer de cartas marcadas onde só os caubóis ganham. Mas isso de Auguste Comte e o Brasil do século XXI é tema para outro artigo, que virá logo. Até 2010, e deixo aqui o lema que me encanta até hoje, como saudação de fim/novo ano às leitoras e leitores que me (e nos) acompanharam até aqui: “Um por todos, todos por um”.

*Flávio Aguiar é correspondente internacional da Carta Maior.
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Contraponto 1068 - "A direita e o suplício de Papai Noel"

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30/12/2009

"A direita e o suplício de Papai Noel"

Carta Maior - Quarta-Feira, 30 de Dezembro de 2009

O título de “Homem do Ano em 2009", concedido a Lula pelo Le Monde, representou " o suplício de Papai Noel" para um jornalismo que se esmerou, com textos de contornos cada vez mais nítidos, em servir como porta-voz das forças mais reacionárias da sociedade brasileira.

Gilson Caroni Filho*

O ano se encerrou com interessantes contrapontos. As várias distinções honoríficas, prestadas ao presidente brasileiro pela imprensa internacional, fizeram desmoronar, como castelos de areia, a enxurrada de ritos sumários com que, a cada edição diária, a mídia nativa tentou desconstruir as realizações do governo petista e o capital simbólico acumulado pelo campo democrático-popular. O título de “Homem do Ano em 2009", concedido a Lula pelo Le Monde, o mais conceituado jornal da terra de Lévi-Strauss, representou " o suplício de Papai Noel" (* *) para um jornalismo que se esmerou, com textos de contornos cada vez mais nítidos, em servir como porta-voz das forças mais reacionárias da sociedade brasileira

Mas não nos iludamos. Entre a ingenuidade de alguns e a esperteza de outros, a orientação geral é descarregar cargas de fait divers sobre as premiações, ocultando seu real significado. Não se está enaltecendo a habilidade política de um homem, seu carisma ou simpatia. O que está sendo reconhecido é algo de magnitude bem mais ampla: a pedagogia de fatos que, por sua evidência, ensinou à Nação que só passando a limpo suas instituições econômicas, políticas e culturais não corremos o risco de perder a nossa hora e a nossa vez.

O que está sendo objeto de elogios é um governo que não está perdendo a oportunidade de fazer as mudanças sociais há muito reclamadas. Contrariando as transições por alto que tanto marcaram a nossa história, Lula personifica a ruptura com acumulação de farsas que chega, hoje, ao seu ponto de ruptura definitiva. O que conquistamos não foi o aplauso fácil de um país que se verga a antigas estruturas coloniais, mas o respeito de quem assume o papel de sujeito da própria história.

A opção pelo aprofundamento da democracia, pelo crescimento com distribuição de renda, pela economia baseada no consumo interno e na redução de renda per capita é o que marca a mudança de rumo desde as eleições de 2002. Some-se a isso a afirmação de uma política externa independente, com práticas assertivas na afirmação de alguns princípios de relações internacionais, apontando para a busca de uma ativa coordenação soberana com atores relevantes da cenário mundial, e veremos que as diferenças conceituais com o antigo bloco de poder neoliberal são expressivas demais para não contrariar interesses arraigados na subalternidade, na soberania rarefeita.

Encerrado um ano exitoso, o que cabe às lideranças partidárias e à militância? Não confundindo realidade com desejo, buscar uma política de alianças que assegure maioria para a vitória de Dilma Rousseff nas próximas eleições. Dessa vez, há partidos políticos e quadros suficientemente qualificados para manter um projeto que se distingue pela coerência e nitidez de sua vocação transformadora. Mas não será um embate fácil. A direita dispõe de considerável capilaridade e do apoio logístico da mídia corporativa.

Diante deste quadro, as esperanças não repousam apenas em arranjos regionais. Para além das máquinas partidárias- e de elaborações teórico-metodológicas que precisam ser desenvolvidas- a capacidade de mobilizar a juventude, fazer com que ela se alie ao mundo do trabalho e a todos os setores até então oprimidos é fundamental. Estão nas forças sadias, detentoras de mecanismos precisos de clivagem, as chances que temos de evitar a perda de uma oportunidade única que a história está oferecendo. É preciso dar continuidade ao “suplício do Papai Noel". Mantê-lo no lado direito do espectro político. Que o povo brasileiro tenha um Feliz 2010!

(**) “O Suplício do Papai Noel” é um brilhante ensaio antropológico de Claude Lévi-Strauss, publicado no Brasil pela Editora Cosac Naify

*Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Jornal do Brasil
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terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Contraponto 1067 - Arruda na garoa

Contraponto 1066 - "Quais os acontecimentos mais importantes de 2009? E da primeira década do século XXI?"


29/12/2009

"Quais os acontecimentos mais importantes de 2009?
E da primeira década do século XXI?"


Emir Sader* Carta Maior 29/12/2009

Mais além das visões impressionistas e deformadas da grande mídia, que se aproveita do recesso do noticiário nesta época do ano para supostamente fazer grandes balanços, é necessário tentar captar, para além das árvores, as grandes transformações do ano que termina e desta primeira década do novo século e milênio.

Na década, certamente a reação norteamericana aos atentados de 2001, que orientaram a política do governo Bush, com suas guerras infinitas, que levaram, entre outras conseqüências, à invasão do Afeganistão e do Iraque, foi um dos elementos de maior peso. A militarização dos conflitos, buscando soluções bélicas aos conflitos foi a linha predominante da potência que mais influência tem no mundo contemporâneo.

A confirmação da impressionante ascensão da economia chinesa, a força das potências intermediárias ascendentes, entre elas o Brasil e a Índia, ajudaram a mudar o cenário internacional.

Neste ano, a crise do capitalismo internacional certamente foi o elemento dominante. Deflagrada no ano passado, estendeu seus efeitos por todo este ano. A maior novidade é que países do sul do mundo – a começar pela China, que nem sequer entrou em crise – saíram da crise, sem que os países do centro do capitalismo tivessem superado sua recessão. Já há uma dinâmica econômica multilateral do sul do mundo, que possibilita esse fenômeno novo na história.

A multiplicação simultânea de governos progressistas na América Latina foi outro fenômeno típico desta década, em contraposição à predominância absoluta do neoliberalismo na década anterior. (Fenômenos que analiso no meu livro “A nova toupeira – Os caminhos da esquerda latinoamericana”, publicado este ano pela Boitempo.)

Muitos outros fenômenos e fatos podem ser mencionados, tanto no ano que terminam, quanto nesta primeira década do século XXI – um século que se anuncia como de profunda crise hegemônica, de disputa hegemônica, com a decadência mas persistência da dominação norteamericana, mas com o surgimento de novas forças, que apontam para um mundo multipolar.

A década e o ano confirmam que a história está aberta, seus horizontes futuros dependerão da luta econômica, social, política e cultural, protagonizada pelo velho mundo, esgotado e decadente, e o mundo novo, que apenas começa a esboçar sua fisionomia.

Discutamos o que foi mais marcante em 2009 e na década que se termina. E suas projeções para a segunda década do século XXI.

*Emir Sader é sociólogo e cientista político.
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Contraponto 1065 - Lula na COP 15 e o PIG

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29/12/2009
O papel decisivo de Lula em Copenhague. E o crime do PiG (*)

O “lince”, segundo o El País, agora joga no time dos Cinco

Paulo Henrique Amorim
-28/dezembro/2009 9:39

Obama chegou a Copenhague decidido a pressionar a China a aceitar um controle externo sobre emissões de gás carbônico.

Por isso, sua primeira reunião bilateral foi com o primeiro ministro chinês Wen Jiabao.

Em pouco tempo, presidente americano percebeu que o chinês não cederia em nada.


Obama saiu da reunião tão indignado, que pediu outra entrevista bilateral com Wen e disse aos assessores que, daí em diante, só falaria com Wen cara a cara.

Ao mesmo tempo, os Estados Unidos tentavam organizar uma reunião com Lula, Manmohan Singh (da Índia) e Jacob Zuna, da África do Sul.

Nessa altura, a confusão era monumental.

Ninguém sabia quem estava onde, e que delegação permanecia em Copenhague.

Uma reunião de Obama com Wen foi agendada para às sete da noite.

Quando Obama saiu de um encontro com líderes europeus, e foi em busca de Wen, lhe informaram que a sala prevista já estava ocupada.

E na sala estavam Wen, Lula, Singh e Zuma.

Obama abriu a porta, entrou e perguntou a Wen, em voz alta – essa parte foi gravada por emissoras de televisão: “Você está pronto para a nossa conversa ?”

E entrou.

Não havia sequer cadeira para o presidente americano. Obama disse que não tinha problema.

Ele se sentaria ao lado do amigo Lula.

E Lula lhe cedeu a cadeira de um dos assessores.

Na verdade, arrumou duas cadeiras, porque Obama veio com Hillary.

Obama decidiu que essa era a oportunidade para falar com todos de uma vez só.

E sua ousadia acabou por lhe ajudar.

Obama anunciou que se eles cinco não fechassem um acordo ali, na hora, ele, Obama, faria um acordo em separado com os europeus.

Não se sabe o que passou a acontecer na reunião.

Mas, daquela reunião saiu o único acordo que hoje se pode celebrar.



Lula não é apenas um lince da política.

Quando ele percebeu que a reunião tinha entrado em ponto morto, pronunciou um ovacionado discurso e, pela primeira vez, para surpresa de seus próprios assessores, anunciou que o Brasil estava disposto a contribuir para um fundo verde global.

Lula sabia que, com isso, deixava Obama com um perfil baixo.

Uma vez mais, Lula soube jogar suas cartas com astúcia e sem estridência.

Não é à toa que Obama disse que ele é “o homem do momento”.

Em seu discurso, Lula disse que o Brasil não aceitaria que as figuras mais importantes do planeta assinassem um documento qualquer só para decidir que nós outros também o assinamos.

Disse que, como crê em Deus e em milagres, “se se produz o milagre, quero fazer parte dele”.

(El País, página 40, domingo, 20 de dezembro de 2009)


Obama se fechou por cinquenta e cinco minutos com Wen.

A Casa Branca anunciou que haveria um segundo encontro.

Na hora marcada para esse segundo encontro, Obama constatou que Lula, o primeiro ministro da Índia Singh, e o presidente sul-africano Zuma estavam já reunidos com Wen.

E estes cinco lideres negociaram o acordo de três paginas que foi apresentado à sessão final.



O que aconteceu em Copenhague ?

A Europa defendeu objetivos ambiciosos que ela não pode e não soube compartilhar com os outros países.

A Europa foi marginalizada por uma coalizão que testemunha a divisão do poder político no mundo de hoje: os Estados Unidos, a China, a Índia, o Brasil e a África do Sul.

(Le Monde, paginas 6 e 2, domingo, 20 de dezembro de 2009)



De volta ao Brasil, me contam que o PiG (*) menosprezou o papel decisivo de Lula em Copenhague.

Criou uma falsa gafe de Dilma.

Deu destaque ao não-evento, que foi o memorável encontro do Zé Alagão com o Berlusconi da Califórnia, Arnold Schwarzenegger.

( “o que Zé Alagão foi fazer com o Schwarzenegger” ))

E disse que Copenhague foi um fracasso.

(Clique aqui para ler ““O meio ambiente é um assunto muito sério para ficar com a Marina e Miriam”)

Esses foram alguns dos pequenos crimes que o PiG (*) cometeu ultimamente.

Na categoria “grandes crimes” se inclui mentir.

Paulo Henrique Amorim

Em tempo: amigo navegante, imagine quantos dedos da mão daria o Farol de Alexandria para participar dessa reunião dos cinco grandes. E, amigo navegante, sabe por que ele vai entrar para a História sem ter participado de uma reunião dessas ? Porque a política externa dele era a “Política da Dependência”.
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Contraponto 1064 - A viga voadora

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29/12/2010


Orgão do governo José Serra, com empregados do José Serra, concluem que, a culpa foi da viga que voou


Em laudo a ser divulgado hoje, o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) conclui que um erro de execução na obra do Rodoanel tocada pelas empreiteiras OAS, Mendes Jr. e Carioca Engenharia provocou a queda de três vigas do trecho sul do Rodoanel, em Embu, no dia 13 de novembro. O acidente deixou três pessoas feridas, além de destruir dois carros e um caminhão. Segundo o IPT, vinculado à Secretaria de Desenvolvimento do Estado de São Paulo,(O IPT é um orgão do governador José Serra. Os técnicos, são empregados do governador José Serra). alegou que não houve falha de projeto.


O governador de São Paulo, José Serra (PSDB). decidiu contratar seus empregados do IPT para participar de todas as provas de carga nas obras de arte (itens como pontes e viadutos, no jargão da construção civil) prontas no trecho sul do Rodoanel....Advinhe se o governador será responsabilizado por algum erro da obra?

Esse é o instituto do Serra...

Em São Paulo, o diretor do IC (Instituto de Criminalística que está investigando a queda da viga do Rodoanel do Serra) foi acusado de vender gabaritos de prova para seleção de peritos, além de incluir nomes de reprovados na lista dos que passaram no concurso. Os peritos criminais são policiais qualificados, responsáveis por investigar crimes e ajudar nos processos judiciais. A competência de seus laudos pode agora vir a ser questionada. Leia aqui
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Contraponto 1063 - Lula ajudou a moldar a década

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29/12/2009
As pessoas que moldadam a década

Nassif - 29/12/2009 - 08:09

Por Vander Fagundes

Nassif, o Financial Times de ontem publicou uma matéria intitulada “As 50 pessoas que moldaram a década”. O presidente Lula é uma dessas 50 pessoas.

FT: http://www.ft.com/cms/s/0/32e550e8-efd4-11de-833d-00144feab49a.html?nclick_check=1

BBC Brasil: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/12/091229_ftdecadaml.shtml
Da BBC Brasil
Lula é uma das 50 pessoas que moldaram a década, diz ‘FT’

Luiz Inácio Lula da Silva

Lula combina ‘charme e habilidade política’, segundo jornal

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi escolhido pelo jornal britânico Financial Times como uma das 50 personalidades que moldaram a última década.

Segundo o diário, Lula entrou na lista porque “é o líder mais popular da história do Brasil”.

“Charme e habilidade política sem dúvida contribuem (para sua popularidade), assim como a baixa inflação e programas de transferência de renda baratos, mas eficientes”, diz o jornal.

“Muitos, inclusive o FMI, esperam que o Brasil se torne a quinta maior economia do mundo até 2020, trazendo uma mudança duradoura na ordem mundial.”

Vilões

Ainda no campo da política, o FT também destaca como as personalidades mais influentes da década o presidente do Irã, Mahmoud Ahamadinejad; o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama; a chanceler alemã Angela Merkel; o ex-presidente e atual primeiro-ministro da Rússia, Vladimir Putin; e o presidente da China, Hu Jintao.

O jornal selecionou também o que chamou de “alguns vilões” que acabaram por determinar o curso da história destes últimos dez anos, como o líder da rede Al-Qaeda, Osama Bin Laden, e o ex-presidente americano George W. Bush.

A lista do FT também inclui personalidades das áreas de negócios, economia e cultura. Muitas delas refletem o crescimento e o fortalecimento da internet e das novas tecnologias, como os empresários Jeff Bezos, da loja virtual Amazon; Meg Whitman, do eBay; Larry Page e Sergey Brin, do Google; Jack Dorsey, Biz Stone e Evan Williams, do Twitter; Mark Zuckerberg, do Facebook; e Steve Jobs, da Apple.

Outras figuras foram eleitas pelo jornal britânico pelo mérito pessoal de terem se tornado ícones mundiais em suas áreas, como a escritora JK Rowling, autora dos livros do personagem Harry Potter; o jogador de golfe Tiger Woods; a apresentadora americana Oprah Winfrey; o diretor japonês de desenhos animados Hayao Miyazaki; o produtor de TV John De Mol, criador da fórmula do Big Brother; e os astros da música Beyoncé e Jay-Z.

“Listas como estas são subjetivas e, de certa maneira, arbitrárias, mas tentamos capturar indivíduos que tiveram um grande impacto no mundo ou em sua região – para o bem ou para o mal”, explicou o jornal.
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Contraponto 1062 - Lula e 2010


29/12/2010

Lula prevê situação confortável para economia brasileira em 2010

Vermelho - 28 de Dezembro de 2009 - 12h29

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva previu para o último ano de seus dois mandatos uma situação econômica confortável, mas não quis arriscar um índice de crescimento. Citou, no entanto, previsões de analistas que variam entre 5% e 6% cento de avanço da economia em 2010. "Eu penso que nós vamos entrar em 2010 numa situação confortável", afirmou Lula no programa de rádio "Café com o Presidente", veiculado todas as segundas-feiras.
Além de fatores internos como investimentos em programas como o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e o Minha Casa, Minha Vida, a previsão se deve ao bom desempenho esperado para a economia mundial no ano que vem, que vai possibilitar que haja um crescimento das exportações brasileiras, segundo o presidente.

"Eu acho que a economia do mundo começa a se recuperar, mesmo que lentamente, e isso vai possibilitar que haja um crescimento das exportações brasileiras... Eu penso que isso vai fazer que 2010 seja um ano altamente positivo para o Brasil. Tem gente que fala que a economia vai crescer 6%, tem gente, que vai crescer 5%, tem gente que fala que vai crescer 5,5%, eu não quero dizer nenhum número", afirmou.

Mesmo sem arriscar estimativas de crescimento, Lula garantiu que ela irá aumentar o suficiente para gerar empregos, aumentar os salários, melhorar a vida da população e para que os "empresários ganhem mais dinheiro" no sentido de que a "roda gigante da economia" continue girando.

O mais recente relatório Focus, divulgado pelo Banco Central, projetou uma queda do PIB (Produto Interno Bruto) em 2009 de 0,22%. O prognóstico para 2010 aponta crescimento de 5,08%.

Ele voltou a afirmar que o impacto da crise financeira global em 2009 foi menos intenso no Brasil do que nos países desenvolvidos. "A crise chegou por último aqui e terminou primeiro", disse, diagnosticando 2009, do ponto de vista econômico, como "mais do que bom".

"Nós estamos trabalhando com a certeza absoluta que 2009 foi um ano em que o Brasil mostrou competência, mostrou firmeza, ousadia e mostrou que a gente tem uma preparação macroeconômica vigorosa e que portanto nós preparamos o Brasil bem para 2010", disse.

Lula admitiu que o Brasil teve um "problema" no último trimestre de 2008 por conta da crise financeira global "muito mais por pânico, muito mais por medo, houve uma brecada muito forte na economia, desnecessária na minha opinião", em nova crítica à postura dos empresários naquele momento.

Se dizendo mais otimista que qualquer brasileiro, o presidente Lula disse que "o Brasil não vai parar mais, o Brasil daqui pra frente vai continuar crescendo, porque nós queremos nos próximos anos nos transformar quem sabe na sexta, na quinta, na quarta economia do mundo."

Fonte: Folha Online
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Contraponto 1061 - "Chávez: Honduras foi um ensaio"


29/12/2009

Chávez: Honduras foi um ensaio


Viomundo - Atualizado e Publicado em 28 de dezembro de 2009 às 09:24

O império continuará ameaçando o processo emancipador da América Latina em 2010

Caracas (Agencia Bolivariana de Informações) - O presidente da República, Hugo Chávez, disse que o ano de 2010 "não será um ano fácil: os agentes da reação internacional preparam seu roteiro para reverter o processo emancipador que vive Nossa América".

Em suas Linhas de Chávez, publicadas neste domindo, o mandatário nacional fez referência à ameaça imperial contra a Venezuela desde a Colômbia. "A Colômbia irmã foi convertida na Israel da América do Sul". Isso em relação às sete bases militares que o império norte-americano instalou em território colombiano.

Por outro lado, o chefe de Estado reiterou que a ditadura militar hondurenha continua no poder. "A reação, em todos nossos países, conta agora com um modelo de golpe de Estado para o século 21: golpes com fachada legal que levam o selo de feito nos Estados Unidos".

Ainda assim, disse: "Não há que se enganar: acabou a ilusão Obama e o descarado intervencionismo do novo governo gringo o demonstra. Preparemos, então, para defender nossa soberania em todos os terrenos".

Tradução parcial
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segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Contraponto 1060 - "Um ano do massacre de Gaza"


28/12/2009

Um ano do massacre de Gaza
Carta Maior - 28/12/2009

Emir Sader*

Há um ano, Israel começava um dos mais bárbaros massacres contemporâneos. Ingressou, com todo seu poder de fogo, em uma região já cercada, que não dava possibilidade de fuga à sua população. O Exército que, há décadas, mais recursos recebe da maior potência bélica da história da humanidade, os EUA, descarregava todo seu poderio sobre uma população indefesa, acusada de colocar em risco, com pífios foguetes domésticos (a tal ponto, que Israel não conseguiu descobrir nenhuma das supostas bases de lançamento, nem lugares de sua fabricação) que não tinham provocado nenhuma vitima no seu território. Israel utilizou inclusive armas proibidas, como fósforo branco, sobre a população palestina, encerrada na área mais densamente povoada do mundo.

Os ataques, que não encontraram nenhuma resistência militar, apenas moral, duraram 22 dias, chegando a provocar 225 mortos em um único dia. 1450 palestinos morreram, dos quais 439 menores de 16 anos e 127 mulheres. 4100 edifícios foram destruídos e outros 1 mil foram danificados. A missão de investigação da Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas caracterizou os ataques como “crimes de guerra” e “crimes contra a humanidade”.

Foram destruídas milhares de casas, comércios, além de plantações, hospitais, escolas, universidades, clínicas – tudo que os tanques israelenses encontravam pela frente. Gaza se transformou numa terra arrasada. Quem a visitou depois daqueles terríveis 22 dias, relata que nada tinha ficado de pé, como conseqüência da orientação do Exército israelense, de que “ninguém é inocente em Gaza”.

Um ano depois da agressão, os corredores de entrada para Gaza continuam fechados, nada foi reconstruído, caminhões com alimentos e remédios apodrecem no deserto, às portas de Gaza, enquanto todo tipo de doença afeta a população, indefesa, diante do brutal cerco israelense e a impotência cúmplice da comunidade internacional. Dos 4 bilhões, 481 milhões de dólares arrecadados por mais de 70 países em conferência realizada em março no Egito, para a reconstrução, nada chegou a Gaza, fazendo com que a paisagem seja a mesma – ou pior, sobretudo pelas doenças – de quando os israelenses, impotentes para derrotar a resistência civil dos palestinos, se retiraram de Gaza.

O Egito colabora com esse cerco criminoso, ao deixar fechado o corredor a que tem acesso e ao construir agora um muro que tenta impedir a precária circulação por túneis clandestinos, por onde os palestinos fazem chegar os alimentos mínimos para impedir que morra de fome a população de Gaza. O relator especial da ONU para os territórios palestinos, Richard Falk, conclamou a que todos os países do mundo coloquem em prática sanções econômicas e de outra ordem contra Israel, pelas responsabilidades deste país no massacre e no cerco que mantêm contra Gaza.

Os 700 mil habitantes de Gaza desapareceram dos noticiários internacionais, assim que as tropas israelenses se retiraram. O governo de Israel busca desviar a atenção sobre a ocupação dos territórios palestinos e o cerco a Gaza, aumentando ainda mais a instalação de assentamentos judeus em pleno coração das cidades e dos campos da Cisjordânia, de onde saem regularmente jovens judeus, protegidos por tropas israelenses, para atacar casas, comércios, queimar plantações centenárias de azeitonas das indefesas famílias palestinas.

Israel se tornou um país odioso, racista, agente de um novo holocausto – segundo as palavras do próprio Jimmy Carter -, acobertado e armado pela maior potência militar da história, os EUA, que promove a guerra e pretende ser agente de negociações de paz. Nem sequer consegue deter a instalação de novos assentamentos – se é que pretende detê-los. Israel, um país que detêm, confessadamente, armamentos nucleares, ocupa territórios de outro país, impedindo que ele exerça os mesmos direitos que Israel goza, por resoluções das próprias Nações Unidas, tornando-se um Estado pária da legalidade internacional.

A posição do governo brasileiro de que somente incorporando outros governos – não comprometidos com os genocídios cometidos por Israel, que na semana passada assassinou mais 6 palestinos e continua suas detenções arbitrárias, como a de Jamal Juma, dirigente do movimento Stop the Wall – é que o processo de paz pode abrir horizontes reais de cumprimento das decisões da ONU, que garante a Palestina os mesmos direitos que os israelenses gozam há mais de 60 anos – o direito de ter um Estado palestino, soberano, com fronteiras delimitadas, com direito de regresso dos imigrantes, é a posição correta, que deve ser apoiada e incentivada por todos os desejam um mundo de paz, solidariedade e fraternidade e não o mundo das “guerras infinitas” de Bush, que Israel continua a colocar em prática, um ano depois do massacre de Gaza, contra os palestinos.

*Emir Sader , sociólogo e cientísta político
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Contraponto 1059 - "O risco de um golpe hondurenho no Paraguai"


28/12/2009

"O risco de um golpe hondurenho no Paraguai"

Vermelho - 27/12/2009
Em uma entrevista à rádio Nacional, de Buenos Aires, o senador paraguaio Alfredo Luís Jaeggli, do Partido Liberal, defende abertamente a abertura de um processo político para o afastamento do presidente Fernando Lugo. O crime de Lugo seria a oposição que ele representaria para a adoção de "reformas liberais modernizantes" no país.
Indagado sobre a possibilidade de um processo golpista semelhante ao que ocorreu em Honduras, o senador Jaeggli defende os golpistas hondurenhos e o modelo implantado no Chile durante a ditadura Pinochet e também as reformas privatizantes na Argentina (Menem) e no Brasil (FHC).

No dia 17 de dezembro deste ano, o senador liberal Alfredo Luís Jaeggli, que defende o julgamento político e o afastamento do presidente do Paraguai, Fernando Lugo, concedeu uma entrevista ao programa Carbono 14, da rádio Nacional, de Buenos Aires. Na entrevista, conduzida pelos jornalistas Pedro Brieger (PB), Eduardo Anguita (EA) e Miriam Lewin (ML), o senador fala abertamente da vontade da oposição de afastar o presidente Lugo do cargo em 2010.

Indagado sobre a possibilidade de um processo golpista semelhante ao que ocorreu em Honduras, o senador Jaeggli defende os golpistas hondurenhos e diz que Lugo estaria “atrapalhando as reformas modernizantes” no país. E cita como exemplos o modelo implantado no Chile durante a ditadura de Augusto Pinochet e também as reformas privatizantes aplicadas por Menem na Argentina.

As declarações do senador paraguaio indicam que está em curso uma articulação da direita na América Latina para recuperar o terreno perdido. O primeiro movimento ocorreu em Honduras. O Paraguai, agora, é o próximo alvo, contando ainda com a possibilidade de uma vitória eleitoral da direita chilena. Reproduzimos o conteúdo da entrevista, onde o senador defende abertamente a deposição de Fernando Lugo:


PB: Comentávamos no início do programa que há uma situação complicada no Paraguai. Então para entender um pouco melhor o que está ocorrendo decidimos entrevista o senador liberal Alfredo Luís Jaeggli, presidente da Comissão de Fazenda e da comissão bicameral de Orçamento. Como vai senador, estamos saudando-o desde os estúdios da rádio Nacional, Pedro Brieger, Eduardo Anguita e Miriam Lewin.
ALJ: Boa tarde. Como estão os irmãos argentinos? Sou Alfredo Luis Jaeggli, senador liberal presidente da comissão de Fazenda e da bicameral de Orçamento.

PB: Senador, nos explique um pouco o que está ocorrendo no Paraguai. Por que está se falando muito de um possível julgamento político do presidente Lugo. Do que se trata?
ALJ: Olhe, eu não posso comprometer os votos de um coletivo, mas está se falando realmente de um possível julgamento político. Para além dos problemas que estamos tendo na parte econômica e especialmente na instabilidade criminal, está se falando realmente de um julgamento político. Todavia, isso não está sendo discutido formalmente no Partido Liberal. Digo todavia porque há um grupo de senadores, inclusive eu mesmo, que realmente estão dispostos a dar continuidade ao processo de julgamento político. Já que não estão sendo cumpridas as promessas e as mudanças que o Partido Liberal se comprometeu a fazer, então realmente está ocorrendo uma espécie de divisão em meu próprio partido sobre o julgamento político do presidente Lugo. Neste caso, assumiria o vice-presidente Federico Franco.

PB: Senador, desde o momento em que o parlamento inicia um processo de julgamento político, assume o vice-presidente? Quais são os passos jurídicos para levar isso adiante?
ALJ: Uma acusação da Câmara de Deputados; depois tem que passar pelos senadores. São necessários 30 votos, somos 45, e assim prossegue o julgamento político. Claro que é uma instabilidade, é uma comoção, mas...

EA: Na época de Stroessner se vivia melhor no Paraguai?
ALJ: Não, não, não. Sob nenhum ponto de vista.

EA: Então, por que a necessidade de forçar uma situação para impedir que um presidente termine seu mandato?
ALJ: Olhe, o Paraguai é o único país, junto com Haiti e Cuba, que não fez uma reforma modernizadora. Vocês tiveram sua modernização, vocês sabem, com o governo de Menem, sabem a que me refiro. O Brasil teve também. O Uruguai também. A Bolívia também, mas desgraçadamente teve uma involução. Já o Paraguai permanece como nos anos 50. As instituições estão totalmente obsoletas. Necessitamos de reformas modernas e este é um dos problemas que apresenta o presidente Lugo...

ML: Perdão. O que o senhor qualifica de “reformas modernas”?
ALJ: Muito bem. Vou explicar rapidamente. Você sabe muito bem que o Estado paraguaio ainda é produtor de cana? Você acha que um Estado pode produzir cana? Você sabe o que é a cana, não? Bom, o Estado ainda tem uma fábrica de cana que tem prejuízo. Isso pode ser um Estado moderno?

PB: E o presidente Lugo é um obstáculo para esta modernização?
ALJ: Sim, sim, sim, assim como estou te dizendo...

PB: Então o melhor é afastá-lo e colocar no lugar dele o vice-presidente Franco, que poderia impulsionar a modernização?
ALJ: Pelo menos é isso que eu penso e a idéia de muitos outros. Nós não podemos andar para trás, nós temos que impulsionar uma revolução. Nós tivemos 60 anos de ditadura, de castigo, de vandalismo. Nós temos que democratizar, tornar esse país atraente para investidores externos...

EA: Ah, para que cheguem os investimentos externos, afastariam Lugo de modo a garantir o que chamam de “segurança jurídica”...
ALJ: Não somente externos. Se eles vierem serão fantásticos, formidáveis, mas temos também os internos. Sabe-se que há um monte de dinheiro, mas com a insegurança jurídica e política que temos, ninguém vai investir seu dinheiro...

EA: Algo similar ao que ocorreu em Honduras: afastar Zelaya para o capital se sentir mais seguro para investir...?
ALJ: Olhe, eu também tenho minhas idéias que são diferentes das de vocês a respeito do que aconteceu em Honduras. Eu sou parte da Fundação Liberdade, e essa fundação é parte da Fundação Naumann. O presidente hondurenho assumiu a presidência com um modelo liberal e logo o traiu indo para o caminho do socialismo do século XXI. Desculpem-me, mas, para mim, o que ocorreu em Honduras foi totalmente legal.

EA: Totalmente legal?
ALJ: Totalmente legal, do meu ponto de vista.

PB: Por isso poderia ser feito algo similar no caso paraguaio, como o senhor assinala. Também seria legal um julgamento político que assumisse o vice-presidente Franco. Não estamos falando de ruptura da Constituição em nenhum momento?
ALJ: Em nenhum momento, sob nenhum ponto de vista. Aqui o julgamento político é constitucional, está totalmente regulamentado e é decidido pelos votos...

ML: Quais seriam os delitos? Qual seria o descumprimento de dever cometido pelo presidente Lugo no seu ponto de vista? Porque, até o momento, o que você apontou é que ele representa um obstáculo para aplicação das políticas neoliberais que você apóia. Mas em nenhum momento assinalou quais são as justificativas para embasar um julgamento político...
ALJ: Você sabe o que é um julgamento político? Sabe qual é a diferença entre um julgamento político e um jurídico. No jurídico, alguém tem que ser um delinqüente, um homicida, tem que ser pego em flagrante. Já um julgamento político envolve 30 senadores e 43 deputados que dizem que isso já não anda mais, que já não funciona. É assim. Desculpe-me...

ML: Mas tem que haver uma razão. Você poderia enunciar quais são as razões?
ALJ: A primeira razão é que este pobre país não tem nenhuma mudança e com este senhor possivelmente vamos andar para trás ao invés de termos uma revolução. O que este senhor quer é liquidar os partidos e dar o poder para as organizações sociais. O que ele quer é apresentar como uma panacéia o socialismo do século XXI e para a grande maioria na Câmara dos Deputados e na Câmara dos Senadores, das quais somos representantes eleitos, isso não é assim. Nós temos que fazer o contrário de tudo isso.

Nós não estamos gostando do que está ocorrendo na Bolívia, na Venezuela e tampouco na Argentina, vamos ser honestos. Um pouco menos na Nicarágua, segundo nos parece. Podemos estar equivocados, mas os índices econômicos da Bolívia e da Venezuela estão muito pior do que antes. Então o que queremos é evitar isso, porque aqui a pobreza é extrema, temos que fazer esse país avançar. Temos que conseguir que haja indústrias, investimentos, crescimento econômico, democratizar, abrir o país, e este senhor quer exatamente o contrário...

ML: Em que países da América Latina esses planos de orientação liberal diminuíram a pobreza?
ALJ: No Chile. Que lhe parece? Não está de acordo comigo? Ou você acredita que foram os socialistas no Chile que fizeram a economia crescer. Eles não mudaram sequer a legislação trabalhista chilena. Essa legislação ainda é a de Pinochet. O que acha disso?

ML: Você acha isso positivo?
ALJ: O que acha? O Chile é o exemplo de progresso. Porque há menos pobres, as pessoas trabalham, há satisfação, há democracia...

ML: Me chama a atenção, senador, que você não mencionou a conduta pessoal do presidente Lugo e sabe que eu faço essa pergunta porque sou mulher...
ALJ: Olhe, honestamente lhe digo que sou muito prático e muito sincero. Se Lugo tivesse tido a conduta moral que teve, mas tivesse feito as reformas que foram feitas no Chile, não veria problemas. Simples assim.

ML: Ah! Não tenho mais perguntas. Muito obrigado.

PB: Estivemos falando com o senador Alfredo Luis Jaeggli, senador liberal presidente da comissão da Fazenda e da comissão bicameral do Orçamento que, de alguma forma, ratifica os rumores que estão circulando sobre um processo de julgamento político contra o presidente Fernando Lugo e sua destituição em moldes similares ao que ocorreu em Honduras. Estão pensando em um golpe de Estado que não seja encabeçado pelos militares, mas sim pelos próprios parlamentares. A idéia é dar um verniz de constitucionalidade a esse processo para depois discutir se é ou não legal. Mas, no longo prazo, tomando o exemplo de Honduras, o golpe se mantém e o presidente destituído não pode voltar ao poder.

Fonte: Pátria Latina
Tradução: Katarina Peixoto
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Contraponto 1058 - "Fracassa o projeto americano para 'invasão cultural' de Cuba"


28/12/2009
"Fracassa o projeto americano para 'invasão cultural' de Cuba"

Vermelho - 27 de Dezembro de 2009 - 18h40

Nos últimos 12 anos, o governo dos Estados Unidos gastaram cem milhões de dólares num programa que eles chamam de "promoção da democracia em Cuba", mas que na verdade trata-se de uma tentativa de influenciar ideologicamente os jovens cubanos através de uma espécie de "invasão cultural" tecnológica, que não trouxe qualquer benefício para o imperialismo estadunidense.
O jornal Washington Post revelou um relatório de 2006 do governo norte-americano, intitulado "A assistência para a democracia em Cuba necessita de melhor gestão", no qual mostra que a "supervisão revela erros alucinantes e fraudes no programa". O orçamento do programa subiu de cerca de US$ 3,5 milhões em 2000 para US$ 45 milhões em 2008 sob o presidente George W. Bush, que fez dos ataques político-culturais a Cuba uma prioridade.

O governo Obama continuou a apoiar o programa, que recebeu US $ 20 milhões em 2009 e 2010. Em um discurso na semana passada, Fidel Castro acusou o governo de Obama de aumentar o apoio à "subversão aberta e dissimulada".

Entre os problemas detectados no programa, destaque para a compra injustificada de "jogos de computador (incluindo Gameboys da Nintendo e Playstations da Sony), uma bicicleta de montanha, casacos de pele, camisolas de caxemira, carne de caranguejo e chocolates Godiva".

O objetivo do programa, que só para o biênio 2009-2010 recebeu 20 milhões de dólares, é supostamente "ajudar os cubanos a romper o bloqueio informativo" a que estariam submetidos. Para isso, Washington introduz na ilha aparelhos de DVD, telemóveis e ligações à Internet, para incentivar o "intercâmbio de ideias dos cubanos com o resto do mundo". Suspeita-se que parte desta verba também financie jornalistas dissidentes como a blogueira Yoani Sánchez, que dedicam seus textos a atacar o governo e o socialismo cubanos.

O tema voltou a estar na ordem do dia, depois de Cuba ter detido um trabalhador de uma empresa norte-americana que realizava tarefas de "promoção da democracia", leia-se espionagem e sabotagem, para o Departamento de Estado. O indivíduo, cujo nome não foi revelado, trabalhava numa rede de ligações para a Internet.

Contraponto 1057 - "Coimbra: A popularidade de Lula"


28/12/2009
"Coimbra: A popularidade de Lula"


Viomundo - Atualizado e Publicado em 27 de dezembro de 2009 às 21:44

por Marcos Coimbra

Correio Braziliense - 27/12/2009

Se Dilma ganhar, algo que hoje parece muito possível, teremos criado, em Lula, uma figura que nossa imaginação política não conhecia e que nossa cultura não está preparada para absorver: um líder inconteste, legitimado por um apoio popular quase unânime

Como fizemos no final do ano passado, a coluna de hoje e as próximas duas são dedicadas a um balanço do ano político que termina. Nelas, vamos discutir três assuntos que poderiam ser considerados os mais importantes de 2009.

Em um repeteco de 2008, o primeiro e o que mais impacto teve na nossa vida política este ano voltou a ser o tamanho da popularidade de Lula. Ela chega, neste dezembro, a novos níveis históricos e influenciou de maneira decisiva o segundo tema de que trataremos, a maratona eleitoral em direção a 2010, uma corrida tão longa que ameaça deixar esgotados candidatos e eleitores.

Lula tem hoje uma popularidade que não conhecíamos em nossa experiência democrática. Sobre os presidentes da República de 1945, quase não há dados comparáveis, mas toda a evidência, baseada em outras fontes, diz que não. Quem consultar a imprensa do período, quem ler seus intérpretes, quem tiver memória própria, saberá que nenhum deles gozou da unanimidade com que conta o atual. Fora o fato de todos, com a possível exceção de Dutra, terem enfrentado crises agudas onde seus mandatos foram questionados, através de golpes, ameaças de golpe e sublevações diversas, de origem civil ou militar.

Da redemocratização em diante, o mesmo. Sarney, Collor, Itamar e Fernando Henrique, cada um à sua maneira, tiveram seus auges de aprovação. No governo Sarney, ele foi alcançado dois anos depois da posse e durou alguns meses, na breve vida do Plano Cruzado. Quando o plano acabou de maneira decepcionante, Sarney nunca mais se recuperou.

O de Collor foi o mais engraçado, pois aconteceu antes que chegasse ao governo. No intervalo entre a vitória em dezembro de 1989 e a posse em março de 1990, as pesquisas mostraram que eram elevadíssimas as expectativas sobre seu desempenho e a avaliação positiva quase universal. Do discurso de posse ao final antecipado do governo, no entanto, os números só foram ladeira abaixo.

Itamar experimentou algo parecido, mas terminou de maneira diferente. Quando assumiu, em meio à crise do impeachment, toda sociedade torcia por ele e lhe tinha apreço. Mas seu governo teve uma aprovação sempre declinante, até ser recuperado pelo Plano Real. Se Sarney começou baixo (pela frustração com a morte de Tancredo e a desconfiança que contra ele existia), subiu (com o Cruzado) e terminou mais baixo ainda, Itamar fez o percurso inverso: de alto a baixo e depois a alto de novo.

Sobre a avaliação de Fernando Henrique, o que mais chama a atenção, atualmente, é quão mal ela resistiu à passagem do tempo. Ao contrário dos bons vinhos, quanto mais tempo passa, pior fica. Os elementos que fizeram com que ela fosse elevada, há poucos anos, como que sumiram. As realizações de seu governo, decisivas para que o país estivesse hoje melhor, ficaram secundárias, frente à antipatia com que é visto pela maioria das pessoas.

E Lula? Não só sua avaliação média, nos últimos dois anos, ganha de goleada da que todos tiveram, quanto os ultrapassa nos seus picos de popularidade. Ou seja, o Lula do dia a dia é mais bem avaliado que o Sarney do Cruzado, o Collor de antes da posse, o Itamar do dia da posse, o FHC do Plano Real.

Deixando de lado as explicações que têm sido aduzidas para esse fenômeno, de uma coisa podemos estar certos: a campanha eleitoral de 2010 só vai fazer com que Lula fique maior. Do lado de Dilma, sua figura será enaltecida a ponto de se confundir com os arcanjos e os querubins. Sua campanha dirá que a obra de Lula é extraordinária, para justificar sua proposta de apenas mantê-la. Do lado de Serra, ele mesmo tem afirmado que pretende polemizar é com Dilma, pois quer tudo, menos se defrontar com o presidente.

Se Dilma ganhar, algo que hoje parece muito possível, teremos criado, em Lula, uma figura que nossa imaginação política não conhecia e que nossa cultura não está preparada para absorver: um líder inconteste, legitimado por um apoio popular quase unânime. Querendo, voltaria à Presidência quantas vezes pudesse.

O perigo é que, nesse ponto, só sua convicção democrática nos separaria de outra aventura autoritária. Ainda bem que a tem.

MARCOS COIMBRA é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
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